Os quatro “cavaleiros do Apocalipse” da economia, segundo o presidente do Banco Central do Brasil

Houve um tempo, não muitos anos atrás, que os estrangeiros apostavam no futuro do Brasil. Hoje não mais. Pelo menos não com o mesmo entusiasmo. A confiança no país não se limitava às palavras, eram manifestas nos investimentos em empresas diretamente ou na Bolsa de Valores.

Como evidência dessa perda de confiança, neste ano de 2024, os Investidores estrangeiros retiraram R$ 25,9 bilhões da bolsa de valores brasileira. Os dados foram reunidos em um levantamento da consultoria Elos Ayta, que aponta esta como a maior fuga de capital desde, pelo menos 2016, ano em que a B3 começa a disponibilizar os dados consolidados utilizados no estudo.

O resultado é ainda pior se for levado em conta que praticamente não estão acontecendo muitos investimentos em novos negócios e os existentes, em sua maioria, são aportes das matrizes em suas filiais. Portanto, não são apostas novas, mas obrigações do passado.

Surpreendente é o fato de existirem aqui muitas oportunidades a serem exploradas, ter o mundo excesso de liquidez e o país é carente deles. Somos uma nação populosa, jovem, consumidora por necessidade e hedonista por natureza… enfim um grande mercado.

De uma necessidade de investir 25% do PIB, nível necessário para assegurar a superação do subdesenvolvimento e um crescimento sustentável, realizamos menos de 18% — o que só é suficiente para manter o e status quo, o que é sofrível. A superação deste limite depende de investimento do exterior, uma vez que não há suficiente poupança interna.

O que explica esse negativismo dos investidores estrangeiros?

O Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, da sua privilegiada posição e do alto da sua competência, em entrevista com o jornalista William Waak, explicou com muita lucidez na sua resposta. Segundo ele, “nas frequentes conversas tidas com investidores”, concluiu que, tendo em vista o desafio de escolher em quais país investir, “eles simplificavam o problema atendo-se a responder a quatro dimensões”:

1- Qual era a trajetória da dívida em um horizonte de 5 a 10 anos?

2- Qual a carga tributária?

3- Qual o crescimento estrutural?

4- Qual a qualidade dos gastos do governo?”

Didaticamente, Roberto Campos Neto, tendo em vista que os potenciais investidores têm como prioridade a segurança do investimento, que depende do país poder pagar as suas dívidas, é preponderante para a decisão. Um país em default não as paga. E a resposta às quatro dimensões dão o nível do risco a ser tomado.

Uma trajetória negativa da dívida, que é o nosso caso, é sinal de perigo, pois é o caminho da insolvência (ver nota ao final do texto). Uma carga tributária elevada como a nossa não deixa espaço para aumento de impostos para reduzir o déficit.  Um crescimento estrutural, o que no nosso caso é baixo – historicamente em 2% iguala o crescimento populacional, não ajudará a diluição da dívida. E, finalmente, a qualidade dos gastos de governo como a nossa é reconhecidamente péssima.

O governo gasta o grosso da arrecadação com uma máquina pública ineficiente, corrupta, à qual se acrescenta uma insegurança jurídica, onde até o passado é imprevisível. Do Orçamento Nacional nada sobra para investir. A arrecadação é recurso esterilizado. Ademais, o Orçamento tem poucos espaço para cortes. Está quase todo comprometido.

E essas quatro dimensões de Campos Neto poderiam, por semelhança, serem comparadas com os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, uma das imagens mais enigmáticas e comentadas da Bíblia. Porque essas figuras representam o caos, destruição e sofrimento; são sinais proféticos de tempos difíceis e de desesperança futura.

Para os investidores, a resposta negativa aos desafios dos quatro cavaleiros do Apocalipse traz como resultado os riscos com a desvalorização da moeda, empobrecimento da Bolsa de Valores, aumento da inflação e juros proibitivos. São dimensões de um termômetro que assinalam que a economia do país está em alto risco.

Os quatro cavaleiros do Apocalipse são personagens bíblicos que representam os julgamentos enfrentados pela humanidade desde o seu início: Morte, Guerra, Fome, Pestilência. Eles anunciavam o caos, destruição, e sofrimento e emitem sinais proféticos de tempos difíceis e de desesperança futura.

É o temor de um Apocalipse que afasta os investidores internacionais do Brasil. Não querem dividir conosco as consequências das nossas imprudências.

*Em outubro, o setor público registrou um déficit nominal de R$ 74,7 bilhões, elevando o acumulado dos últimos 12 meses para R$ 1,093 trilhão, o que corresponde a 9,5% do PIB. Paralelamente, a dívida bruta do governo alcançou 78,6% do PIB, reforçando a gravidade da situação fiscal. Nesse período, os pagamentos de juros totalizaram impressionantes R$ 869 bilhões, representando 7,6% do PIB. Esses dados ilustram um cenário preocupante, que exige atenção e ação imediata.

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