BC perdeu oportunidade de manter guidance e construir credibilidade, diz economista-chefe da Galapagos

Tatiana Pinheiro Galapagos Capital selic copom banco central

Copom elevou a Selic em 1 p.p. na reunião de janeiro, para 13,25% (Imagem: Divulgação/Galapagos Capital)

O Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou o guidance de mais uma alta de 1 ponto percentual (p.p.) em março, mas deixou em aberto a condução da política monetária nas reuniões a partir de maio. A decisão representou uma oportunidade perdida para fortalecer a credibilidade da nova direção do Banco Central (BC), segundo a economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro.

“O Banco Central perdeu uma oportunidade estratégica de manter o forward guidance para duas reuniões. Se ele mantivesse, ajudaria na construção da credibilidade, afinal de contas é uma diretoria nova, e no custo final de juros para fazer a inflação convergir para a meta no horizonte relevante”, disse Pinheiro em entrevista ao Money Times.

A economista afirmou que a mudança de tom do comunicado de janeiro, em comparação ao de dezembro, indica uma postura menos dura do Comitê, apesar de ainda hawkish — quando a autoridade monetária defende políticas mais restritivas.  Esse afrouxamento pode ser explicado por fatores como a decisão anterior de acelerar o ritmo de aperto monetário e a confirmação do cenário adverso que já não causa o mesmo impacto psicológico no mercado.

“O fato de manterem o forward guidance apenas para março, mas deixar as reuniões na sequência em aberto dá um tom menos duro ao comunicado de janeiro em relação ao de dezembro. Em dezembro, o BC acelerou o ritmo e deu uma sinalização de mais dois meses de altas de 1 p.p.”, avalia a economista.

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Outro ponto que ditou o tom do comunicado foi a reformulação do balanço de riscos de inflação pelo BC, que incluiu a possibilidade de que uma desaceleração na atividade econômica interna ajude a reduzir os preços.

Além disso, a autarquia citou como fator baixista a dinâmica do comércio internacional. Pinheiro, no entanto, alerta para a complexidade desse fator: “Se for uma discussão sobre tarifas mais agressivas dos Estados Unidos para todos os países, isso pode resultar em um dólar mais forte perante as demais moedas, o que se traduz em mais pressão inflacionária, não em menos pressão inflacionária”.

Apesar da sinalização mais branda do Copom na análise da Galapagos, o consenso do mercado era justamente que o guidance para março seria mantido, mas que o futuro seguiria indefinido. “Como já era esperado, não vai causar prejuízo à credibilidade. E o que isso quer dizer? As expectativas de inflação não vão aumentar por conta disso. Mas não estou falando que o Focus vai parar de mostrar alta na expectativa, porque tem outros fatores contribuindo para essa desancoragem”, disse.

A nova gestão do BC: rigor técnico ou leniência?

A chegada de Gabriel Galípolo à presidência do BC levantou dúvidas no mercado sobre a possível adoção de uma postura mais branda no combate à inflação.

No entanto, a economista da Galapagos avalia que sua experiência como diretor de política monetária por mais de um ano contribui para uma gestão técnica e consistente.

“Ele conhece já todos os instrumentos e participou por mais de um ano de todo o debate interno no BC de política monetária. Então, isso sinaliza que ele tem a condição para fazer uma presidência bastante técnica com relação à condição da política monetária”, conclui a economista.

O futuro da Selic

A Galapagos projeta que a Selic suba 1 p.p. em março, chegando a 14,25%, e depois tenha uma alta menor de 0,75 p.p. em maio, alcançando os 15%.

“Dadas as pressões inflacionárias, a atividade econômica bastante forte e o hiato positivo, é recomendado que o Banco Central faça um ciclo de aperto rápido. Eles devem manter os juros em 15% ao longo do ano para ver esse efeito na atividade e na inflação”, afirmou Pinheiro.

Ao contrário do consenso do mercado, a economista vê espaço para um corte de 0,50 p.p. na Selic na última reunião de 2025, o que levaria a taxa para o patamar de 14,50% ao final do ano.

Para que o Copom consiga, de fato, iniciar o corte nos juros em dezembro, a economista destaca a importância da política fiscal. “A política fiscal tem que fazer seu papel também de continuar com medidas visando o controle das contas públicas”.

Além disso, a política de tarifa de importação nos EUA tem que ser mais moderada do que o visto em 2018, afirmou.

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