Contra previsões, Luisa González avança e disputará segundo turno no Equador

A disputa presidencial no Equador será decidida no 2º turno, disputado pelo atual presidente Daniel Noboa (Ação Democrática Nacional) e por Luisa González (Revolução Cidadã). Com 91% das urnas apuradas no Equador, dados do CNE (Conselho Nacional Eleitoral) indicam que Noboa tem 44,34% dos votos válidos, enquanto González angariou 43,87% no pleito deste domingo (9).

Outros 14 candidatos concorreram, mas não obtiveram votos suficientes. Segundo o órgão eleitoral, houve 6,77% de votos nulos e 2,11% de brancos. A participação no pleito foi de mais de 83%.

Como nenhum dos candidatos alcançou 50% dos votos válidos ou 40% com uma diferença de 10 pontos para o segundo colocado, conforme exige a Constituição, a decisão final ocorrerá no dia 13 de abril.

A realização do segundo turno contraria as projeções de pesquisas de boca de urna divulgadas logo após o encerramento da votação e o clima de “já ganhou” de veículos de imprensa tradicionais, que chegaram a indicar uma vitória de Noboa no primeiro turno com 50,12% dos votos. 

Um dos levantamentos, realizado pelo instituto Diego Tello Flores e apresentado pela TC Televisión e Teleamazonas, contaminou a percepção pública e gerou uma onda de desinformação nas redes sociais, levando setores a acreditarem que o pleito já estaria decidido.

A eleição ocorre no momento em que o país vive um clima de temor pela violência do crime organizado e por violações aos direitos humanos de agentes de segurança, chancelados por Noboa. 

Essa é a segunda vez que os equatorianos vão às urnas em 16 meses. Em outubro de 2023, o ex-presidente Guillermo Lasso antecipou as eleições presidenciais. Ele usou a cláusula constitucional conhecida como “morte cruzada” para dissolver a Assembleia Nacional depois de passar por um processo de impeachment. Lasso não disputou as eleições.

Resiliência de Luisa González e surpresa no resultado

Diante da expectativa de uma vitória no primeiro turno para Noboa, os resultados finais surpreenderam analistas políticos e veículos de comunicação que previam uma vantagem maior do presidente. O jornal El Universo e canais de TV locais chegaram a divulgar cenários que apontavam uma possível derrota de Luisa González já na primeira rodada da votação.

Para a candidata correísta, o resultado reflete a insatisfação popular com a gestão de Noboa e uma resistência às políticas de arrocho econômico e militarização da segurança pública. 

“Deram como certa a nossa derrota, mas resistimos. Agora, temos uma nova oportunidade para mudar o Equador”, declarou González durante um pronunciamento na noite de domingo.

“Nós somos os grandes vencedores. Estamos diante de um candidato presidencial que usou bens do Estado para fazer campanha, violando todas as regulamentações legais”, criticou González.

González mostrou-se eufórica e discursou em Quito para seus apoiadores, aproveitando para parabenizar o terceiro colocado, do movimento indígena, e pedir seu apoio. Já Noboa, cuja equipe havia preparado uma festa de vitória, cancelou-a e não se apresentou para falar com seus apoiadores.

O desempenho de González fortalece a oposição e evidencia um cenário eleitoral altamente polarizado. A candidata conseguiu consolidar sua base eleitoral mesmo diante de uma campanha marcada por perseguições ao correísmo e pelo predomínio de um discurso de endurecimento penal adotado por Noboa.

Denúncias de irregularidades na OEA: Noboa é acusado de violação eleitoral

A Organização dos Estados Americanos (OEA) anunciou neste domingo que incluirá em seu relatório final sobre as eleições no Equador denúncias de violação eleitoral cometidas pelo presidente Daniel Noboa. A principal irregularidade apontada é o fato de Noboa ter permanecido no cargo durante a campanha eleitoral, sem solicitar licença da presidência, como exige a legislação equatoriana.

O chefe da missão da OEA, Heraldo Muñoz, afirmou que diversas forças políticas relataram que a permanência de Noboa na presidência gerou um desequilíbrio na disputa eleitoral.

“Escutamos essas observações e essa é uma matéria que estará indicada no nosso relatório. Efetivamente, há algumas forças políticas que expressaram essa opinião”, declarou Muñoz, que já foi chanceler do Chile.

De acordo com a lei eleitoral do Equador, autoridades que buscam a reeleição devem se afastar de seus cargos para garantir igualdade de condições no pleito. No entanto, Noboa evitou essa medida, possivelmente para impedir que sua vice-presidente, Verónica Abad, assumisse o cargo. O mandatário e sua vice romperam politicamente logo após sua posse.

A candidata Luisa González (Revolução Cidadã) e outros setores da oposição classificaram a postura de Noboa como uma tentativa de instrumentalizar a máquina estatal a seu favor, violando a Constituição e as regras do processo eleitoral. O ex-presidente Rafael Correa também denunciou publicamente o que considera um favorecimento irregular ao atual chefe de Estado.

Além das denúncias formais à OEA, a permanência de Noboa na presidência também foi criticada por observadores internacionais e partidos adversários, que apontam um ambiente de fragilidade democrática no país. Ainda assim, a Justiça Eleitoral do Equador não adotou medidas para obrigá-lo a se afastar.

Próximos passos: alianças e a disputa pelo segundo turno

Com a definição do segundo turno para 13 de abril, as atenções se voltam para as alianças políticas que cada candidato tentará construir nas próximas semanas. Luisa González deve buscar o apoio de setores progressistas e do movimento indígena, representado por Leónidas Iza, do Pachakutik, que ficou em terceiro lugar na disputa com 4,8% dos votos.

Já Noboa deve tentar consolidar seu eleitorado de direita e atrair votos de Andrea González, do Partido Sociedade Patriótica (PSP), que teve 2,7% dos votos. No entanto, a postura de setores da centro-direita e da centro-esquerda deixam o segundo turno em clima de incerteza. 

A Izquierda Democrática, por exemplo, anunciou que não apoiará nenhum dos finalistas, o que pode ser um fator determinante na disputa.

O segundo turno se desenha como uma batalha entre dois projetos antagônicos: de um lado, Noboa defende a continuidade de sua política de segurança e austeridade fiscal; do outro, González propõe um modelo baseado no fortalecimento do Estado e na ampliação dos programas sociais. O resultado da eleição definirá os rumos do Equador para os próximos quatro anos.

O post Contra previsões, Luisa González avança e disputará segundo turno no Equador apareceu primeiro em Vermelho.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.