Ascensão de Gusttavo Lima reflete descrença e apego à política tradicional

O nome do cantor sertanejo Gusttavo de Lima surgiu, segundo a última pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta segunda-feira, 3, como o mais forte contra Lula na disputa presidencial de 2026. Apesar de figuras gabaritadas no meio político figurarem no levantamento (como Eduardo Bolsonaro, Tarcísio Freitas e Romeu Zema), nenhum deles tem desempenho melhor do que o sertanejo. 

O questionamento que surge é: porque parte do eleitorado prefere apostar o futuro do país em um ‘outsider’ (figura sem experiência com a política)? O carisma angariado por Gusttavo Lima como artista é suficiente para responder essa questão? 

O levantamento da Quaest aponta que, num possível segundo turno, Gusttavo Lima conseguiria 35% dos votos, enquanto o atual presidente alcançaria a margem dos 41%. Colocando o nome de outros representantes da direita contra Lula, também no segundo turno, a diferença aumenta. 

Contra o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, Lula aparece com 43% das intenções de voto, enquanto Tarcísio surge com 34%.  Contra Eduardo Bolsonaro (PL) e Pablo Marçal (PRTB), Lula conseguiria 44% dos votos, enquanto ambos os concorrentes da direita aparecem com 34%.   

Zema, governador de Minas Gerais, aparece com 28% contra Lula, enquanto Caiado com 26%. Em ambos os casos, o petista conseguiria cerca de 45% das intenções de voto. 

O desgaste que a imagem do político tradicional vem sofrendo nos últimos anos pode justificar parcialmente a opção do eleitor, principalmente após a polarização entre esquerda e direita que o Brasil vem passando de forma mais intensa nos últimos anos. O voto de confiança numa figura externa à política tradicional parece dar mais esperança ao eleitor do que os rostos já conhecidos no meio político.

Num cenário espontâneo, onde não são apresentados os nomes dos candidatos e o eleitor precisa citar as figuras em quem confia, apenas um nome surge além de Lula e Jair Bolsonaro, o de Gusttavo Lima. 

Além disso, o número daqueles que demonstram desinteresse geral na política é considerável e preocupante. No levantamento da Quaest, a porcentagem de votos brancos, nulos e de eleitores que não vão votar varia de 19% a 25%, nos cenários estimulados para o segundo turno. Indecisos variam entre 3% e 4%. 

Como mais de um quinto do eleitorado não demonstra interesse na política e, aqueles que desejam participar, apostam, em parte, em figuras externas ao meio, a urgência na reformulação do cotidiano da política se faz evidente.

Contraponto 

Ao mesmo tempo em que parte do eleitorado, principalmente de direita, prefere o cantor sertanejo no lugar de figuras gabaritadas da política, como os governadores de Goiás e de Minas Gerais, outra parcela se apega à experiência dos políticos de carreira. Na mesma pesquisa Genial/Quaest, a pergunta “Conhece e não votaria” mostra nova perspectiva sobre a ascensão de Gusttavo Lima. 

Enquanto Ronaldo Caiado (UB), o atual governador do Estado de Goiás, possui índice de rejeição de 21%, o menor entre os pré-candidatos, o sertanejo já não é bem quisto para a posição de presidente da República para 50% dos ouvidos na pesquisa. Por mais que ele se coloque como o nome de maior peso contra Lula, a parcela do eleitor que o considera inapto ao cargo é superior. 

A contradição fica óbvia: o nome mais forte da direita contra o atual presidente é rejeitado por, no mínimo, metade dos eleitores. Quais recursos a classe política brasileira dispõe para pacificar o eleitorado que rejeita os moldes tradicionais e tem vontade de mudança, e, ao mesmo tempo, satisfazer a parcela que demanda experiência no cotidiano do trabalho. 

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