Entusiasmo. Essa era a palavra de ordem quando, no final de abril deste ano, foi anunciado que o PSDB, de Marconi Perillo, e o Podemos, de Renata Abreu, estavam em conversas avançadas para uma possível fusão. A executiva nacional tucana foi a primeira a bater o martelo e, em votação unânime, autorizou o avanço das negociações. Renata, por sua vez, divulgou nota oficial do Podemos afirmando que a sinalização “fortaleceria o caminho” que já vinha sendo construído, “pautado pelo diálogo, respeito mútuo e pela busca de uma alternativa sólida para o Brasil”.
Com o passar dos dias, o PSDB seguia com euforia nos preparativos para a fusão. No entanto, o que antes parecia certo foi perdendo força, como um carro que acelera ao máximo num último impulso antes de parar por falta de combustível. O esfriamento da conversa entre as legendas passou a ser sinalizado pelo próprio Marconi Perillo, que, na convenção do PSDB, que serviria para formalizar a aliança, transformou o evento em um encontro para “autorizar federação, fusão ou incorporação” com qualquer partido disposto a dialogar.
O fato é que o Podemos parece ter percebido a fria em que estava prestes a entrar. O PSDB já foi um partido grande e imponente – hoje, não é mais. O crepúsculo dos tucanos chegou, embora insistam em agir como se ainda vivessem os tempos dourados, quando tinham candidatos fortes à presidência da República e governadores nos maiores estados do país.
Diz-se que o orgulho tucano levou o Podemos a desistir da fusão. Mesmo sendo menor que o partido ao qual se aliaria, o PSDB teria exigido alternância na presidência do novo grupo e mais poder concentrado em suas mãos. Renata Abreu e seus aliados teriam reavaliado a proposta e decidido: a fusão não aconteceria mais. E o que antes era entusiasmo virou sofreguidão.
E não faria mesmo sentido. O cenário era de uma sigla quase nanica tentando liderar uma carruagem que mal enchia um carro de boi. Basta lembrar: são 15 deputados federais do Podemos contra 13 do PSDB. No Senado, o placar é de quatro parlamentares para o Podemos contra três para os tucanos. Ainda assim, o PSDB propôs uma divisão de governança de 60×40 a seu favor. O Podemos, naturalmente, rebateu com uma contraproposta de 55×45.
Sem consenso, o Podemos aprendeu o que o Cidadania descobriu da pior forma: o PSDB não aceita abrir mão do poder, mesmo quando não tem mais condições de reivindicá-lo. Quem não se lembra de Michel Roriz, presidente estadual do Cidadania, comemorando o fim da federação com os tucanos? Segundo ele, o PSDB não soube conduzir a parceria e acabou asfixiando o partido. “Foi muito ruim para o Cidadania. Perdemos muita coisa”, declarou ao Jornal Opção, em fevereiro do ano passado.
Com o fim da possibilidade de fusão com o Podemos, agora comenta-se que o PSDB mira o Republicanos. A intenção seria formar uma federação com o MDB. Mas será? A verdade é que, com o Republicanos, a chance de união parece ainda mais remota.
Embora tenha havido diálogos entre o PSDB e o Republicanos, como noticiado pela Folha de S. Paulo na sexta-feira, 13, o entusiasmo não durou. “Vamos buscar novas alternativas”, disse o deputado federal Aécio Neves, que, segundo a reportagem, já ouviu de Renata Abreu que a fusão com o Podemos está descartada.
Uma liderança do Republicanos em Goiás, próxima ao presidente Marcos Pereira, confirmou que as conversas com os tucanos existiram, mas não avançaram. “Isso foi coisa de 60 dias atrás. Hoje, a conversa para uma aliança é zero. Não tem mais isso.”
Ou seja, quanto mais surgem conversas, mais evidente fica a realidade: o PSDB, aquele que já governou São Paulo, Goiás e que rivalizava com o PT em pé de igualdade, está ficando sem saídas para se manter vivo. Pela primeira vez em anos, o partido corre o risco de não superar a cláusula de barreira em 2026. Hoje, 11 partidos com representação na Câmara estão nessa corda bamba, entre eles, a sigla de Marconi Perillo, com 13 deputados federais espalhados por oito estados.
Suas lideranças mais promissoras estão debandando, e o partido, encolhendo cada vez mais. É o crepúsculo dos deuses em sua forma mais melancólica, sob um réquiem que mais parece o grasnar de um tucano.
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