A falta que Paulo Francis nos faz

Desde pequeno eu sempre acordei cedo. Eu ligava a televisão e estava passando Bom Dia Brasil. Eu lembro de ver o Paulo Francis fazendo seus comentários no jornal. Não entendia nada do que ele estava falando, mas o jeito dele falar eu achava muito engraçado. Aqueles óculos enormes, aquele tom de voz que virou sua marca registrada. Ou ainda ele comentando ao ar livre, com o microfone da Globo na mão e o Central Park de fundo. Não lembro dele no Manhattan Connection, então não sei se ele venceu os debates que travava com o Caio Blinder.

Paulo Francis foi crítico teatral. Alguns atores não gostavam do posicionamento dele. Paulo Autran cuspiu em seu rosto por conta de uma crítica. Francis também foi jornalista. Ele trabalhou no Última Hora, no Estadão, na Folha. Na década de 1970, ele foi um dos fundadores do Pasquim, jornal crítico à ditadura. Talvez muita gente seja como eu e tenha na memória a imagem de Paulo Francis na Rede Globo. De Nova York, ele enviava seus comentários que saiam no Bom Dia Brasil ou no Jornal da Globo.

Na TV fechada, ele era o destaque do Manhattan Connection. Foi nesse programa que Francis falou que diretores da Petrobras surrupiavam dinheiro público. Ele foi processado e condenado a pagar uma grana. Até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tentou reverter a situação. Esse processo acabou arruinando sua saúde e Paulo Francis morreu de infarto em 4 de fevereiro de 1997.

O tempo e o Petrolão mostraram que ele estava certo. Quantos diretores cobraram propina na Petrobras! Se vivo fosse, Paulo Francis debocharia da demora do Brasil em ver o que ele já tinha visto décadas antes. E faria o deboche com aquela voz que se tornou sua marca pessoal e chamava a atenção de um menino de Goiânia que acordava cedo.

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