Chegaram os ipês, enfim, para colorir nossos olhos 

Os ipês floridos estão de volta. Aparecem de repente como colírio aos olhos, de tão belos. Minha Nayla Valença, de sensibilidade rara no convívio com a natureza, fez este belíssimo flagrante de um ipê rosa em nossa Arcoverde. Não sei, na verdade, o que ficou mais extasiante, se o formoso ipê ou o pôr do sol ao fundo. 

Ninguém escreveu com mais maestria sobre o ipês do que Rubem Alves, meu cronista preferido. Nas suas manhãs nas serras alterosas de Minas, ao passar em frente a um ipê, ele dizia que a beleza era tão grande que ficava parado, olhando sua copa contra o céu azul. 

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“Gosto dos ipês de forma especial. Questão de afinidade. Alegram-se em fazer as coisas ao contrário. As outras árvores fazem o que é normal – abrem-se para o amor na primavera, quando o clima é ameno e o verão está prá chegar, com seu calor e chuvas. O ipê faz amor justo quando o inverno chega, e a sua copa florida é uma despudorada e triunfante exaltação do cio”, escreveu ele. 

Conheci os ipês na minha infância, em Afogados da Ingazeira, no sol quente, a poeira subindo das estradas secas e, no meio dos campos, os ipês solitários, colorindo o inverno de alegria. O tempo era diferente, moroso como as vacas que voltam em fim de tarde. As coisas andavam ao ritmo da própria vida, nos seus giros naturais. 

A despeito de toda a loucura de Rubem Alves pelos ipês, eles continuam fiéis à sua vocação de beleza. Minha Nayla colheu a imagem do ipê rosa. Depois virão os amarelos, os brancos também. Cada um dizendo uma coisa diferente. O Ipê amarelo também é igualmente belo. Faz soar a exuberância da vida.

Já o Ipê branco parece uma metáfora do que poderíamos ser. Seria bom se pudéssemos nos abrir para o amor no inverno como os ipês. Os ipês, não tenho dúvida, tornam o mundo mais belo. 

O homem um dia, certamente, aprenderá com os ipês. Como nós, os ipês passam por transformação. Uma época, belos e floridos. Depois passam para o anonimato. 

Observando os ipês sei que a queda das flores não quer dizer que a beleza findou, que a vida se extinguiu. Mas que a natureza passa por ciclos. Sempre haverá recomeços, novas flores virão no tempo certo.

A vida também é assim. Vivemos de ciclos e os ciclos nos ensinam a viver, nos ensinam a nos reinventar.

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