Protestos contra extrema direita reúnem 500 mil pessoas na Alemanha

Milhares de manifestantes voltaram às ruas da Alemanha neste fim de semana para protestar contra a ascensão da extrema direita e a conivência da União Democrata-Cristã (CDU) com o partido ultranacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD). Ao todo, 500 mil pessoas participaram dos atos em cidades como Berlim, Hamburgo, Leipzig, Colônia e Stuttgart.

O maior protesto ocorreu em Munique, onde 320 mil pessoas tomaram as ruas, um número muito superior às 75 mil inicialmente esperadas. O número correponde a 15% da população da Baviera, região onde a cidade está situada. Na capital Berlim, 160 mil participaram das manifestações no domingo (2), segundo a polícia local. Em Hamburgo, 180 mil pessoas se manifestaram.

De acordo com um levantamento feito pela Taz, desde o início de 2025 entre 1,4 milhão e 1,9 milhão de alemães se manifestaram nas ruas contra a ascensão da AfD. Os atos foram organizados por sindicatos, movimentos sociais, partidos de esquerda e entidades judaicas, todos unidos pelo lema “Wir sind die Brandmauer!” (“Nós somos a barreira de fogo!”), referência à necessidade de isolar a extrema direita no cenário político.

Foram vistos cartazes como “Faltam cinco minutos para 1933” e “Merz, escute a Mutti”, em referência à ex-chanceler Angela Merkel, que criticou a movimentação de seu sucessor na CDU.

O principal alvo das manifestações foi Friedrich Merz, líder da CDU e das intenções de voto para as eleições parlamentares de 23 de fevereiro. A revolta dos manifestantes foi impulsionada pela decisão de Merz de contar com votos da AfD para aprovar medidas de endurecimento das regras de imigração no Bundestag.

A estratégia rompeu com o “cordão sanitário” tradicionalmente mantido pelos partidos democráticos para isolar a extrema direita desde a Segunda Guerra Mundial.

A crise política tem se aprofundado desde que a CDU sinalizou disposição para alianças indiretas com a AfD em estados do leste alemão, como Turíngia e Saxônia-Anhalt. Especialistas apontam que essa movimentação normaliza a extrema direita e suas pautas xenófobas, abrindo espaço para um realinhamento político que pode afetar o futuro democrático do país.

Pesquisas indicam estabilidade eleitoral

Apesar da mobilização massiva, as pesquisas mais recentes indicam que o cenário eleitoral permanece estável, com a União (CDU/CSU), de Merz, ainda na liderança. Levantamento do INSA, publicado no último sábado (8), aponta que os conservadores mantêm cerca de 30% das intenções de voto, enquanto a AfD segue como segunda força, com aproximadamente 20%. O Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler Olaf Scholz, aparece em terceiro lugar, com 15%.

CDU/CSU: 29%

AfD: 21%

SPD: 16%

Verdes: 12%

Sahra Wagenknecht (BSW): 6%

Esquerda: 5%

FDP (Liberais): 4%

Outros partidos: 7%

Especialistas ouvidos pelo Der Spiegel apontam que o receio com a imigração e recentes atentados na Alemanha podem explicar o desempenho resiliente da CDU e da AfD nas pesquisas, apesar da onda de manifestações.

Segundo a publicação, a percepção de insegurança está sendo explorada politicamente para justificar políticas de endurecimento migratório, pauta que Merz tem adotado para captar eleitores da extrema direita.

Primeiro debate eleitoral acirra tensões

Neste domingo (9), os candidatos ao governo alemão participaram do primeiro debate televisivo, que teve como principais temas a crise migratória, a economia do país e o avanço da extrema direita.

O chanceler Olaf Scholz (SPD) acusou Friedrich Merz (CDU) de “romper o cordão sanitário” ao aceitar apoio da AfD para endurecer as regras de imigração no Bundestag. Merz, por sua vez, negou qualquer aliança formal com a extrema direita, mas justificou sua decisão dizendo que a segurança dos alemães está em risco após recentes atentados cometidos por imigrantes.

A crise econômica foi outro ponto central do debate. Merz criticou a gestão de Scholz, afirmando que a Alemanha enfrenta um cenário de “desindustrialização” e perda de competitividade.

Em resposta, Scholz atribuiu a crise econômica a fatores externos, como a guerra na Ucrânia, e destacou que seu governo implementou medidas para fortalecer a economia, incluindo investimentos em infraestrutura e políticas para promover a transição energética. Ele também enfatizou a importância de uma abordagem equilibrada que combine crescimento econômico com justiça social.

Pressionado pelos maus resultados nas pesquisas, Scholz apelou e lembrou que seu governo endureceu as regras de imigração e aumentou em 70% o número de deportações.

A política internacional também gerou embates. Scholz classificou como “escandalosa” a proposta de Donald Trump para Gaza e alertou que a Alemanha reagiria imediatamente caso o governo norte-americano impusesse tarifas contra produtos europeus.

Merz adotou um tom mais diplomático, argumentando que era preciso aguardar como as propostas do republicano serão implementadas.

Apesar da forte mobilização popular contra a extrema direita, as pesquisas seguem indicando um cenário estável, com a CDU/CSU na liderança e a AfD consolidada como segunda força.

O próximo debate eleitoral, que ocorrerá no fim de semana, incluirá também os candidatos Alice Weidel (AfD) e Robert Habeck (Verdes), e pode ser decisivo na reta final da campanha.

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