Prejuízo dobra e falta até caixa de papel nos Correios

Empregados dos Correios: relato de falta de papelão, durex e até envelopes foram feitos a sindicato

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Os Correios iniciaram 2025 enfrentando um cenário de crise: além de um prejuízo de R$ 1,7 bilhão no primeiro trimestre — o pior resultado para o período desde 2017 —, há relatos generalizados de falta de materiais básicos nas agências, como caixas, fita adesiva e papelão para envio de encomendas.“Recebo direto reclamações dos trabalhadores, faltando manga (papelão), durex e até envelope nos caixas para Sedex. Faltam empilhadeiras nos centros de distribuição de cargas”, relatou Elias Divisa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo (Sintect-SP).A escassez foi constatada por A Tribuna em visita a agências de Vitória. Em uma delas, no último dia 2, havia poucos usuários no local, e caixas para embalagens estavam em falta. A funcionária do balcão confirmou que clientes vinham sendo orientados a procurar alternativas externas.O balanço financeiro da estatal mostrou que o prejuízo atual representa uma elevação de 115% em relação ao mesmo período de 2024 — uma perda adicional de R$ 925 milhões em um ano.Mesmo com o agravamento da situação, os Correios não detalharam os impactos operacionais do rombo. Em nota, a empresa afirmou que a “continuidade operacional para 2025 está assegurada por fatores estratégicos e estruturais”.Mas nas notas explicativas do relatório financeiro, a estatal admite que os pagamentos não estão sendo feitos conforme acordos firmados, mas sim conforme suas “disponibilidades financeiras”.O relatório aponta como causas principais da deterioração financeira a queda na receita líquida, o aumento no custo dos serviços e a elevação das despesas administrativas e financeiras.A situação do caixa também preocupa. Em 2024, a empresa consumiu R$ 2,9 bilhões das reservas — 92% do total disponível no ano anterior. No balanço mais recente, os Correios indicam ter apenas R$ 126 milhões em caixa para honrar compromissos mensais.A crise de liquidez levou à troca da diretora econômico-financeira no início de 2025. Em busca de fôlego, os Correios tomaram dois empréstimos em 2024, que somaram R$ 550 milhões. Ainda assim, os atrasos em repasses e pagamentos a fornecedores e parceiros têm comprometido a operação e dificultado a manutenção de serviços básicos em várias unidades.Estatal corre risco e precisa se reorganizar, diz economistaUma estatal que é símbolo nacional de envio de encomendas precisa de se reorganizar. A empresa precisa de mudanças urgentes para continuar competitiva, e também se adequar à nova realidade econômica e social do País, diz o economista Ricardo Paixão.“Eu lembro que nós fazíamos inscrição em concurso público nos Correios. Ao longo do tempo, esses serviços foram sendo dinamizados no modelo on-line, e a empresa perdeu receita. Falta aos gestores se perguntarem como a empresa pode continuar competitiva”.Os Correios foram criados em uma época em que o monopólio da entrega de encomendas era questão de segurança nacional para o Brasil, mas que perdeu o sentido, explica Leonardo da Silva Beraldo, advogado que atua com direito administrativo e processual civil.“A lei que institui os Correios como empresa pública é de 1969, e foi feita pensando na segurança nacional, não no lucro econômico. Se a gente privatiza completamente esse serviço, terão lugares no Brasil onde o envio e chegada de encomendas será muito dificultado”.EntendaO que é?A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), também conhecida como Correios, é uma empresa pública. A principal lei que institui a ECT como empresa pública é de 20 de março de 1969.Resultado negativoA estatal registrou prejuízo de R$ 1,7 bilhão no primeiro trimestre de 2025, número 115% maior para o mesmo período de 2024, quando o resultado negativo foi deR$ 801 milhões. A perda para os cofres públicos é de R$ 925 milhões.Queda de receitaO relatório aponta que a deterioração financeira foi causada por uma combinação de fatores: queda na receita líquida, que recuou deR$ 4,5 bilhões para R$ 3,9 bilhões; aumento no custo dos serviços, deR$ 3,8 bilhões para R$ 4 bilhões; e elevação das despesas administrativas (de R$ 1 bilhão para R$ 1,2 bilhão).Vai privatizar?O presidente Lula excluiu, em abril de 2023, os Correios, e outras seis estatais, do Programa Nacional de Desestatização (PND), criado por Jair Bolsonaro em 2019. Dentre outras empresas que seguem estatais, estão a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e Dataprev, que guarda informações da previdência.

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