Como a chinesa DeepSeek causou uma sangria nas ações das Big Techs

É uma segunda-feira sangrenta para os mercados americanos e as ações das Big Techs. Os futuros da Nasdaq-100, que reúne diversos papéis de tecnologia, recuavam 3,40% perto das 11h de Brasília. Por trás da sangria está o lançamento do modelo de inteligência artificial (IA) chinês DeepSeek R1, que promete serviço de inteligência artificial de ponta por 5% do custo das empresas que hoje lideram esse mercado, como a OpenAI, dona do ChatGPT.

Depois de acumular valorização expressiva, a Nvidia é uma das ações que têm sofrido nesta segunda-feira, 27. As ações recuavam mais de 12%, com o valor de mercado encolhendo em mais de US$ 300 bilhões — a maior perda já registrada por uma única empresa. As ações da Meta, dona do Facebook, caíam 3,40% no pré-mercado, às 11h20 do horário de Brasília. Já os papéis da Microsoft, acionista relevante da OpenAI, recuavam 4,63%.

Também são registrados declínios significativos em empresas como ASML e ASM International. Ambas, no mercado europeu, recuaram 10% e 14% nas mínimas do dia, respectivamente.

Na Ásia, as ações relacionadas a chips japoneses estavam amplamente em baixa. O impacto também foi sentido fora do setor tecnológico, com investidores fugindo de ativos de maior risco. Bitcoin, por exemplo, recuou 5,56%, enquanto o rendimento do Tesouro americano de 10 anos caiu para 4,508%, em busca de segurança.

A ascensão da DeepSeek

Fundada em 2023 por Liang Wenfeng, gestor de um fundo hedge que usa IA para identificar padrões em preços de ações, a DeepSeek começou como um projeto financiado pelo próprio Wenfeng. Utilizando chips H800, menos avançados e mais baratos do que os H100 da Nvidia (barrados de exportação para a China devido a sanções dos EUA), a startup conseguiu criar um modelo de IA altamente eficiente com um custo de apenas US$ 6 milhões – uma fração do que é normalmente investido por empresas como OpenAI ou Meta.

Esse modelo, chamado DeepSeek R1, já ultrapassou o ChatGPT e outros rivais em vários benchmarks de desempenho. Em menos de uma semana após o lançamento, o aplicativo da DeepSeek liderou os downloads na App Store nos EUA e no Reino Unido, demonstrando um apelo global e imediato.

“Momento Sputnik” da IA

O sucesso da DeepSeek foi rapidamente apelidado de “momento Sputnik” da inteligência artificial, uma referência ao marco histórico da corrida espacial, quando a União Soviética surpreendeu os Estados Unidos ao lançar o primeiro satélite em órbita.

Marc Andreessen, um dos mais influentes investidores do Vale do Silício, acredita que o lançamento do DeepSeek R1 simboliza um ponto de inflexão na disputa entre China e EUA pela liderança em tecnologia de ponta.

Enquanto a DeepSeek celebra seu sucesso, o impacto dessa inovação vem dividindo opiniões entre investidores e especialistas em tecnologia. Alguns analistas, como os da Bernstein, argumentam que a startup pode ter aproveitado os avanços de outros modelos, como o ChatGPT, para acelerar seu processo de desenvolvimento, o que tornaria mais difícil manter sua liderança no longo prazo.

Por outro lado, especialistas como Dylan Patel, da SemiAnalysis, acreditam que a redução dos custos para treinar e operar modelos de IA pode impulsionar a adoção global de aplicações baseadas em IA. “Avanços em eficiência têm sido um fenômeno constante na indústria de semicondutores. Isso abre novas possibilidades para empresas e consumidores”, afirmou Patel em entrevista ao Financial Times.

O caso DeepSeek sinaliza um alerta para as gigantes de tecnologia: investimentos massivos não garantem uma vantagem competitiva definitiva. Com a previsão de que o investimento em infraestrutura de IA atinja US$ 280 bilhões até 2025, conforme relatório do UBS, as empresas ocidentais precisarão reavaliar suas estratégias para não serem superadas por modelos mais ágeis e acessíveis.

++ Notícias

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