Para setor sucroenergético, 2025 será ano para curar cicatrizes nos canaviais

Na segunda quinzena de agosto, canaviais do Centro-Sul do Brasil, maior região produtora da cultura no mundo, arderam com as queimadas.

Alguns atribuem os episódios a atos criminosos, mas especialistas relacionam o fogo a uma combinação sinistra de fatores conhecida como fenômeno 30-30-30 – temperaturas acima de 30 graus, umidade relativa do ar abaixo de 30% e ventos acima de 30 quilômetros por hora –, que cria condições ideais para incêndios de grandes proporções nas lavouras e florestas.

Segundo dados do setor sucroenergético apresentados pela SCA Trading, 656 mil hectares de cana foram queimados entre agosto e setembro, sendo 266 mil hectares de cana ainda a ser colhida e o restante em vários estágios.

Do total, 465 mil hectares foram em São Paulo. Muitas áreas terão de ser replantadas e a colheita da safra 2025/2026 terá de ser replanejada diante dos ciclos heterogêneos de crescimento das lavouras.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), São Paulo registrou 3.612 focos de incêndio em agosto e 2.522 em setembro, recordes desde que o instituto iniciou a série histórica, em 1998. Mas nem as chuvas constantes recentes animaram o setor.

“Se, de fato, o verão for bom, acho que teremos uma recuperação parcial nas lavouras. Mas as cicatrizes permanecem e não dá para imaginar ânimo grande, já que a qualidade foi prejudicada e será preciso mexer no cronograma do ano que vem”, resumiu ao AgFeed Luciano Rodrigues, diretor de inteligência setorial da União da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

Para o executivo, mesmo com estiagem e queimadas, a safra de cana 2024/2025 no Centro-Sul ainda será grande, acima de 600 milhões de toneladas e entre as três maiores da história, mas longe do recorde de 620 milhões de toneladas processadas na safra passada, e com uma matéria-prima de menor qualidade.

A Unica não faz estimativas de safra, mas, no mercado, espera que as vendas do etanol sigam firmes em 2025, cenário que ocorre desde meados do ano passado.

Nos oito primeiros meses da safra 2024/2025, iniciada em abril, as vendas de etanol hidratado no mercado interno cresceram 27% sobre igual período de 2023, para 14,7 bilhões de litros, puxadas pelos preços competitivos e pela diferenciação tributária sobre a gasolina.

A oferta de etanol hidratado foi 11,8% maior no mesmo intervalo, com destaque para o biocombustível de milho.

O setor estima que a produção total de etanol do cereal fique entre 8 bilhões e 8,2 bilhões de litros na safra, ante 6,3 bilhões de litros no período anterior, o que garante estoques do combustível na entressafra da cana, de dezembro a março.

Para 2025, de acordo com Rodrigues, a demanda maior pelo etanol deve incluir também o anidro, usado na mistura à gasolina. O setor trabalha para que essa mistura, hoje em até 27,5%, aumente para os 30% previstos na lei do Combustível do Futuro, sancionada em outubro.

Para o mercado do açúcar, o setor espera pouca novidade, o que significa preços remuneradores diante da escassez de oferta e com o Brasil como o maior exportador mundial.

Se as usinas não fazem estimativas de safra, o setor produtivo faz. A Organização de Associações e Produtores de Cana do Brasil (Orplana) estima uma oferta de cana de 583 milhões de toneladas na próxima safra, mas considera cedo para cravar esse número.

“As chuvas recentes ocorrem com regularidade e alternadas com períodos de sol, o que favorece o ganho de biomassa. Se esse cenário positivo persistir, podemos melhorar a estimativa”, afirmou José Guilherme Oliveira, CEO da Orplana.

Segundo ele, além das perdas de produtividade, seca e queimadas trarão também uma necessidade de maior trato cultural nos canaviais até a próxima safra.

Com a maioria dos preços em dólar, o uso de fertilizantes e outros insumos vai aumentar os custos de produção.

“As queimadas em canaviais já colhidos tiraram também o colchão de palha que ajuda a reter água e, com a matéria orgânica, faz controle das plantas daninhas e pragas. Além da produção mais cara, a produtividade deve cair”, disse Nogueira

Até mesmo o replantio de canaviais está prejudicado depois da série de intempéries de 2024. A maioria das mudas de cana é produzida por canaviais plantados e colhidos para esse fim, que também foram prejudicados pelos incêndios e estiagem.

“Uma renovação dos canaviais que normalmente é de 15% da área por ano deveria chegar a 17% na próxima safra, mas não sei se teremos mudas para isso”, concluiu o CEO da Orplana.

Mercado

Se o cenário é positivo para o etanol, para o açúcar não deve ser diferente em 2025. Com 30 anos de experiência no setor, Arnaldo Corrêa, diretor da Archer Consulting, estima preços remuneradores para a commodity e que o Brasil seguirá como o principal balizador desse mercado.

“O mundo depende do Brasil, que supre 56,5% da demanda global. Se o Brasil pega uma gripe, o mundo pega uma pneumonia dupla”, afirmou.

Corrêa é cauteloso ao falar no tamanho da próxima safra de cana, mas estima que a oferta pode variar de 566 milhões a 577 milhões de toneladas no Centro-Sul.

Essa queda na produção da região é suficiente para manter os preços médios do açúcar em 18,50 cents por libra peso, acima do custo de 14 cents por libra peso do Brasil e abaixo do custo dos principais concorrentes nossos, como Índia e Tailândia.

“As usinas já ganharam dinheiro suficiente e reduziram endividamento nas últimas cinco safras e seguirão fortes e saudáveis”, afirmou.

Para Isadora Araújo, economista responsável por commodities agrícolas e economia Latam da GEP Costdrivers, a atual perspectiva é de descolamento entre os preços domésticos e internacionais do açúcar.

Dados do relatório anual da consultoria apontam que, no mercado doméstico o preço do açúcar cristal deve subir 3,6%, ante alta de 6,6% em 2024.

“A alta doméstica deverá ser puxada pela situação da safra brasileira, atualmente com perspectiva de decréscimo anual de 4,8%, afetada pela adversidade das condições climáticas e pelas queimadas que acometeram algumas regiões produtoras de cana-de-açúcar do estado de São Paulo”, relatou.

A pressão de alta sobre os preços internacionais, já que o Brasil figura entre os maiores produtores e exportadores de açúcar do mundo, no entanto, é barrada pelas previsões de que a safra global 2024/2025 da commodity traga uma oferta acima do consumo e de alta nos estoques.

A GEP Costdrivers estima, assim, uma queda de 13,5% nos preços do açúcar negociado na Bolsa de Nova York no próximo ano, após alta de 17,9% em 2024.

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