Autismo atinge 50 mil no ES e médicos explicam como identificar

“Voltar-se para si mesmo”. Esse é o significado da palavra grega “autos”, que originou o termo autismo. O “caso 1” na história do autismo foi atribuído a Donald Triplett, norte-americano que morreu em 2023, aos 89 anos.Aos cinco anos, em 1938, ele se consultou com o psiquiatra austríaco Leo Kanner, que estabeleceu o diagnóstico da nova condição em 1943. De lá para cá, milhares de diagnósticos foram feitos, sendo 51 mil apenas no Espírito Santo, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).Mas identificar os sinais do Transtorno do Espectro Autista (TEA) não é tão simples, por isso A Tribuna ouviu especialistas que listaram os principais deles em diferentes idades.Isolamento, não apresentar atenção compartilhada com os pais, não falar e nem reagir a interações sociais. Esses eram os sinais apresentados por Donald, comum também a diversas pessoas com autismo.A fonoaudióloga Carolina Portugal aponta que, além da dificuldade de fala em crianças a partir de um ano, a linguagem não verbal também deve ser observada.“Por exemplo, a criança que tem dificuldade em olhar para o adulto ou manter o contato ocular; tem dificuldade em sinais sociais, como jogar beijo ou dar tchau; raramente atendem pelo nome, mas costumam olhar para objetos de grande preferência. Não é só uma dificuldade de fala, mas em comunicar”, explicou.A psiquiatra infantil Fernanda Mappa ressaltou que no bebê com TEA pode haver a dificuldade de atenção compartilhada – habilidade envolvida, por exemplo, quando o bebê olha para um objeto apontado pelos pais.Outras características podem envolver, segundo Fernanda, a dificuldade de iniciar o sono, dificuldade ao toque e estranhamento a pessoas mesmo sendo de núcleo próximo.Nos adolescentes e adultos, o neurologista da Infância e Adolescência Thiago Gusmão, especialista em Autismo e mestre em Análise do Comportamento Humano, explica que, nos casos do autismo nível 1 de suporte (quando a pessoa não tem atraso de fala e tem inteligência preservada), os sinais podem ser inflexibilidade e dificuldade de interação social. “Muitas vezes, com diagnósticos equivocados, essas pessoas entram na vida adulta com as mesmas dificuldades sociais, afetivas e emocionais”.Diagnóstico

Jennifer percebeu que o filho teve atraso de fala e tinha dificuldade de socialização

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Kadidja Fernandes/AT

Atraso na fala, andar na ponta dos pés, rodar, muita sensibilidade auditiva e choro ao cortar o cabelo foram alguns dos sinais que o estudante Heitor Freitas do Rosário, 5 anos, apresentou ainda quando bebê. Sua mãe, Jennifer Nepomuceno Freitas, 41, procurou pelo pediatra que dizia que Heitor apresentava o comportamento por ser uma “criança de pandemia”. “Mas eu sabia que ele era autista, porque eu pesquisei sobre o assunto”.Após passar por um neurologista, Heitor foi diagnosticado com TEA, TDAH, TOD e ansiedade generalizada. Hoje, com ajuda da terapia, já fala, mas apresenta seletividade alimentar. “É uma batalha diária fazê-lo comer”.Sinais do autismo em crianças e adolescentesBebês (0 a 12 meses)1. Ausência de balbucio.2. Pouco ou nenhum contato visual.3. Dificuldade de atenção compartilhada. Exemplo: não olhar para onde os pais apontam.4. Maior interesse por objetos do que por pessoas.5. Reação incomum a sons altos (hipersensibilidade auditiva).6. Dificuldade de comunicação não verbal: não olhar para o adulto, não manter contato ocular, não responder ao nome.7. Dificuldade em gestos sociais (ex.: jogar beijo, dar tchau).8. Dificuldade na introdução alimentar, apresentando seletividade.9. Alterações sensoriais, como dificuldade com toque.10. Estranhamento diante de pessoas próximas.11. Dificuldade para iniciar o sono.Crianças de 2 a 5 anos1. Atraso na fala ou ausência de linguagem verbal.2. Andar na ponta dos pés3. Irritabilidade e nervosismo (muitas vezes reflexo da dificuldade de comunicação).4. Prejuízo na interação social (não participa de atividades sociais com outras crianças ou adultos).5. Dificuldade ou ausência na formação de frases (ex: não junta duas palavras).6. Comportamentos repetitivos e restritivos (ex: repetir sons, imagens, ações)7. Aproximadamente 30% podem permanecer não verbais.8. Seletividade alimentar.9. Não brincar de forma funcional com brinquedos.10. Regressão da fala (parou de falar o que já havia aprendido).Crianças a partir dos 6 anos e adolescentes1. Prejuízo na interação social, especialmente em grupos – dificuldade em fazer e manter amizades.2. Resistência à mudança e inflexibilidade de comportamento.3. Dificuldade com linguagem social (ex: entender ironias ou regras implícitas).4. Imaturidade social (descrito como “infantil” para a idade).5. Vulnerabilidade à malícia de outras crianças ou colegas.6. Em casos mais severos (nível 2 e 3 de suporte): ausência de fala, presença de comorbidades (como TDAH, transtorno opositor desafiador, epilepsia).7. Pode demonstrar ansiedade, frustração ou agressividade em ambientes sociais.8. Interesses restritos e muito intensos (ex: fixação por um tema específico).10. Isolamento social.11. Atrasos ou dificuldades de relacionamento escolar.12. Na adolescência podem apresentar a camuflagem social (“masking”) tentando esconder suas dificuldades para se adequar socialmente, o que é mais comum em meninas, muitas vezes confundidas como tímidas ou ansiosas.Sinais do autismo em adultos1. Irritabilidade frequente.2. Pouca flexibilidade social.3. Timidez excessiva (além do esperado).4. Ser descrito como “sistemático”, “rígido”, “metódico”.5. Intolerância à mudança de rotina.6. Dificuldade em interações no trabalho. Quando chefe, normalmente é visto como rígido, exigente e seco. Quando funcionário, se mostra mais isolado, com dificuldades de relacionamento.7. Dificuldades em relacionamentos afetivos (ex.: casamento).8. Pode parecer rude ou insensível, mas na verdade é literal ou tem dificuldade de expressar emoções.9. Sensibilidade sensorial: incômodo com barulho.10. Preferência por roupas específicas (mesmo tipo de calça, mesma camisa).11. Culpa persistente por “não se encaixar”.12. Geralmente, quando adulto, tem associação com transtorno de ansiedade, depressão e pode apresentar ideação suicida.Os números do Transtorno do Espectro Autista (TEA)Levantamento feito pelo IBGE.Espírito Santo51,3 mil pessoas declararam ter recebido diagnóstico no Espírito Santo. É o quinto estado com maior percentual (1,3%) de pessoas residentes com diagnóstico de autismo.PrevalênciaA prevalência foi maior entre os homens (1,7%) do que entre as mulheres (1%), o que equivale a 31,7 mil homens e 19,7 mil mulheres com diagnóstico declarado de Transtorno do Espectro Autista (TEA),IdadesEntre os grupos etários, a prevalência de diagnóstico de autismo foi maior entre os mais jovens: 2,2% no grupo de 0 a 4 anos de idade; 3,4% no grupo de 5 a 9 anos e 2,4% entre 10 e 14 anos.

Tabela

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Jornal A Tribuna

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