Morre o desembargador e jornalista Marco Antônio da Silva Lemos

Sabe Bernard Shaw e Henry Louis Mencken? Pois bem: Marco Antônio da Silva Lemos era uma mistura dos dois. Inteligente e irônico, escrevia muito bem artigos e reportagens. É provável que, se não tivesse trocado o jornalismo pela magistratura — era desembargador (foi aprovado em dois concursos, em primeiro lugar) —, poderia ter se tornado escritor. Ou seja, um grande cronista de sua geração.

Numa conversa, no restaurante de um hotel, perguntei: “Marco Antônio, por que abandonou o jornalismo?” Sua resposta foi curta e fina: “Porque ganhava mal e o salário atrasava”. A magistratura representava “segurança”, “estabilidade.

De Goiânia, onde brilhou no Jornal Opção (Herbert de Moraes Ribeiro apreciava a mordacidade e a rapidez de raciocínio do jornalista) e no “Diário da Manhã”, mudou-se para Brasília (onde se tornou juiz e desembargador) e andou pelo Norte do país (Amapá), como magistrado — sempre o mais culto e contador de histórias da turma. Seu espírito de síntese era fabuloso.

Marco Antônio da Silva Lemos, que fazia questão de assinar seus textos com o nome completo, morreu, aos 78 anos, na segunda-feira, 19, no Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, de falência múltipla de órgãos (estava com pneumonia e cirrose). Sugiro que o leitor leia a entrevista dele concedida ao Jornal Opção, em 2015. É a típica inteligência à flor da pele.

Aposentado do cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, desde 2019, Marco Antônio da Silva Lemos apreciava visitar Goiânia para se encontrar com os amigos. Eu o buscava no hotel e o levava para almoçar — por exemplo, no extinto restaurante Tribo do Açaí — com o promotor Marcelo Franco e o jornalista Iuri Rincon. Os dois apreciavam a verve e a inteligência ferina do, sim, intelectual (ele às vezes ria do estilo empolado, “meio parnasiano”, de alguns colegas de magistratura).

Homem fino — a finura de alma —, Marco Antônio da Silva Lemos conhecia tanto Direito quanto literatura (e adorava biografias. Dizia que biografias eram, na verdade, livros de história. Apreciava recomendar as memórias do diplomata Pio Corrêa). Politicamente, não era de esquerda. Alinhava-se mais à direita. Mas não à direita bárbara típica do bolsonarismo. Ele debochava dos homens de Estado toscos. Apreciava mais Churchill, com sua inteligência rápida e à flor da pele, do que políticos moderados. Tinha apreço também por Carlos Lacerda.

O corpo do desembargador será enterrado no Cemitério Santana, em Goiânia, na quarta-feira, 22. Homem do mundo, que circulava por outros países, tinha Goiânia como sua Ítaca, mas sem idolatria. Ele apreciava citar Samuel Johnson: “O patriotismo é o último refúgio dos velhacos”.

“Muito do que o Jornal Opção produziu trouxe influência direta nas ações de políticos”

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