Imigrantes choram na fronteira do México após terem entrevistas de asilo canceladas por Trump

Sobrevivente de um sequestro no sul do México, a imigrante Nidia Montenegro, de 52 anos, confiava que sua entrevista agendada para quarta-feira, 22, abriria as portas para os Estados Unidos, onde pretendia recomeçar ao lado de seu filho, em Nova York. Porém, segundo a Agência de notícias Reuter, que acompanhou a jornada de Nidia, uma reviravolta inesperada interrompeu seus planos: o aplicativo “CBP One”, usado para agendar pedidos de asilo, havia sido bloqueado pelo governo americano.

A suspensão do aplicativo marcou o início de um endurecimento na política de imigração, anunciado pela nova administração de Donald Trump. Empossado como 47º presidente dos Estados Unidos, Trump não tardou a agir para implementar as promessas de campanha. Dentre as primeiras medidas, a declaração de emergência nacional na fronteira sul e a suspensão das funções do “CBP One” representaram o ponto de partida para uma abordagem mais rígida contra a imigração.

O “CBP One”, lançado em outubro de 2020, era amplamente utilizado por imigrantes para realizar agendamentos formais de pedidos de asilo, verificar tempos de espera e solicitar entrada provisória. Ao longo dos últimos quatro anos, o sistema permitiu a entrada legal de quase um milhão de pessoas nos Estados Unidos.

No entanto, na última segunda-feira, 20, autoridades dos Estados Unidos confirmaram a desativação do aplicativo, resultando no cancelamento automático de todos os agendamentos pré-existentes. No site do Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP), uma mensagem direta informava que os serviços estavam indisponíveis. A decisão atingiu diretamente milhares de pessoas que aguardavam autorização para cruzar a fronteira, incluindo famílias inteiras que permanecem em abrigos lotados no México.

“Hoje minha vida recomeça”?

Antes da medida, Nidia, como tantos outros, mantinha a esperança de alcançar sua nova vida nos Estados Unidos. “Hoje minha vida recomeça”, disse à Reuters, confiante no reencontro com seu filho e em uma segunda chance de estabilidade. Porém, com a mudança abrupta no sistema, sua incerteza só cresceu. Agora, ela e outros imigrantes enfrentam a dúvida sobre como proceder, enquanto a promessa de uma transição ordenada de entrada no país parece mais distante.

Embora muitos relatem que receberam e-mails confirmando o cancelamento de suas entrevistas, outros afirmam não ter tido acesso às informações, ampliando a confusão e os sentimentos de frustração entre os abrigos na fronteira.

Política de Trump

A declaração de emergência nacional é apenas um dos passos na tentativa de Trump de intensificar o controle das fronteiras. Durante sua posse, o presidente reiterou compromissos de aumentar deportações, designar cartéis mexicanos como organizações terroristas estrangeiras e ampliar a presença militar na divisa entre os dois países.

Em um movimento que reflete diretamente os planos divulgados em sua campanha, Trump enfatizou que não apenas buscaria combater a entrada irregular de imigrantes, mas também sinalizaria a retaliação a atividades criminosas associadas à imigração. 

Situação crítica nos abrigos

Enquanto o governo ajusta suas políticas, a realidade nos abrigos fronteiriços é de inquietação. Em Tijuana, muitos ainda tentam compreender os desdobramentos das mudanças no aplicativo. Pessoas como Nidia, já exaustas pelas adversidades enfrentadas no trajeto migratório, agora enfrentam mais uma camada de desafios burocráticos e incertezas. Abrigos em cidades como Tijuana, Reynosa e Ciudad Juárez têm relatado uma pressão crescente, com imigrantes tentando interpretar as implicações da suspensão do “CBP One” e buscando alternativas legais para suas situações.

Muitos desses imigrantes dependiam inteiramente do aplicativo como ferramenta oficial de conexão com as autoridades americanas, o que torna a paralisação um golpe devastador. Voluntários e advogados que trabalham nos abrigos confirmaram à Reuters que a suspensão gerou não apenas confusão, mas também um aumento no número de imigrantes recorrendo a métodos ilegais e perigosos para atravessar a fronteira.

O impacto de longo prazo ainda não está claro. Grupos de direitos humanos, incluindo ONGs americanas e internacionais, alertaram para o possível agravamento de uma crise humanitária na região. Já pressionados por recursos escassos, os abrigos podem não conseguir lidar com uma nova onda de migrantes desalojados.

Enquanto isso, imigrantes como Nidia Montenegro, que buscam um futuro seguro, permanecem em uma espécie de limbo. Apesar das adversidades, ela não desistiu completamente. “Eu vou à minha entrevista”, declarou à Reuters, determinada a buscar uma solução, mesmo sem a certeza de como será recebida do outro lado da fronteira.

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