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O Irã disse neste domingo (15) que não quer ver o conflito com Israel se expandindo para uma guerra regional, após Tel Aviv alvejar na véspera um campo de extração de gás natural no golfo Pérsico que Teerã divide com o Qatar.A fala do chanceler Abbas Aaghchi pode ser lida como a primeira piscada da teocracia desde que o Estado judeu lançou o ataque sem precedentes que mirou suas instalações nucleares para frear o desenvolvimento de uma bomba atômica, erodindo no processo a infraestrutura de defesa do Irã e matando ao menos 20 integrantes de sua cúpula militar.Por outro lado, também neste domingo o comando dos houthis, rebeldes que dominam boa parte do Iêmen com apoio do Irã desde 2014, disseram ter lançado nesta madrugada pela primeira vez mísseis em um ataque coordenado com os patronos de Teerã.Isso, por si, significa uma expansão do conflito. Os houthis têm causado disrupção no comércio do mar Vermelho desde que passaram a apoiar os terroristas palestinos do Hamas, que lançaram em 7 de outubro de 2023 o ataque que abriu a caixa de Pandora regional.Neste momento, eles mantêm uma trégua com as forças americanas e aliadas na região, mas mantiveram os lançamentos de drones e mísseis contra Israel. Dos prepostos regionais do Irã, os houthis são os que retêm a maior capacidade militar.O Hezbollah, a linha de frente de defesa de Teerã no Líbano, foi desmantelado na guerra em apoio ao Hamas, que por sua vez foi reduzido a uma força menor nas ruínas de Gaza. Grupos menores, como a Jihad Islâmica, estão em situação semelhante.O regime de Bashar al-Assad na Síria, que era sustentado pelo Irã e pela Rússia, caiu para rebeldes islâmicos com apoio turco, desestruturando o principal centro logístico de Teerã na região. Por fim, grupos pró-aiatolás no Iraque têm capacidades limitadas ao país.O chanceler iraniano manteve o tom desafiador, assim como Israel disse que seguirá na ofensiva. Disse que não tem interesse na expansão, “exceto que seja forçado a isso”. Segundo ele, os ataques com mísseis do Irã que mataram até aqui 13 israelenses são uma “resposta de autodefesa” após a ação de Tel Aviv na sexta (13).No sábado (14), Israel atingiu ao menos duas refinarias e o campo de gás Pars Sul, o que Araghchi chamou de “agressão blatante e um ato muito perigoso, um erro estratégico”.Um dos fatores que levou à ação israelense foi o impasse na negociação para reavivar um acordo nuclear que implicasse a renúncia à bomba por Teerã, que vinha ocorrendo com os Estados Unidos.O chanceler disse que o premiê Binyamin Netanyahu acelerou a ação para sabotar as conversas, que continuariam neste domingo em uma sexta rodada mediada por Omã. Ele apontou o dedo para Washington: “O ataque nunca teria ocorrido sem a luz verde e o apoio dos EUA”, disse.Por ora, o Irã diz que só vai atacar forças americanas na região, o que seria desastroso para suas defesas, se provar que elas estão impedindo a retaliação contra Israel –até aqui, só houve relatos não confirmados de que destróieres dos EUA ajudaram a derrubar alguns mísseis rumo a Tel Aviv.O governo de Donald Trump disse ter sido avisado da ação, mas que não tomou parte dela. Neste domingo, o presidente americano postou na rede Truth Social que “se nós formos atacados de qualquer forma, a força total e o poderio das Forças Armadas dos EUA irão cair sobre vocês [iranianos] em níveis nunca vistos”.”Contudo, nós podemos facilmente fazer um acordo entre Irã e Israel e encerrar esse conflito sangrento”, disse. Como isso seria alcançado não foi dito.