Coronel Washington Luiz: “Nenhum outro Estado teve um programa de antecipação de desastres como Goiás”

Com mais de 20 anos de trajetória na área militar, o bombeiro e coronel Washington Luiz Vaz Júnior, de 46 anos, nutre sua admiração pela área desde criança, quando o pai, bombeiro, o levava ao quartel para ver como funcionava a rotina dos profissionais que se comprometem a salvar vidas. À frente do Comando-Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás desde 2022, coronel Washington foi eleito, neste ano, presidente do Conselho Nacional dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil, a Ligabom, liderando comandantes-gerais dos 26 Estados e Distrito Federal.

Nesta entrevista ao Jornal Opção, o bombeiro militar revela o avanços da corporação, que hoje passa expansão de sua atuação, por meio da implantação contínua dos chamados “postos avançados” aos moldes norte-americanos, com investimentos feitos pela atual gestão do Estado e necessários em um ano ao qual se referiu como “desafiador”. Para o coronel, as alterações climáticas que originam desastres iminentes demandam, cada vez mais, a atuação integrada e com teor preventivo do Corpo de Bombeiros — tendência que, conforme o comandante-geral, Goiás tem seguido, para o alívio dos profissionais.

Ton Paulo – Tivemos, neste ano, uma série de eventos caóticos que demandaram atuação intensa do Corpo de Bombeiros, corporação que o senhor lidera em Goiás. Entre eles a grande quantidade de incêndios no estado, cujas ocorrências ultrapassaram 12 mil, e as enchentes no Rio Grande do Sul, que também contaram com ajuda de bombeiros goianos. Pode nos falar um pouco sobre essa sequência de desafios? Como o senhor avalia o ano de 2024, para os Bombeiros?

Este ano foi, realmente, de grandes desafios para as corporações dos Bombeiros em todo o País. É possível perceber que o sistema climático, não só do estado de Goiás, mas do Brasil e do mundo, está diferente. Os cientistas alertam que a temperatura global subiu, e isso está reverberando. Os períodos de chuva, por exemplo, estão alterados. Hoje, temos chuvas muito fortes e pontuais. Veja Goiânia, como exemplo: a qualquer chuva, registramos alagamentos. Quer dizer que os goianos estão entupindo os sistemas de escoamento, fazendo uma má gestão do escoamento de água? Não. É porque realmente está caindo mais água.

Tivemos, recentemente, a medição pluvial de um ponto em Goiânia. Antigamente, tínhamos uma chuva dinâmica, que caía no município inteiro ou no estado inteiro. Mas, nessa medição, detectamos 120 milímetros de chuva em uma hora. Quase 1.200 litros de água. Isso traz transtornos, provoca alagamentos, arrasta pessoas.

Ton Paulo – E o período de seca deste ano, foi mais rígido que em anos anteriores?

No que tange às secas, tivemos uma seca prolongada neste ano. Mas o governador Ronaldo Caiado tem nos ouvido bastante e promovido um programa de antecipação de desastres. É o primeiro governador que possibilita um programa assim, que é o Goiás Alerta e Solidário. Sou presidente do Conselho Nacional dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil, a Ligabom, posso comparar nosso cenário com o nacional. Dos 26 Estados que acompanho, por meio dos comandantes-gerais dos Bombeiros, o governador de nenhum deles promoveu um programa assim.

Os cientistas já estavam cientes e alertavam que teríamos uma seca muito severa, mas é difícil medir o impacto dela. Contudo, é possível afirmar quando será uma seca longa e forte, conforme previmos. E assim aconteceu. Esse período de estiagem se prolongou muito mais do que costumávamos ver, e tivemos um calor muito diferente, com baixíssima umidade. Em Goiás, chegamos a ter umidade do ar zero, clima de deserto.

Italo Wolff – Foi mencionada a quantidade de ocorrências registradas de incêndio em vegetação em Goiás neste ano: acima de 12 mil, correto? Um número que ficou acima da média?

Sim, estamos nesse número. Mais de 12 mil ocorrências registradas neste ano. E é a pior média do Estado de Goiás. Havíamos atingido, em outros anos, a média de 10 e 11 mil ocorrências, mas não havíamos chegado a 12 mil. E é válido ressaltar que esse número se refere somente às ocorrências de incêndio em vegetação. Vivenciamos uma seca que foi um verdadeiro desastre. Pode ser que não tenhamos percebido, e talvez a percepção do grau de queima seja menor porque estamos dentro das cidades. Mas este ano tivemos vários desastres provocados pela seca, muitos incêndios.

Comandante Geral do Corpo de Bombeiros, Coronel Washington Luiz Vaz Júnior. foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

O pantanal mato-grossense, por exemplo, ficou seis, sete meses queimando. A região do Pantanal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul queimou bastante. A Amazônia também teve uma vasta área de preservação atingida pelo fogo. Foi gravíssimo, mas, infelizmente, o assunto não tem notoriedade na mídia como merece. E com isso, a Ligabom, que é o Conselho Nacional dos Comandantes-Gerais dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil, se lançou em uma missão. Questionamos: “De onde está vindo o fogo?”. Averiguamos, e as chamas tinham origem na Bolívia.

A população da Bolívia estava sofrendo com o mesmo problema que nós, quanto aos incêndios, e eles estavam fazendo uso de uma ferramenta que também utilizamos, que é o chamado ‘fogo contra fogo’. Mas, ao meu ver, eles estavam somente empurrando o fogo para frente, para o Brasil.

Italo Wolff – Como funciona o ‘fogo contra fogo’?

É quando há uma linha de fogo queimando vegetação, e o bombeiro, de forma controlada, ateia fogo em outra parte, para que as chamas se encontrem e o incêndio seja debelado. Mas é preciso haver uma área de fuga para as pessoas e uma área de fuga para os animais. Se você não faz uma rota de escape, morre o bombeiro e mata-se os animais. Os animais vão ficar ilhados entre dois fogos. Então, fazemos todo o processo: levantamos drone, conferimos se não há animal ou bombeiro naquela área.

Se temos uma rodovia, uma pista, um rio, vemos que ali está um acero, e ateia-se o fogo. Como o fogo inicia mais “frio”, não tão quente como o outro que está chegando, consegue-se fazer uma queima controlada, acabando com aquela massa de combustível que alimentaria o incêndio. Quando as chamas chegam ali, naquele ponto, aí acontece o fogo contra fogo.

Falo de forma muito tranquila que não tivemos uma crise mais grave na saúde pública na capital porque os bombeiros entraram em ação

A Ligabom mandou 25 bombeiros em um primeiro momento, de Brasília, que ficaram 40 dias trabalhando na Bolívia. Depois, as tropas retornaram e mandamos mais 35 bombeiros militares. Mandamos muitos a partir do Nordeste brasileiro, que era a tropa mais disponível naquele momento. Quando conversei com o governador, eu disse “Precisamos mandar gente para a Bolívia”. Ele me perguntou “E Goiás, como está?” e eu respondi que estava, também, queimando. Foi quando ele disse “Então não sai um único bombeiro de Goiás”. E o governador está certo. Se não cuidarmos de nós, não há como cuidar do outro.

Os outros governadores também não deixaram sair suas tropas. Mas na região Nordeste estava tranquilo. Essa é a diferença de um país continental, porque o Rio Grande do Sul estava sofrendo com chuva forte e ficando debaixo d’água, devido às enchentes; Acre e Roraima estavam queimando. Foi um ano desafiador. Tivemos um período com 28 mil bombeiros no dia trabalhando. Foram mais de 160 mil ocorrências de incêndio em todo o país.

Ton Paulo – A corporação em Goiás mudou a cor do fardamento. Por quê?

O bombeiro militar precisa estar integrado, unido. Inclusive, no próprio fardamento. Por isso estamos aderindo ao laranja. O motivo é que o laranja do novo fardamento é uma cor internacional. No Brasil, hoje, já temos 22 estados onde as corporações usam essa cor em seus trajes. Goiás, agora, é o vigésimo terceiro. Já está alinhado com o governador Ronaldo Caiado, e penso que até fevereiro do ano que vem, toda a tropa vai usar laranja.

Isso aumenta a visibilidade do bombeiro, é uma cor que é vista de longe. Essa é a ideia. Ao contrário da polícia, por exemplo, que precisa ficar mais camuflada, o bombeiro precisa ficar em evidência. Nos incêndios, desastres, na rua, no show. A pessoa que está em um show e precisa de socorro já vê, ao longe, o bombeiro pela cor de seu traje.

Italo Wolff – E quais lições é possível dizer que tiramos de um ano como este, com tantos desafios?

O que percebi este ano é que as corporações estão crescendo muito. Na época das enchentes no Rio Grande do Sul, foi um desastre em que tivemos o trabalho conjunto das corporações de todo o País. Isso nunca havia acontecido na história do Brasil. Mas uma parte da população não entendeu que essa tragédia no Rio Grande do Sul foi o pior evento climático que o País já sofreu. Talvez não tenhamos essa percepção, porque a dor ficou só ‘lá embaixo’, no Sul. Vimos imagens e tudo, mas o pessoal não entendeu que nós chegamos a 92% de um estado atingido. É como se 230 dos 246 municípios de Goiás ficassem embaixo d’água.

No Rio Grande do Sul, a população foi muito afetada. Com isso, mandamos bombeiros para lá e criamos o gabinete de crise em Goiás. É necessária a criação de um gabinete de crise para operar a atuação no desastre, para operar a logística. O lugar afetado recebe muitas doações e elas não podem chegar de qualquer jeito. Meses depois que nós criamos o gabinete de crise, o Governo Federal decidiu criar também um gabinete de crise de integração interministerial. Foram cerca de quatro ministérios que se juntaram para, exatamente, discutir soluções.

Nós estamos evoluindo, sim. Os gabinetes de crise fortaleceram as ações de combate, demonstrando que um trabalho integrado, conjunto, traz resultados. No Rio Grande do Sul, foram 80 mil vidas salvas. E quase metade das vidas salvas foram por mãos de bombeiros militares. Nessa época, veio a pergunta de um repórter: “Como vocês andaram tão bem em alguns pontos de enchentes, onde até o Exército e a polícia tiveram dificuldade?”. Eu respondi que nós treinamos para isso constantemente. Só precisamos, agora, fazer um nivelamento e treinar para os eventos que vão acontecer, porque teremos mais. Vão entrar tempestades, chuvas fortes, furacão no Brasil. Então, temos que nos preparar para esses eventos que vão surgir agora.

Ton Paulo – Mas, na visão do senhor, há alguma necessidade de aperfeiçoamento na corporação?

Fui para os Estados Unidos no ano passado, a trabalho. E o modelo deles segue a ideia de que o bombeiro tem que estar perto dos incidentes. E é isso que digo, que temos que descentralizar o bombeiro, fazer como os Estados Unidos estão fazendo há muito tempo. Lá, os quartéis são pequenos, mas altamente efetivos. E não há um departamento de administração tão robusto.

Estou há três anos à frente do comando-geral do Corpo de Bombeiros, e refleti sobre o porquê de termos uma administração grande, tão robusta. Quartéis grandes, guardas, guarita. Nós carregamos uma tendência de aquartelamento, de ‘coisa grande’, estruturas grandes. Já nos Estados Unidos, na França é diferente. Eles contam com postos pequenos. Porque o nosso almoxarifado é o quê? O caminhão. Se o caminhão vai para a rua, tenho que vigiar somente o posto avançado, que é um “quadrado”, um “caixote” ali.

São unidades baseadas no modelo norte-americano que visa ampliar a cobertura de atendimento e diminuir o tempo de resposta às emergências, garantindo que as viaturas cheguem mais rapidamente às ocorrências.

O comandante que passou pelo Corpo de Bombeiros do Estado de Goiás ficou nove anos e entregou 10 postos avançados. Nós entregamos cinco no ano passado e devemos entregar mais 10 até julho de 2025. Ou seja, a previsão é que, até 2026, cheguemos a mais 45 postos avançados. Na capital serão cinco, e em Aparecida serão quatro. Isso vai descentralizar e fortalecer a corporação. Em resumo, temos 44 postos e a ideia é dobrar esse número e entregar mais 45.

Este ano tivemos vários desastres provocados pela seca, muitos incêndios

Esse é o objetivo, poder afirmar que mudamos o sistema, o modelo, que voltamos 400 bombeiros para as ruas. De que forma? Enxugamos a máquina administrativa e pegamos aquele bombeiro que ficava no computador, que estava na administração, dirigindo um carro administrativo, na guarita fazendo guarda e o colocamos de volta na ala operacional.

Italo Wolff – E quanto aos investimentos e aumento de efetivo? Estão acontecendo?

Nós vamos dobrar a presença dos bombeiros no Estado. Para isso, é preciso um ajuste de pessoal. O governador contratou 612 bombeiros do ano passado pra cá, com o concurso público, e já estamos nos preparando para mais 600. Só no ano passado foram 128 milhões de reais em investimentos pelo governo do Estado de Goiás e emendas parlamentares. Este ano, já estamos com a previsão de chegar a 170 milhões de reais em investimentos em equipamento e viaturas.

É um investimento grande que a corporação tem tido, e um crescimento da nossa visibilidade. Porque, quando você compara, estamos diminuindo as distâncias entre a corporação e a população, estamos dando resposta.

E são investimentos necessários para as demandas. Falamos, aqui, em mais 12 mil atendimentos apenas em incêndios em vegetação. Eu digo que se não tivéssemos instalado um gabinete de crise integrado, com Polícia Militar, Polícia Civil, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, os órgãos ambientais, os bombeiros civis, já teríamos estourado 20 mil ocorrências de incêndios. Tivemos, só este ano, mais de 150 prisões de pessoas flagradas ateando fogo em vegetação. É preciso destacar que cerca 90% das causas desses incêndios são o ser humano.

O governador Ronaldo Caiado lançou uma lei que endurece a punição para o crime de incêndio, o Supremo Tribunal Federal a derrubou, mas só com a iniciativa do governador já tivemos uma redução no número de ocorrências do tipo. Pois essa lei foi muito divulgada, e as pessoas denunciaram muito. Sobre as prisões que tivemos, não é sobre criminalizar a pessoa, jogá-la e deixá-la numa cela. É o corrigir o hábito que, talvez, a pessoa já tenha. Se a pessoa quer limpar um lote, que acione a Prefeitura. O objetivo é, realmente, acabar com o hábito de atear fogo na vegetação, porque é algo que traz prejuízo para todos.

Ton Paulo – E nessas ocorrências, muitas graves, o bombeiro não está isento e livre dos riscos, correto?

Este ano tivemos uma ocorrência de incêndio em um canavial. Quando um canavial incendeia, a temperatura pode ir acima de mil graus. Um dos bombeiros, altamente treinado, estava lá com o caminhão e ficou cercado. Ele tentou sair do caminhão, não conseguiu e voltou para dentro do veículo. Ele se queimou junto com o caminhão.

Hoje esse bombeiro está bem, mas chegou a ficar na UTI, entubado. Ou seja, incêndios são perigosos, eles matam, trazem muito prejuízo. E nós temos que trazer essa conscientização para a sociedade. Temos, inclusive, feito um trabalho intenso com o Projeto Bombeiro Mirim.

Comandante Geral do Corpo de Bombeiros, Coronel Washington Luiz Vaz Júnior, em entrevista aos jornalistas Italo Wolff e Ton Paulo. foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

A primeira-dama Gracinha também está fazendo vários investimentos na corporação pelo Fundo Protege. Ela também gosta muito da corporação. Só do Goiás Social nós temos 28 milhões de investimento. Inclusive ela está investindo em caminhonetes, comprando 32 caminhonetes agora pelo Fundo Protege. Por conta do Goiás Social. Como dito antes, é o primeiro governo que faz realmente uma operação preventiva de desastres.

Estamos fazendo um processo de prevenção e protegendo, principalmente, o Nordeste goiano, que é uma região que sofre mais com os desastres. É onde chove mais, mas tem mais seca. Conversei com o comandante-geral dos Bombeiros da Bahia, e para eles é inverso: nós temos mais ocorrências no Nordeste do estado, e no Sudoeste. A região das chapadas, a Chapada Diamantina de lá e a dos Veadeiros de cá, tem um poder climático, de muita chuva e sol muito forte. Elas sofrem com essas duas eventualidades.

Italo Wolff – E imagino que com a ampliação dos postos avançados, a cobertura das ocorrências no Estado de Goiás esteja melhor.

Muito melhor. Quando fizemos a radiografia da situação, quando assumi o comando-geral, já tinha esse sonho dos postos avançados. Eu visitava os Estados Unidos antes e via a eficiência dos postos, e nós com os grandes quartéis. Nossos quartéis custavam arte oito milhões de reais para serem construídos. Hoje, um posto avançado supre todas as demandas. Perdemos zero poder operacional. Tem-se, da mesma forma, o caminhão multifunção, que é para incêndio e salvamento; tem-se a unidade de resgate, que é a ambulância; e tem-se a caminhonete, também multifunção, para fazer salvamento aquático, salvamento em altura, desencarceramento. O poder operacional em torno de 12 anos, e o posto avançado se resume exatamente a esses três equipamentos.

O que nós retiramos do posto? Essa “grandiosidade”, que demanda efetivo para os cuidados e realocamos o administrativo para um quartel de maior capacidade. Essas ações integram um método chamado Sistema de Comando de Incidentes, e é uma tendência mundial que vem da Califórnia, nos Estados Unidos. Esse método diz que você precisa ter um controle de até sete equipes. Estamos adotando esse mesmo método. Então, o quartel grande cuida de sete postos avançados. Eu diminuí o setor administrativo, guarda, telefonia e avoquei para uma unidade só. Essa unidade cuida da parte administrativa.

Valorizamos o Nordeste goiano, onde havia um “vão”. Levava até quatro horas para uma pessoa daquela região ser atendida pela corporação. O Entorno só tinha três unidades de postos avançados. Eu digo que o número de postos avançados em Goiás vai dobrar, mas no Entorno vai triplicar. Essa região passará a ter mais de sete unidades. E o Vale do Araguaia também, onde havia um “ermo”, na região da divisa com o Mato Grosso. Lá também teremos a instalação de postos avançados.

Ton Paulo – O senhor assumiu o comando-geral do Corpo de Bombeiros Militares de Goiás em maio de 2022. Em que estado o senhor pegou a corporação? E como ela está hoje na questão de números e investimentos?

Fizemos um balanço geral, e a primeira situação verificada era a necessidade de trazer as tropas de volta ao operacional. É preciso ter liderança sobre a tropa, trazer os oficiais, para que eles pudessem comprar a ideia do posto avançado. Os projetos prioritários foram o posto avançado no modelo americano; entregar uma policlínica de atendimento para a família e para o bombeiro, uma vez que ficávamos em um puxadinho, não se tinha esse atendimento; e trazer uma academia para o bombeiro.

Eu tive o prazer de ter ido à Academia de Bombeiros e comandá-la antes mesmo de ser comandante-geral. A academia estava largada, quebrada. Foi quando eu disse: “Vamos derrubar e construir um prédio novo”. Construímos um prédio de quatro mil metros quadrados, com recursos do Ministério Público, do Tribunal Regional do Trabalho, que são grandes parceiros da corporação. O Ministério Público, hoje, é amigo do Corpo de Bombeiros. Temos uma plataforma pelo MP e pelo TRT, órgãos que nos mandam recursos de multas. E através disso fizemos, na academia, os investimentos. Foram mais de 13 milhões de reais de investimentos só na Academia de Bombeiros. A estrutura hoje é quase de uma universidade. São quatro pavimentos, elevador, duas escadas, 22 salas de aula. Fica no setor Goiânia 2.

Com isso, você transforma a corporação. Como pegar uma instituição e torná-la forte? É preciso investir em conhecimento.

Ton Paulo – E como está o efetivo, hoje, do Corpo de Bombeiros de Goiás?

Aumentamos em 612. Hoje, estamos com 3.100 homens. Com o projeto de expansão, queremos chegar até 4 mil homens. Quando assumi o Corpo de Bombeiros, tínhamos 2.400 homens. Fizemos um novo contrato, de 612 homens, e trouxemos o pessoal que, até então, prestava serviço fora. Reconvocamos bombeiros militares, por meio de um decreto. Criamos, junto com o governador, um benefício para o veterano: ele ganha três, quatro mil reais de benefício, e em vez de ficar em casa, volta para a corporação, mais no departamento administrativo, devido à idade.

Ton Paulo – Qual é a estratégia para aumentar o quantitativo para 4 mil bombeiros militares?

A ideia é concurso público. Temos algumas ferramentas usadas em nível nacional. Estão fazendo seleção para bombeiros temporários, como no Rio de Janeiro. Recruta-se o jovem de 18 a 25 anos, ele pode ficar por até oito anos na corporação, e durante esse período, com a abertura de concurso público, o jovem pode ir de bombeiro temporário para efetivo, dentro da própria corporação. O Rio de Janeiro tem esse modelo há três anos. Eles têm 4 mil homens efetivos e 5 mil temporários.

Comandante Geral do Corpo de Bombeiros, Coronel Washington Luiz Vaz Júnior. foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Uma outra estratégia, de São Paulo, em que se capacita o bombeiro civil, e com isso, faz-se uma parceria pública-pública. O bombeiro civil é treinado na Academia de Bombeiros, faz-se um contrato com a prefeitura que precisa e são enviados os bombeiros para o município. São os modelos que estão rodando hoje no país. É uma forma, também, de quebrar o peso previdenciário. As carreiras militares são altamente técnicas, todas com curso superior. Você pega de um soldado hoje nosso ao coronel, todos são cursos superiores.

Mas a ideia é ter os 4 mil bombeiros efetivados e alçarmos novos voos nos dois modelos que apresentei. Precisamos ter pelo menos 4 mil efetivos, que são uma boa base para o Estado, e desses podemos chegar a sete, oito mil, mas em um modelo diferente, provisório ou temporário. Porque tenho 3.100 homens. Mas quantos ainda estão no computador?

Ton Paulo – E uma das soluções, como o senhor mencionou, é enxugar o administrativo e aumentar o operacional?

Sim. Uma coisa interessante que vimos nos Estados Unidos, em Miami-Dade. Eles têm 3 mil homens, e perguntei ao comandante-geral: “Quantos estão na administração?”. Ele riu, achou engraçado, disse “Aqui ninguém trabalha na administração. A administração sou eu e meu auxiliar”. Isso porque, os que cumprem a demanda administrativa são terceirizados. Precisamos amadurecer para isso. Abrir uma frente de trabalho dentro das corporações. Claro, seriam contratadas pessoas capacitadas para tal, com análise de ficha, e põe-se o bombeiro exclusivamente na rua para atender o cidadão. Abrimos um concurso para bombeiro para vê-lo apagando fogo e salvando vidas, e não dirigindo, protegendo quartel.  

Italo Wolff – O senhor teve uma reunião, na semana passada, no Ministério da Justiça e Segurança Pública. O que foi conversado?

Após o desastre do Rio Grande do Sul, os números quanto à atuação e combate em desastre chamaram a atenção. Porque nunca havia se visto uma atuação tão intensa dos bombeiros. Lembro-me de uma situação em que um senhor estava desaparecido, naquele cenário de enchentes. Nós, com nossa equipe de cães, encontramos o corpo dele em menos de 20 minutos, por exemplo. E isso, nossas técnicas, nossos métodos, chamou a atenção do Ministério da Justiça.

Para entender, eu tenho visitado os Estados Unidos e acompanhando o modelo que eles usam. E é um país que tem muitos desastres, como furacões. Me tornei amigo de um capitão da corporação de lá, e ele explicou o seguinte: quem paga quando temos a entrada em um desastre é o governo federal. Lá, eles treinam treinamos em nível nacional, e existe um protocolo a seguir. O treinamento é concluído e faz-se um nivelamento geral. É escolhido um estado para fazer esse treinamento geral.

O objetivo é poder afirmar que mudamos o sistema e voltamos 400 bombeiros para as ruas, para atender a população

O governo federal tem o banco de dados desse treinamento e, quando acontece um desastre, o governo federal aciona uma força-tarefa. É o que está sendo lançado agora no Brasil, Sistema Nacional de Resposta a Desastres, o Respad. Que é o mesmo modelo americano, mas uma resposta a desastres no Brasil, via Ministério da Justiça e Ligabom, da qual sou presidente. A Ligabom vai controlar e nivelar todas as equipes, preparar os bombeiros. Um bombeiro de Roraima e um bombeiro do Rio Grande do Sul, ou de Goiás, terão o mesmo treinamento para resposta a desastre com fogo, escombros, enxurradas ou alagamentos. Então, estaremos nivelados. Teremos um protocolo de atendimento, de abordagem.

O Ministério da Justiça entra com o financiamento dos custos. Porque foi a grande crítica que fizemos. Com as enchentes do Rio Grande do Sul, por exemplo, todos os governadores do Brasil tiveram um prejuízo ou um investimento de 30 milhões de reais. Contudo, esse dinheiro deveria ter saído dos cofres federais, como uma resposta ao desastre que atingiu o povo brasileiro.

No Ministério da Justiça, fizemos uma grande reunião de fechamento de trabalho para apresentação. Nós tínhamos 12 estados envolvidos e ouvimos 12 especialistas de todo o país. Agora, estou tentando buscar o lançamento para Goiás. Existe uma dificuldade até política, porque isso daria visibilidade ao governador, mas estou aqui em Goiás, como o presidente da Ligabom, e gostaria de trazer o Respad para cá. E quero fazer a integração com a Defesa Civil, que também faz resposta a desastres. Precisamos conversar uma mesma linguagem, não podemos nos dividir. E é para isso minha movimentação: qual é a convergência? Nós salvamos vidas, protegemos o meio ambiente e vamos juntos investir nesse projeto. E parece que esse discurso tem surtido um efeito positivo.

Mas a ideia é trazer o Respad para Goiás. Ou para Brasília, se houver muita divergência. Mas nós faremos uma reunião, com todos os comandantes-gerais da Ligabom, para assinar o projeto, juntamente com o Ministério da Justiça, o ministro Ricardo Lewandowski, doutor Mário Sarrubo, que é o secretário nacional de Segurança Pública, junto com a Força Nacional. Porque a Força Nacional tinha a vaidade de não deixar isso acontecer. Mas agora, após o Rio Grande do Sul, isso tem mudado. O Rio Grande do Sul ensinou que não se consegue sozinho.

Ton Paulo – O senhor foi eleito neste ano para presidir o Conselho Nacional dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil, a Ligabom. Como tem sido a experiência?

Lá eu trato com comandantes-gerais. Todos eles têm autonomia de Estado, e precisamos saber realmente como tratar cada comandante, cada liderança, respeitar as divergências. O comando do Acre e Roraima, no Norte do país, por exemplo, tem um efetivo operacional menor. Mas quando olhamos o comando do Rio de Janeiro, eles têm um efetivo de 8 mil homens, 8 mil homens. Assim como Brasília, que tem 8 mil homens. Tocantins, cerca de 1.500 homens. Goiás, 3.100. Minas Gerais tem 8 mil homens altamente especializados. A situação em Brumadinho, do rompimento da barragem, deu uma aula para eles. Investiram em tecnologia, aeronaves, equipamento de desencarceramento.

Então, é preciso saber respeitar essas diferenças culturais e de capacidade de poder operacional. Liderar esses comandantes é respeitar realmente a singularidade de cada um deles, trazendo sempre novidades e incentivos para as corporações. O posto americano foi algo no qual insisti desde o início. E eu sempre quis assumir a presidência da Ligabom. Nunca tive interesse político, mas sim de ver a corporação mais forte. Sou filho de bombeiro, desde os cinco anos de idade me atraio pela profissão. Meu pai me levava para dentro dos quartéis, para mostrar como era. Tenho uma paixão tremenda pela corporação, e acredito muito no viés dela de salvar a vida.

Comandante Geral do Corpo de Bombeiros, Coronel Washington Luiz Vaz Júnior. foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Sei que fazemos a diferença para a sociedade. Tenho vários relatos de pessoas vítimas de alguma ocorrência que disseram “Fui tão bem tratado dentro da viatura”, após cair de moto, bater o carro e ser socorrido. Isso é gostoso, porque percebemos que estamos cumprindo nossa missão. E eu queria que isso se fortalecesse mais.

Percebi uma divisão muito grande de bombeiros civis e militares. A questão é que existe espaço para todo mundo. O bombeiro florestal, o bombeiro civil que apaga o incêndio florestal, tem espaço para ele. Precisamos trabalhar com ele também. Eu assumi a Ligabom com essa pegada, realmente, de integração, de pegar o que está melhor em Minas Gerais e dividir com São Paulo, por exemplo. Se uma corporação está investindo em uma tecnologia para melhorar, por exemplo, controle patrimonial, de material dentro de uma viatura e gastou 10, 15 mil reais em um aplicativo. Por que não dividir com os outros 26 Estados e diminuir o custo deles?

Foi quando começamos a criar os comitês. Hoje, somos 17 comitês brasileiros estudando várias frentes de bombeiros no país. Um exemplo de objetivo de estudo dos comitês é o carro elétrico, que produz queima, com emissão de gases e calor, como qualquer outro carro, só que com uma caloria muito mais alta e pode comprometer a estrutura de prédios antigos. E como receber essa nova tecnologia sem atrapalhar sua chegada? Nos empenhamos em criar as ferramentas de segurança. Criamos um comitê agora para estudar carro elétrico. Tivemos representantes que foram à China, Alemanha e França. Eles estudaram como funciona e, agora, em aproximadamente um mês, será publicada uma norma brasileira, com diretriz da Ligabom, para que todos os comandantes apliquem os protocolos para atuar com os carros elétricos. Não só na operação de apagar o incêndio do carro elétrico, que é bem diferente. Os prédios terão que aumentar o sistema preventivo predial, com detector de fumaça, com sprinkler maior, por exemplo. São estudos que fazemos via comitê.

Italo Wolff – E há estudos na área da psicologia também, para lidar, por exemplo, com tentativas de suicídio? Uma vez que é uma ocorrência frequentemente registrada pelo Corpo de Bombeiros.

Sim, o comitê também foca nessa área da psicologia. Já havíamos percebido que grande parte das abordagens nesse tipo de ocorrência era com a pessoa que está muito ansiosa, com algum problema, mas precisa conversar. E muitas vezes está querendo ter, mesmo, a atenção para essa conversa. Mas temos duas linhas, hoje, de pensamento para a abordagem. Tem uma abordagem mais comunicativa, interpretativa, de entender a pessoa e podemos fazer o resgate. E também tem a abordagem mais incisiva, quando, por exemplo, a pessoa está em cima de um prédio de 30 andares, falando incoerências e fora de si. Você percebe que a pessoa está em crise.

Então há esse protocolo que a nossa equipe já está treinando, em nível brasileiro e nivelado com outros estados.

Ton Paulo – Qual é o maior desafio, dificuldade da incorporação hoje em Goiás?

Penso que é o valor de aquisição dos equipamentos usados pelos bombeiros. Vejo que os equipamentos de bombeiros são caros, não são fáceis. E levando em conta um governante que tem um recurso limitado, porque todos estão limitados, não existe ninguém com recurso sobrando, nem o governo federal está com dinheiro sobrando dinheiro.

Numa comparação com a Polícia Militar, por exemplo, uma viatura custa cerca de 200 mil reais. Uma Duster, que é um bom carro e é usado hoje em Goiás, com maior volume, com capacidade. O EPI do policial, que é o Equipamento de Proteção Individual, EPI do policial, envolve o fardamento, que custa em torno de 700 reais; 700 reais; um protetor de balaclava, o colete balístico, que é em torno de 3 a 4 mil reais; e a munição e armamento, que é em torno de 6 mil. Então, praticamente. com cerca de 230 mil reais, tem-se um carro de polícia na rua, com dois policiais.

Já o bombeiro, um só caminhão usado pela corporação custa em torno de 2 milhões e meio de reais. O EPI também tem um custo muito alto. Nossa vestimenta custa em torno de 700 reais; mais a capa protetora que usamos, o gold, que agora está partindo para o modelo americano bege, que custa cerca de 8 mil reais. Temos ainda a EPR, que é o equipamento autônomo que dá ao bombeiro mobilidade e autonomia para realizar atividades de combate a incêndios, salvamento e atendimento a emergências químicas, cujo valor chega a 35 mil reais, o kit. Ainda tem o capacete de proteção, que custa cerca de 7 a 8 mil reais. Mais a bota de incêndio, com solado específico, cuja valor é em torno 2 a 3 mil reais.

Estamos fazendo um processo de prevenção e protegendo, principalmente, o Nordeste goiano, que é uma região que sofre mais com os desastres

Ou seja, um bombeiro equipado chega a 60 ou 70 mil reais, por bombeiro. Mais o caminhão, que 2 milhões e meio de reais. Então você vai comprar 20 viaturas de polícia ou uma de bombeiro? Por isso faço questão de destacar os investimentos do governador. Nenhum quis fazer o que ele está fazendo agora. Comprando 10 caminhões, 60 caminhonetes para a corporação.

Portanto, a maior dificuldade que eu vejo dos bombeiros é essa busca por fonte de recurso. Até no Ministério da Justiça havia essa tradição, já quebrada na nossa gestão da Ligabom. De pensar “Bombeiros é uma corporação menor, então vamos mandar menos recursos. Polícia é maior, vamos mandar mais recursos”. Mas isso não existe. Você pode tem dois mil bombeiros, mas o custo de cada um é dez vezes maior, os equipamentos são mais caros, os materiais são mais caros. Eu apontei esse equívoco. Precisamos pensar de forma igualitária, não porque queremos competir com outra corporação, mas porque precisamos custear os equipamentos necessários para nossa atuação.

É de se refletir sobre o desafio de Estados menores, como Roraima, Amapá para poder convencer o governador a pagar 2 milhões e meio em um caminhão. E não é só um caminhão. Normalmente, são necessários 8, 10, 20 caminhões. É um desafio.

E o desafio passa, também, pelo incentivo de expansão da corporação via projeto Capilaridade, dos postos avançados. O modelo que estamos usando em Goiás são postos de isopainel de 280 metros quadrados e custam, cada um, 1 milhão e 300 mil, mais barato que o caminhão. E é um modelo em expansão. 12 estados pegaram, conosco, esse modelo dos postos e já estão aplicando em seus territórios.

Italo Wolff – Falamos sobre o número de atendimentos de ocorrências de incêndio em vegetação neste ano, acima de 12 mil. E qual o número geral de atendimentos, incluindo resgates, salvamentos e outros?

O número de atendimentos do Corpo de Bombeiros de Goiás hoje está entre 160 e 170 mil atendimentos por ano. Houve um ano em que chegamos a 198 mil atendimentos. Somente o resgate, uso do sistema de ambulância, viatura de rua chega a 65% dos atendimentos de bombeiros. Também temos o aeromédico. Somos privilegiados por termos dois aviões Barons, um avião Seneca e em 20 dias, teremos um King Air, que é um avião pressurizado. Isso vai ser inédito, termos avião King Air à disposição dos goianos, de forma gratuita. Ou seja, se houve um acidente do Vale do Araguaia, com vítima em estado gravíssimo e ela conseguiu uma vaga em uma UTI em Catalão, por exemplo, a vítima pode chegar lá a tempo. O avião decola de Goiânia e, em 30, 40 minutos, pousa no local.

Do mesmo modo, temos a repatriação. Se um goiano está a passeio na Bahia, por exemplo, e é vítima de um acidente, nós o repatriamos para Goiás. Se uma pessoa está em tratamento de uma doença rara e específica, cujo tratamento só existe em São Paulo, pelo SUS. Temos muitos bebês e idosos nessa situação. O avião sai daqui e vai até lá. Só no ano passado, fizemos 1.700 atendimentos gratuitos, atendimento esse que atinge a todos: pobre, rico, branco, preto. Não existe diferenciação de classe social. O paciente entrou na regulação médica, é grave, é enquadrado no processo específico, entra na fila e recebe o transporte aéreo.

Italo Wolff – E qual o impacto da atuação dos Bombeiros na área da saúde municipal, que atravessa uma crise em Goiânia? Há, inclusive, relatos de falhas no atendimento por parte do Samu.

Eu falo de forma muito tranquila que não tivemos uma crise, mesmo, de saúde pública na capital porque o bombeiro entrou em ação. Chegamos e agora não tem como voltar mais atrás. Quando assumimos o comando da corporação, a capital tinha oito unidades de resgate. Estamos hoje com 17 unidades. Criei duas unidades de resgate, hospitalar, com médico, enfermeiro, para regulação intermediária, que é o chamado VIR, Veículo de Intervenção Intermediária. E temos as unidades de suporte avançado e os médicos e enfermeiros nos aviões e no helicóptero. Nosso helicóptero, antes de um incidente no Vale do Araguaia, estava rodando Goiânia inteira, fazia uma cobertura de cem quilômetros de raio todos os dias na cidade.

Nós salvamos diversas vidas com esse tipo de atendimento. Temos também o Grupo de Ações e Respostas Rápidas, o Garra, que são nossas motos de resgate. O Garra está fazendo um serviço tremendo. O trânsito da capital não foi preparado para o que temos hoje, de fluxo de veículos. Esses períodos de 7h às 9h, e das 16h30, 17h até às 19h30 o trânsito trava. Então, o moto resgate veio para a capital. Estamos com mais de 20 motos resgate, motos de 900 cilindradas que vêm com o kit de estabilização. Se a pessoa sofrer uma parada cardiorrespiratória, a moto resgate vai chegar, desfibrilar e reverter a parada. É um serviço que atende toda a população da capital.

Hoje, estamos com 3.100 homens. Com o projeto de expansão, queremos chegar até 4 mil homens

Já determinei o aumento do treinamento e capacitação do pessoal, e eu percebo esse mesmo problema, de tempo de chegada do atendimento devido à distância e trânsito, em regiões como Luziânia. Lá, temos o entroncamento de Valparaíso e Luziânia em que as viaturas ficam na fila para chegar ao atendimento. Vamos colocar a moto resgate no Entorno e também em Aparecida de Goiânia, que está precisando, e também em Rio Verde.

Comandante Geral do Corpo de Bombeiros, Coronel Washington Luiz Vaz Júnior. foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

E temos o Garra Itinerário. Por exemplo, há um evento em Caldas Novas com quase um milhão de pessoas. Mandamos o Garra Itinerário para lá, pois as viaturas não conseguem chegar no meio do público. Já a moto entra no meio da população, chega na vítima, consegue estabilizá-la. Em Pirenópolis também tem evento, o Garra Itinerante, do mesmo jeito, vai para lá. Portanto, é outro serviço em que a corporação tem investido para comunidade e a sociedade.

Italo Wolff – A corporação chegou a ficar sobrecarregada nesse período de instabilidade na saúde da capital?

Goiânia ficou bastante sobrecarregada. Foi um trabalho de 17 unidades de resgate, mais as motos de resgate. Mas conseguimos enfrentar o problema, porque ninguém ouviu falar de vítimas que ficaram desatendidas. Ou seja, O Corpo de Bombeiros conseguiu segurar a situação, o Estado realmente embarcou nisso.

Aumentamos nossa capacidade para poder não deixar a capital desatendida. Isso foi uma determinação do próprio governador Ronaldo Caiado. Tenho certeza que vamos chegar a quase 200 mil atendimentos no fechamento deste ano, pois evocamos parte do serviço do Samu, de fato. Houve períodos em que, realmente, o Samu não atendeu. Estamos, hoje, com um convênio com a Secretaria de Saúde, com quatro motoristas, quatro viaturas de Samu apoiando o transporte intra-hospitalar. Os Bombeiros entram para apoiar o Samu Bombeira agora entra de fato para apoiar o Samu nesse momento de crise, até que eles resolvam as questões financeiras.

Ton Paulo – Qual tem sido o impacto do programa Goiás Alerta e Solidário?

O Goiás Alerta e Solidário é um programa que já está em sua terceira edição. É uma ação conjunta do governo do Estado de Goiás com a Defesa Civil e apoiada de forma operacional pelo Corpo de Bombeiros, em que preparamos a população para a ocorrência de desastres.

A grande dificuldade que temos é de um comandante, que tem status de secretário de Estado, liderar um evento preventivo de desastre que não envolve só os bombeiros? Envolve a Secretaria de Infraestrutura, Secretaria de Saúde, Secretaria de Desenvolvimento Social, a OVG, que é a Organização das Voluntárias de Goiás. A primeira-dama Gracinha Caiado, que está no gabinete de Ação Social, ligado ao governador, teve a iniciativa de fazer o Goiás Alerta e Solidário, o maior programa preventivo de desastres. E levamos o programa para dentro do gabinete.

O Nordeste de Goiás, por exemplo, sempre sofre com chuvas fortes. As pessoas ali, muitas vezes, ficam ilhadas até por semanas, sem comida, algumas perdem casa, perdem sonhos, ficam sem poder atravessar porque o rio sobe. No período mais tranquilo, levamos os bombeiros para lá, com colchões, filtros de água, kit Mix do Bem, que é arroz com proteína de soja, cenoura, tomate, alho e cebola desidratados, que passou a integrar a cesta de doações da OVG, e que quando jogado na água vira uma refeição. Em janeiro, veio a pancada de chuva e com pessoas ilhadas, mas desta vez, com canos, colchões, comida, filtros de água.

Teve um prefeito dessa região quilombola que fez um vídeo e me mandou, dizendo “Comandante, estou aqui no meio do desastre, estamos ilhados, mas estou com os bombeiros, estou com o Estado, estou muito tranquilo. Quero agradecer ao senhor, nunca nos sentimos tão seguros”. Essa é a ideia do programa.

Eu disse para o governador que quem gasta 30% em prevenção, economiza 70% em salvamento, segundo a Organização das Nações Unidas, ONU.  E, de fato: quando você investe em prevenção, traz economia para os cofres públicos e prepara a população para o desastre. O Goiás Alerta e Solidário, para mim, é o maior exemplo de que antecipar desastres nos Estados salva vidas e protege o patrimônio, o recurso público.

O post Coronel Washington Luiz: “Nenhum outro Estado teve um programa de antecipação de desastres como Goiás” apareceu primeiro em Jornal Opção.

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