O dólar disparou: Sonhos dolarizados, bolsos despedaçados

O dólar não subiu. Ele explodiu, disparou, atravessou a estratosfera e pousou triunfante acima dos R$ 6,00. Nesse exato momento, milhares de brasileiros com planos para visitar o Mickey e tirar aquela tão sonhada selfie estão olhando suas contas bancárias com a mesma expressão de quem acabou de ver o preço de um simples café expresso servido em um copo de papel nos parques. Inacreditável!

E, como um bom vassalo do mercado, o bendito dólar não sobe sozinho: ele leva com ele todo o planejamento da viagem — passagens aéreas, ingressos, hotéis, refeições e até os souvenires bombardeados na saída das atrações dos parques.

O impacto desse dólar nas alturas é uma punhalada no coração de um símbolo da classe média brasileira: o Reino Mágico da Disney World, em Orlando. Um sonho dourado (ou melhor, dolarizado) que se afasta cada vez mais, como um balão nos céus da Flórida.

E para quem quer aproveitar a ida a Orlando com foco nos parques temáticos, há outro universo de mais gastos: o mundo de Harry Potter. Ali não tem rato nem pato, mas tem varinhas, capas e outros tantos souvenires. Bota mais dólares aí!

Você deve estar se perguntando: afinal, quanto custa uma jornada no mundo da fantasia? Vamos aos números; prepare os ânimos. Um ingresso para quatro dias na Disney custa US$ 118 por dia. No final, são US$ 475. Parece aceitável? Espere até converter para reais a R$ 6,15. Sim, quase R$ 3 mil só para entrar no parque. Isso sem contar hotel, transporte, refeições ou aquela pelúcia do Mickey que sorri enquanto você tenta explicar ao seu cartão de crédito que tudo está sob controle.

As passagens aéreas? Outro susto. Voar para Orlando está saindo um horror. Um casal com dois filhos pode facilmente gastar em torno de R$ 15 mil só nos voos. E se você pensa que pode escapar para o mundo de Hogwarts, prepare o bolso.

Um ingresso para os parques do Harry Potter começa em US$ 179,90. Isso dá mais de mil reais por dia, por pessoa. E, claro, você não vai sair de lá sem uma varinha, uma capa e uma cerveja amanteigada que você provavelmente não vai conseguir terminar.

“Mas por que tudo ficou tão caro?”, você pergunta. E eu respondo: capital financeiro. O vilão silencioso, o dono do tabuleiro do jogo de xadrez, o chefe dos chefes. Ele não liga para fogos de artifício no Castelo da Cinderela ou para o brilho nos olhos de uma criança que vê o Mickey pela primeira vez. Ele quer números, gráficos, juros e, principalmente, um câmbio desfavorável.

Enquanto isso, o capital comercial, aquele dos parques, tenta lucrar “honestamente” vendendo ingressos, bonecos e canecas. Mas o capital financeiro chega como um gerente mal-humorado e diz: “Sobe mais esses preços. Dólar barato aqui, não tem.” Moral da história? Mais dólares para sair de férias.

E aqueles que nunca foram pra lá? Será que um dia poderão pisar no chão encantado de Orlando? Ou terão que se contentar com uma varinha falsificada do camelô, que nem o feitiço “reparo” dá jeito?

A verdade é que a magia já ficou mais cara. Muito cara. E, no final das contas, talvez o verdadeiro feitiço não esteja em Hogwarts ou no Castelo da Cinderela, mas no sistema financeiro global, que gira, gira, gira… e, quando a fumaça baixa, a conta está mais salgada do que aquele pretzel vendido nos parques.

Enquanto isso, seguimos sonhando. Porque, pelo menos por enquanto, sonhar ainda é de graça. O pior mesmo são os pesadelos das contas em dólar, quando chega a fatura do cartão.

Ycarim Melgaço | Foto: Jornal Opção

*Ycarim Melgaço é doutor em Ciências Humanas, pós-Doutor em Economia e Gestão de Organizações. É colaborador do Jornal Opção.

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