“Narcotráfico e mineração ilegal ameaçam paz e avanços na Colômbia”, diz reverendo

Luis Fernando Sanmiguel, reverendo da Igreja Comunidade Esperança, de Bogotá, adverte que “grupos armados minam os Acordos de Paz, atentando contra a vida para tirar proveito próprio”, ao mesmo tempo que “uma oposição conformada por pessoas muito ricas, cheias de poder militar, econômico e político sabotam no Congresso as medidas inovadoras do Governo da Mudança”, liderado pelo presidente Gustavo Petro

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“A Paz Total defendida pelo Governo da Mudança (Gobierno del Cambio) apela ao ser humano como sociedade envolvida com o meio ambiente, em benefício de todos os setores da Humanidade, da fauna e da flora. E o governo colombiano tem sido claro: é preciso acabar com a exploração mineira ilegal e o narcotráfico. Este ponto é crucial, mas tem sido boicotado pelos grupos armados, que sabotam a assinatura de um acordo específico, atentando contra a vida para tirar proveito próprio”.

O alerta foi dado em entrevista exclusiva ao Hora do Povo (HP) pelo reverendo Luis Fernando Sanmiguel, da Igreja Comunidade Esperança, de Bogotá, coordenador do programa Comunidades de Fé Teusaquillo Território de Paz, “posicionando-se como um cristão inspirado na fé de Jesus e na Justiça”, diante do crescimento dos conflitos no norte do país e em Catatumbo – fronteira com a Venezuela – entre o Exército de Libertação Nacional (ELN) e dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que não depuseram as armas.

A confrontação já provocou o deslocamento de mais de 40 mil pessoas, famílias inteiras que migraram para a Venezuela, em meio a recrutamentos forçados e aos mais de 80 assassinatos pelo ELN, seis seletivamente tão somente por terem assinado o Acordo de Paz com o governo.

“Paz total, paz integral, paz positiva”

“Acredito que o nosso compromisso é lutar coletivamente para erguer o reino de Cristo entre nós, daí a relevância da nossa participação na construção do processo de paz”, assegurou o reverendo, respaldando a consolidação de “uma das primeiras propostas aprovadas, a de Paz Total, chamada pelas comunidades de fé Paz Integral e no pensamento do sociólogo norueguês Johan Galtung – principal fundador da disciplina de Estudos sobre Paz e Conflitos – Paz Positiva”.

Apesar da iniciativa ser louvável, avaliou, “há um inconveniente”. “Acredito que a metodologia não foi a mais indicada porque se quis negociar com todos os setores ao mesmo tempo, com uma dura consequência: os grupos armados, independentemente de sua postura ideológica, querem manter uma paz que lhes permita negociar com uma economia ilegal, que é fundamentalmente o narcotráfico e a exploração mineral irracional, com graves desdobramentos no meio político, que é a corrupção”, condenou.

Sanmiguel apontou que o primeiro aspecto a ser levado em conta é que após séculos de exploração, “temos um presidente alternativo, que se chama Governo da Mudança, como se denominou sua campanha”. “Acredito que este é o seu propósito e vale a pena, mas que em quatro anos não pode ser consolidado”, ponderou, citando obstáculos em vários setores, desde o parlamento, os meios de comunicação, até parcelas da igreja. “As igrejas católica e evangélica protestante são majoritárias e temos outras que são minoritárias, como as de judeus e muçulmanos. Lamentavelmente, por tradição, os católicos têm sido sempre conservadores, não é segredo. Mas o protestante evangélico há optado por partidos de direita”, reconheceu.

“Governo empenhado nas negociações”

“A mim me parece que o governo Petro tem excelentes intenções, porque não está somente negociando, mas se empenhando na construção de uma paz integral para o conflito armado interno, com medidas relevantes para a consolidação do processo como a reforma agrária e avanços na saúde pública, entre outras mudanças sensíveis”, acrescentou. “Desde as comunidades de fé, o que queremos é uma proposta justa, equitativa, não violenta, uma negociação com muito diálogo, o que não foi conseguido. Mas nosso entendimento é que o reino de Deus é agora e está entre nós”, disse.

“Apesar das iniciativas do governo”, explicou o arcebispo, “a maioria da Câmara e do Senado se opõem às transformações, o que nos preocupa muito já que não se aprova nenhum projeto ou proposta, pois chegam até certo ponto e são barradas”.

“Mais de um milhão de hectares já foram entregues aos camponeses”

A Reforma Agrária é um projeto proposto desde os anos 70-80, mas sua implementação tem sido muito complexa e turbulenta, esclareceu. “Agora, nas negociações com as Farc, foi assinado um acordo que seriam concedidos aos camponeses três milhões de hectares de terras cultiváveis. Entre os governos dos presidentes Juan Manuel Santos (2010-2018), que assinaram a paz com as Farc, e o de Iván Duque (2018-2022), somados, foram entregues aproximadamente 30 mil hectares de terra, enquanto ao longo do governo Petro já são mais de um milhão de hectares”, ressaltou Sanmiguel.

Vale lembrar, destacou o reverendo, que “terras para os agricultores é o ponto número um da Reforma Agrária: que o camponês tenha onde plantar e que seja cultivável, com apoio técnico agrícola, com financiamento para produzir”.

No entanto, denunciou Sanmiguel, há um cavalo de Troia a ser combatido, “pois, por falta de qualificação, o governo tem sido obrigado a recorrer a quadros técnicos da oposição, agudizando a contradição, gente que sabota o processo desde dentro”. “São representantes de um setor político e empresarial rico e poderoso que realmente não aceita nenhuma mudança”, protestou.

“Tornar verdade e equitativa a justiça política e econômica”

Em relação às atuais declarações de Trump sobre os imigrantes, o reverendo considerou que “a Colômbia está no coração da América e do mundo, um país supremamente banhado em riquezas minerais e vegetais” e como qualquer povo e nação merece ser respeitado. Sem citar nomes, reiterou que “todo aquele que não age para tornar verdade e equitativa a justiça política e econômica vai contra a construção do reino de Deus”.

“A questão da migração vai se radicalizar em todo mundo e será uma característica do século 21, porque a busca de oportunidades é um estado natural da Humanidade. Os aposentados e pensionistas dos países mais ricos poderão viver muito bem, por mais pobres que sejam, em qualquer país da América Latina. Então, como não permitir a migração por mão de obra, em busca de qualificações acadêmicas?”, questionou.

“O que tem imperado é a eliminação do contrário: no político, econômico, cultural, social, em todas as áreas. O que temos visto é o cultivo permanente do poder pelo poder, a inaceitável lógica do olho por olho, dente por dente. Isso não se aplica à seguridade humana, que deve ser de diálogo, respeito, concertação, consensos, acordos e que todos possamos viver bem, construindo juntos. O corpo unificado deve reconhecer as diferentes funções dos diferentes membros”, concluiu Sanmiguel.

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