Empresários são indiciados por nove crimes após deformarem pacientes em Goiânia

A empresária Karine Gouveia, de 33 anos, e o marido dela, Paulo César Dias, de 43, foram indiciados pela Polícia Civil de Goiás (PC-GO) por nove crimes distintos praticados durante procedimentos estéticos, em Goiânia. O casal foi preso no último dia 12 – cerca de um mês depois de serem soltos a mando da Justiça. 

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O inquérito foi encaminhado ao Poder Judiciário na última sexta-feira, 21. Os crimes ao qual o casal investigado vai responder, conforme a PC, são:

  • Exercício ilegal da medicina: por coordenarem e autorizarem a realização de procedimentos médicos, mesmo sem qualquer formação ou habilitação;
  • Lesão corporal gravíssima: 28 vezes cada um, em razão de danos irreversíveis causados às vítimas como necrose, deformações e infecções;
  • Falsidade ideológica: por falsificação de fichas, prontuários e documentos médicos com o objetivo de encobrir irregularidades e induzir o poder judiciário a erro;
  • Fraude processual: por falsificarem e apresentarem documentos em ações judiciais movidas por vítimas;
  • Falsificação, corrupção ou adulteração de produto terapêutico: duas vezes cada por armazenarem e aplicarem substâncias manipuladas sem origem ou sem autorização sanitária, com real risco de morte para pacientes;
  • Estelionato:  28 vezes cada um por simularem legalidade nos atendimentos e enganarem pacientes, fazendo-os acreditarem que estariam seguros e sendo atendidos por profissionais devidamente habilitados;
  • Propaganda enganosa: por divulgarem tratamentos cirúrgicos como sendo simples, seguros e eficazes, omitindo os riscos reais do que de fato era realizado;
  • Execução de serviço de alto grau de periculosidade: por autorizaram e realizaram procedimentos invasivos sem qualquer estrutura legal ou sanitária, colocando a vida de pacientes em risco.

Além de Karine e Paulo, a corporação indiciou mais de 10 profissionais que atuavam nos núcleos da organização criminosa. Dentre eles estão:

  • Uma biomédica responsável por falsificar receitas para compra de insumos proibidos; 
  • Estoquistas e auxiliares logísticos envolvidos na falsificação de receituários e na obtenção clandestina de substâncias injetáveis;
  • Cirurgiões dentistas que que realizavam procedimentos como lifting facial, rinoplastia, alectomia e outras cirurgias sem autorização;
  • Um profissional do ramo de insumos que atuava como intermediário na compra e na venda destes produtos proibidos. 

A organização criminosa, que contava com divisão de tarefas e hierarquia, tinha como chefes Karine Gouveia e Paulo César, de acordo com o delegado Daniel José de Oliveira. Eles eram responsáveis por comandar os procedimentos, o marketing e a movimentação financeira.

Abaixo dos empresários estavam os profissionais de saúde que, de acordo com o delegado, realizavam os procedimentos com plena consciência da ilegalidade. Na base do esquema estavam os responsáveis pela manipulação de documentos e aquisição dos produtos ilegais. 

“A investigação apontou que a clínica estética KGG apresentava uma estrutura aparentemente profissional. O casal contava com a participação de médicos, dentistas, estoquistas, biomédicos e o pessoal da logística para a execução dessas práticas ilícitas”, reforçou.   

A corporação identificou 30 vítimas diretas, mas investiga irregularidades provocadas em atendimentos de outras 100 pessoas. Ao menos 6 mil pessoas realizaram procedimentos estéticos no rosto entre 2018 e 2019, estima Daniel. 

“Elas podem estar com óleo de silicone ou PMMA no corpo, que são substâncias com grave risco de complicação para a saúde. Há outro inquérito em curso sobre o embaraço nas investigações, envolvendo a Karine, o marido dela e seus advogados”, concluiu. 

Em nota divulgada à imprensa, a defesa do casal informou que aguardava a remessa do inquérito policial ao Poder Judiciário. A defesa ainda teceu críticas ao delegado e ao inquérito, que chamou de “imprestável” (veja nota completa ao final).

Casal preso 

O casal foi preso, pela primeira vez, em dezembro de 2024, durante operação policial. Na época, foram cumpridos mandados em Goiânia e em Anápolis. Os envolvidos tiveram as contas bancárias, bens e valores bloqueados. No total, foram R$ 2,5 milhões apreendidos, além de um helicóptero avaliado em R$ 8 milhões.

Dois meses depois, em fevereiro deste ano, o casal foi solto após decisão da ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Daniela Teixeira. No documento, a ministra considerou que manter o casal preso era “desproporcional” e citou que outros investigados já tinham sido soltos.

Um mês depois, em 12 de março, Karine e Paulo voltaram a ser presos pela PC. A Justiça manteve a prisão dos empresários após audiência de custódia realizada no dia seguinte. Eles seguem presos.

Veja nota da defesa:

“A defesa de Paulo César aguardava ansiosa a remessa do inquérito policial ao Poder Judiciário para que fosse possível passar a valer o devido processo legal.

Infelizmente a Polícia Civil produziu uma peça jurídica insustentável, cujo único objetivo, em mais de um ano de investigação, foi o de manchar reputações e criar factoides.

O inquérito imprestável, certamente, será devolvido pelo Ministério Público ao delegado para que diligências sejam refeitas”.

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