
Roberto Fakhoure, de 43 anos, afirma ter contratado uma perícia técnica que comprovou a falsificação em Guarujá (SP). Roberto Fakhoure, de 43 anos, questiona reprovação em disciplina de faculdade de Medicina, em Guarujá (SP)
Arquivo Pessoal
Um estudante de Medicina de Guarujá, no litoral de São Paulo, acusa a Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) de falsidade ideológica. Roberto Fakhoure, de 43 anos, alega que teve a assinatura falsificada em um documento após questionar a reprovação em uma disciplina. Ao g1, ele afirma ter contratado uma perícia técnica particular que comprovou a falsificação.
Em nota, a Unoeste informou que está apurando as informações, mas destacou que “não compactua com qualquer prática que viole a ética acadêmica” (confira o posicionamento completo adiante).
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O aluno registrou um boletim de ocorrência por falsidade ideológica na Polícia Civil e, ao lado do advogado Michael de Jesus, pretende denunciar o caso na Justiça. Ele segue reprovado e, por isso, não poderá participar da colação de grau junto com a turma no fim deste mês.
Ao g1, Roberto disse que não conseguiu recorrer da reprovação porque teve a assinatura falsificada na ata de uma reunião sobre a nota que o reprovou em uma disciplina em 2023. No documento, constava que o estudante havia entendido os motivos da reprovação e aceitado tal decisão.
No entanto, o aluno garantiu que não assinou nenhum termo com esse teor. Roberto confirmou ter participado de uma reunião na data do documento, mas ressaltou que nunca concordou com a reprovação.
Segundo o relato, ele descobriu que não teria como entrar com um recurso sobre a dependência (DP) na disciplina quando procurou o conselho do campus principal da Unoeste, no interior de São Paulo, e foi informado de que havia concordado com a reprovação na reunião em Guarujá.
De acordo com o advogado, o estudante negou ter aceitado a nota e pediu a ata da reunião, mas só recebeu o documento no fim do ano seguinte (2024), quando não reconheceu a assinatura. Em 2025, ainda segundo o profissional, uma perícia comprovou que a assinatura foi falsificada no termo.
O advogado disse que desconfia de que a reitoria de Guarujá tenha armado a situação para impedir que o cliente recorresse da reprovação no campus do interior paulista e denunciasse as condições de internato [estágio obrigatório] oferecidas no litoral.
Roberto Fakhoure, de 43 anos, foi reprovado em disciplina de faculdade de Medicina
Arquivo Pessoal
Reprovação
Conforme apurado pelo g1, Roberto recebeu uma nota baixa na disciplina Medicina de Família e Comunidade em 2023, com a justificativa de que havia abandonado a função durante estágio em um hospital. “Ele só estava no departamento de descanso e foi reprovado pelo abandono”, afirmou o advogado.
Segundo Michael, o estudante pensou que se tratava de um mal-entendido e conversou com a coordenação, denunciando as condições do internato. “Realmente mostrou a indignação dele porque não abandonou [a função] e teve que ficar no setor de descanso em condições sub-humanas”, disse.
Na reunião, Roberto afirmou que havia apresentado um atestado ao professor para justificar faltas em um período em que ficou doente, mas o documento não foi considerado. Ele foi informado de que poderia fazer uma prova de exame para recuperar a nota, ainda de acordo com o relato.
Um tempo depois, o estudante foi informado que o atestado havia sido indeferido e ele estava reprovado, pois não poderia fazer o exame, segundo ele.
Roberto disse ter procurado o campus do interior paulista para denunciar a ação, mas foi surpreendido com a informação de que não poderia recorrer porque havia assinado a ata de uma reunião em que concordava com a reprovação.
A partir daí, ainda segundo o relato, o estudante passou a solicitar o documento com a assinatura, mas só recebeu em 2024, quando registrou o boletim de ocorrência por falsidade ideológica.
Perícia técnica comprovou falsificação em assinatura de Roberto
Reprodução
Consequências
Apesar de garantir ter sofrido uma fraude, Roberto continuou com a dependência (DP) na disciplina e não poderá se formar neste semestre. De acordo com o advogado dele, isso causará um enorme prejuízo financeiro na vida do estudante, pois ele terá que pagar mensalidade por mais um semestre.
“Juntando moradia e mensalidade, vai custar a ele quase R$ 100 mil, fora um semestre a mais como estudante que não exerce atividade remunerada”, afirmou Michael.
Ao g1, Roberto contou que sempre teve o sonho de ser médico e, por isso, tratava o curso com dedicação. “Até então, eu estava fazendo a faculdade muito feliz, estava conseguindo alcançar meus objetivos, estava passando nas provas com notas boas”, disse.
De acordo com ele, o atraso na formação é fruto de uma injustiça e causará prejuízos incontáveis. “Me fez muito mal pelo tempo que eu fiquei remoendo isso […]. Vou ter que dispor de tempo, dinheiro, e isso vai me fazer muito mal”, lamentou.
O que diz a universidade
Em nota, a Unoeste informou que as condições do internato que foram denunciadas não refletem a realidade.
“O curso de Medicina do campus Guarujá possui nota máxima (5) na avaliação do MEC, reflexo do compromisso institucional com a qualidade do ensino. O internato é realizado em hospital e unidades de referência na região, e a instituição preza pelo bem-estar dos estudantes e pela excelência do atendimento à comunidade”, concluiu a instituição.
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