Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida, e você vai chamá-lo de destino

*Abílio Wolney Aires Neto 

Essa frase de Carl Gustav Jung, um dos maiores psicólogos do século XX, sintetiza uma das ideias centrais de sua teoria: a influência do inconsciente sobre nossas vidas. Segundo Jung, a maior parte das nossas ações, emoções e decisões é governada por forças inconscientes que operam abaixo do nível da nossa consciência. Até que nos esforcemos para trazer essas forças à luz, continuaremos repetindo padrões e chamando as consequências disso de “destino”.

Para Jung, o inconsciente é dividido em dois níveis principais: o inconsciente pessoal, que contém experiências reprimidas, memórias esquecidas e traumas individuais que afetam nossas atitudes e comportamentos; e o inconsciente coletivo, um nível mais profundo e universal, compartilhado por toda a humanidade. Este é composto por arquétipos – padrões de comportamento e imagens simbólicas que moldam a maneira como percebemos e reagimos ao mundo. Exemplos de arquétipos incluem o “Herói”, a “Sombra” e o “Sábio”.

Jung acreditava que o inconsciente exerce uma poderosa influência em nossas escolhas e relacionamentos. Quando não temos consciência dos padrões e impulsos internos que nos movem, acabamos agindo de forma automática, como se estivéssemos seguindo um roteiro predeterminado. Nesse contexto, o que chamamos de “destino” muitas vezes é o resultado de nossa incapacidade de enxergar as forças que atuam em nosso interior. “Aquilo que não enfrentamos em nós mesmos encontraremos como destino”, afirmou Jung, evidenciando que os conflitos internos que ignoramos acabam se manifestando em nossa vida como circunstâncias externas aparentemente inevitáveis.

Por exemplo, alguém que constantemente escolhe parceiros tóxicos pode estar sendo guiado por traumas ou crenças inconscientes sobre amor e segurança. Da mesma forma, pessoas que sabotam suas próprias oportunidades de sucesso frequentemente agem de acordo com medos inconscientes ou sentimentos de inadequação. Explosões de raiva ou tristeza desproporcionais também podem ser manifestações de conteúdos inconscientes que não foram integrados.

Jung propôs que a solução para escapar desse “controle do inconsciente” é o processo de individuação – o caminho pelo qual uma pessoa integra os conteúdos inconscientes à consciência, tornando-se mais completa e autêntica. Esse processo envolve reconhecer a Sombra, ou seja, a parte do inconsciente que contém traços reprimidos, instintos e aspectos de nós mesmos que preferimos ignorar. Enfrentar e aceitar esses elementos é essencial para o autoconhecimento. Outra forma de acessar o inconsciente é por meio da interpretação de sonhos, que Jung considerava uma porta de entrada para o inconsciente, contendo mensagens simbólicas que ajudam a entender nossos conflitos internos. Compreender os arquétipos que moldam nossa vida também pode nos ajudar a reconhecer padrões inconscientes e escolher como queremos agir. Além disso, a prática de refletir sobre nossos comportamentos, emoções e escolhas nos permite identificar padrões e crenças que podem estar nos limitando.

Ao se tornar consciente dos impulsos inconscientes, passamos a ter mais controle sobre nossas vidas. Em vez de agir de forma automática ou reagir impulsivamente, ganhamos a capacidade de escolher nossas ações de maneira deliberada. Assim, o “destino” deixa de ser algo imposto e se transforma em uma criação pessoal. Por exemplo, em vez de repetir ciclos de relacionamentos tóxicos, uma pessoa consciente de sua Sombra pode identificar seus próprios medos e necessidades, escolhendo parceiros mais saudáveis. Alguém que reconhece crenças limitantes sobre si mesmo pode trabalhar para superá-las, abrindo novas possibilidades para sua carreira ou vida pessoal.

Como ressalta Joana de Ângelis: “O inconsciente é o depósito de nossas conquistas espirituais e de nossos conflitos não resolvidos”, indicando que trazer essas questões à luz é essencial para o progresso interior. Ao nos tornarmos conscientes do que nos move, transformamos o “destino” em uma construção ativa, onde cada escolha reflete nossa busca por equilíbrio, autoconhecimento e plenitude. É nesse processo que a verdadeira liberdade e autenticidade se encontram.

Abílio Wolney Aires Neto | Foto: Acervo Pessoal

*Abílio Wolney Aires Neto é Juiz de Direito da 9ª Vara Civel de Goiania. Cadeira 9 da Academia Goiana de Letras, Cadeira 2 da Academia Dianopolina de Letras, Cadeira 23 do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás-IHGG, Membro da União Brasileira de Escritores-GO dentre outras. Graduando em Jornalismo.
Acadêmico de Filosofia e de História. 15 titulos publicados.

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