Aterro em Goiás é investigado por contaminação de chorume

Por trás de um cenário que deveria simbolizar responsabilidade ambiental, o Aterro Sanitário Ouro Verde, em Padre Bernardo (GO), encontra-se no epicentro de uma disputa judicial e ambiental que desafia seus princípios fundamentais. Desde sua inauguração em 2016, a promessa de gerenciamento sustentável de resíduos contrasta com as preocupações crescentes de pesquisadores e autoridades ambientais.

Os pesquisadores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Universidade de Brasília (UnB) estiveram no local, em uma vistoria realizada em 2024, e, em meio ao silêncio das chapadas e ao canto distante dos pássaros, o trabalho técnico começou: amostras de água coletadas, fotografias do entorno e registros que buscavam responder a uma pergunta: o aterro estaria, de fato, causando danos ambientais irreversíveis?

Denúncias 

O Aterro Ouro Verde está situado em uma área de mais de 10 hectares, adjacente à encosta de uma chapada, parte de uma zona de conservação ambiental reconhecida por abrigar vida silvestre. Segundo o Ministério Público de Goiás (MPGO) e o Ministério Público Federal (MPF), o empreendimento iniciou suas atividades sem apresentar estudos ambientais que atestassem sua viabilidade para garantir a proteção da área.

Desde então, uma série de denúncias levanta suspeitas de irregularidades: vazamentos de chorume que poderiam estar contaminando lençóis freáticos, resíduos descartados a céu aberto e impactos sobre o Córrego Santa Bárbara, essencial para a bacia do Rio Descoberto. Esta última é uma área de preservação, responsável pelo abastecimento de água potável para o Distrito Federal e municípios vizinhos.

Os órgãos ambientais afirmam que, em 2018, o aterro chegou a ser interditado judicialmente devido à ausência de licença ambiental. No entanto, a decisão foi revertida em instâncias superiores, permitindo que o funcionamento continuasse sob a condição de encontrar uma solução ecologicamente apropriada — algo que ainda está por vir.

Processos em andamento

A batalha judicial atingiu um novo patamar em 2021, quando um processo foi aberto na Justiça Federal. A fase atual concentra-se na realização de perícias técnicas. Um relatório preliminar divulgado pelo ICMBio em 2024 destacou os danos hídricos associados ao aterro, reiterando a necessidade de ampliar a coleta de amostras, especialmente durante o período de chuvas, para compreender melhor o alcance da contaminação.

Segundo o relatório, os resultados iniciais indicam uma degradação de recursos hídricos. Entre os riscos apontados está a infiltração de chorume, potencialmente tóxico, que poderia contaminar os reservatórios subterrâneos e comprometer o ecossistema regional.

Além disso, o aterro enfrenta um desafio de escala. Dados levantados pelo instituto indicam que a instalação recebe, em média, entre 130 e 150 toneladas de resíduos diariamente, gerando questionamentos sobre sua capacidade real de lidar com tamanha demanda sem infringir normas ambientais.

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