Marco histórico: 1° indígena Kaxixó se forma em medicina pela UFMG

A formatura de Otávio Kaxixó como o primeiro indígena do povo Kaxixó a se tornar médico pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) marca um capítulo significativo na luta por inclusão e representatividade. Aos 30 anos, ele celebra não apenas uma conquista individual, mas também uma vitória coletiva para sua comunidade. Nascido na aldeia Capão do Zezinho, com cerca de 89 pessoas às margens do Rio Pará, no município de Martinho Campos (MG), Otávio superou inúmeras adversidades para alcançar esse marco histórico.

Desde jovem, Otávio sonhava em cursar Medicina, mas o caminho foi repleto de desafios. “Em meu último ano da faculdade de Medicina estar aqui não é somente por ocupar uma cadeira no mais alto curso de ‘elite’. Estar aqui é sinônimo de resistência e ao mesmo tempo estampar e provar pro mundo que não importa de onde viemos, somos capazes de conquistar o que também é direito nosso – acesso à universidade”, afirmou em uma publicação. Após reprovações no vestibular e momentos de dúvida, a aprovação em 2019 foi comemorada por toda a aldeia, que compartilhou da emoção de ver o sonho de Otávio se realizar.

Durante os seis anos de graduação, Otávio manteve um forte vínculo com sua identidade e suas raízes. Ele sempre soube que desejava passar por um estágio em Saúde Indígena e conseguiu essa oportunidade no Parque Indígena do Xingu. “Foi muito interessante ser indígena e estar dentro de uma equipe não indígena atendendo indígenas. Acredito que tenha afinado ainda mais o meu cuidado para lidar com a saúde dos povos tradicionais”, destacou. Essa experiência foi fundamental para reforçar sua visão sobre como a Medicina pode atender às especificidades das comunidades indígenas.

O momento da formatura foi carregado de emoção e simbolismo. Ao ser chamado para receber o diploma, Otávio subiu ao palco com um cocar na cabeça e um maracá na mão, erguendo o instrumento e gritando: “É nosso!”. A plateia o aplaudiu de pé, reconhecendo a importância de sua trajetória. O gesto reforçou a mensagem de que essa conquista representa mais do que uma realização pessoal: é um avanço para toda a comunidade indígena.

Além de atuar como médico, Otávio almeja ser uma referência para outros indígenas que desejam ingressar no ensino superior. “Enfim, 1° Kaxixó Médico pela UFMG. Que eu não seja o único e sim, a referência de continuidade”, afirmou. Sua jornada inspira outros jovens indígenas a acreditarem que é possível superar barreiras e ocupar espaços historicamente inacessíveis.

O marco alcançado por Otávio é também um lembrete da importância de políticas de inclusão, como as cotas raciais e sociais, que permitiram que ele e outros indígenas acessassem o ensino superior. Sua história simboliza a resistência e o desejo de transformar a sociedade, garantindo que no futuro a presença de médicos indígenas seja cada vez mais comum e valorizada.

Foto: Redes Sociais

O povo Kaxixó

O Povo Indígena Kaxixó é formado por 3 aldeias: Capão do Zezinho, Fundinho e Pindaíba. São, no total, aproximadamente 400 Kaxixó, porém apenas 103 vivem dentro das aldeias. O Povo Kaxixó está situado no Estado de Minas Gerais, distribuídos pelos Municípios de Martinho Campos e Pompéu. Vivemos às margens do Rio Pará, sendo a aldeia Capão do Zezinho localizada à margem esquerda enquanto as aldeias Fundinho e Pindaíba localizam-se à margem direita desse Rio. O principal tronco linguístico Kaxixó é o Macro-Jê e, onde se faz o resgate da língua é dentro da escola indígena na aldeia Capão do Zezinho.

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