Dependência em álcool: mais mulheres pedem ajuda para deixar de beber

Psicóloga, hoje com 42 anos, diz que procurar ajuda do A.A. foi a melhor escolha de sua vida

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Acervo pessoal

Há 15 anos, uma jovem, que hoje é psicóloga, começou a ingerir bebida alcoólica, seguindo o exemplo do pai. Com o passar do tempo, o consumo foi aumentando até chegar ao ponto de não conseguir parar sozinha.Para isso, ela, hoje com 42 anos, tomou uma decisão que descreve como a melhor escolha da sua vida. Há 10 anos, frequenta grupos de Alcoólicos Anônimos (A.A.) no Estado.Assim como ela, cada vez mais mulheres têm buscado ajuda nos grupos de Alcoólicos Anônimos.O número de reuniões de composição feminina no A.A. registrou um aumento de 44,7%, se comparados os períodos pré e pós-pandemia. Atualmente, são cerca de 65 reuniões de composição feminina, presencial e on-line, com participação de mulheres de todo o País.Presidente da Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil, Lívia Pires Guimarães lembra que o A.A. completa 90 anos de fundação.Ela destacou que, no Espírito Santo, há 64 grupos (com participação de homens e mulheres) com cerca de 160 reuniões semanais, realizadas de forma presencial e à distância.A busca por ajuda também tem sido observada nos consultórios. A psiquiatra Francislainy Dal’Col conta que tem atendido mulheres principalmente na faixa etária de 30 a 50 anos.“A grande maioria relata que chega estressada em casa, e vai beber para relaxar um pouco e lidar com a ansiedade. Quando elas vão ver, já estão sentindo a necessidade de beber todos os dias”, contou a psiquiatra.Jairo Bouer, médico psiquiatra e comunicador, também observou que, nas últimas décadas, o número de mulheres em busca de ajuda tem aumentado.De acordo com Jairo Bouer, é possível superar a dependência. “O tratamento pode envolver uma combinação de abordagens: grupos de apoio, psicoterapia, intervenções psicossociais e psicoeducativas, além da avaliação e acompanhamento psiquiátrico, fundamentais para identificar e tratar fatores associados”, finalizou.Psicóloga, 42 anos: “O A.A. salvou e vem salvando a minha vida. Sou um milagre!”A Tribuna – Por que decidiu buscar ajuda?Psicóloga – Estava no fundo do poço e perdi um casamento de 6 anos. Casei aos 24 e separei aos 30 anos. Além disso, perdi emprego devido ao uso abusivo do álcool e de outras drogas. Eu deixava as minhas responsabilidades de lado. Era analista de comunicação e depois, já em processo de recuperação, cursei Psicologia.Foram 15 anos de alcoolismo. Perdi dinheiro — cerca de R$ 500 mil — com bens materiais, incluindo carros batidos, e porque não conseguia juntar nada.Ingeria que tipo de bebida?Todos os tipos. Mas, nos dois últimos anos do alcoolismo, troquei pelo vinho, pois achava que inchava menos e era mais chique. Mas tem 9 anos e 8 meses que não bebo.Foi uma decisão assertiva buscar apoio do A.A.?A melhor escolha da minha vida.Está liberta do álcool?Sim, mas vivo um dia de cada vez. Nunca mais e para sempre é muito tempo. O lema é: só por hoje.Qual a mensagem que deixa para quem está passando pela mesma experiência que a sua?Você não está sozinho. Não é preciso perder tudo para que haja uma esperança. Alcoolismo é uma doença que mata desmoralizando. O A.A. salvou e vem salvando a minha vida. Eu sou um milagre!Depiomento“Primeiro gole”“Comecei a minha caminhada alcoólica aos 13 anos, e foi uma trajetória progressiva da doença. Depois que percebi que a minha maneira de beber estava descontrolada — ou seja, eu começava e não conseguia parar —, decidi buscar ajuda, em 2009. Já são 16 anos sem beber.Reconstruí a minha vida, me tornei uma boa mãe, esposa e profissional. Tudo isso graças ao A.A., a um poder superior, que acredito ser Deus, e também à minha força de vontade de frequentar as reuniões e evitar o primeiro gole”.Técnica de Enfermagem, 55 anosTestePerguntas para saber se tem problema com álcool?1. Já tentou parar de beber por uma semana ou mais, mas só o conseguiu por alguns dias?2. Gostaria que as pessoas não se intrometessem na sua vida e parassem de falar o que você deve fazer com relação à bebida?3. Já mudou de tipo de bebida, na esperança de que isso iria impedi-lo (a) de ficar bêbado (a)?4. Bebeu pela manhã nos últimos 12 meses?5. Você inveja as pessoas que podem beber sem criar problemas?6. Você teve problemas relacionados com sua maneira de beber nos últimos 12 meses?7. Sua maneira de beber já causou problemas em seu lar?8. Tentou conseguir doses extras de bebida em festas onde as quantidades eram limitadas?9. Você diz a si mesmo (a) que pode parar de beber quando quiser, mesmo sabendo que fica bêbado (a) sem querer?10. Faltou ao serviço ou à escola, por causa da bebida?11. Já teve “apagamentos” durante uma bebedeira?12. Já pensou que sua vida poderia ser melhor se você não bebesse?Qual foi a contagem?Respondeu SIM quatro vezes ou mais? Em caso positivo, é provável que você tenha problemas com o álcool.Saiba maisO que é Alcoólicos Anônimos (A.A.)?É uma Irmandade de pessoas que compartilham, entre si, suas experiências, forças e esperanças, com a finalidade de resolver seu problema comum e ajudar outras pessoas a se recuperarem do alcoolismo.O único requisito para ser membro é o desejo de parar de beber. Para ser membro do A.A., não há taxas ou mensalidades.GruposNo PaísDesde 1947, o A.A. está em todo o País, com cerca de 4 mil grupos e mais de 9 mil reuniões semanais, realizadas de forma presencial e à distância.Em seu site www.aa.org.br ou no aplicativo A.A. Brasil Oficial, é possível ter acesso às 65 linhas de ajuda por telefone e WhatsApp, permitindo que a pessoa possa falar com um membro na hora, em qualquer lugar do País, bem como consultar todos os grupos presenciais e à distância, com endereço, dia e horário de funcionamento.O A.A. conta também com um canal voltado para mulheres: https://chat.whatsapp.com/K7jwtObWUmaLO6S9CEmjrcNo Espírito SantoAtuam no Estado 64 grupos (com homens e mulheres) com cerca de 160 reuniões semanais.A Linha de Ajuda 24h é (27) 9 9993-3395.Informações e locais de ajuda podem ser obtidas no site https://www.aa.org.br/grupos/Quando se deve buscar ajuda?Quando a pessoa deseja parar de beber, ou quando ela sente que precisa rever a forma como ela lida com a bebida, esse é o momento de procurar ajuda e de conhecer a irmandade, segundo a presidente da Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil, Livia Pires Guimarães.“Quando ela chegar ao grupo pela primeira vez, não vai ser cobrada por nada. Não precisa nem se identificar, se quiser. Ela não precisa nem falar, se não quiser também. Mas, por ser uma visitante, será a pessoa mais importante do grupo”, ressalta.

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