Justiça determina que cartório reconheça pai que deu à luz e mãe trans em certidão de nascimento


Casal é formado por homem trans e mulher trans. Cartório de Brasília havia se recusado a registrar maternidade e pais recorreram à Defensoria Pública do DF. Mão de bebê em imagem de arquivo
TV Globo/ Reprodução
A Justiça do Distrito Federal determinou que um cartório de Brasília registre corretamente a maternidade e a paternidade de um bebê de cinco meses, filho de uma mulher trans e de um homem trans. A criança foi registrada com o nome de Pandora Rue como mãe e Kyan Eric como pai parturiente.
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A decisão atendeu a um pedido feito pela Defensoria Pública do DF (DPDF), por meio do Núcleo de Assistência Jurídica de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (NDH). Os pais falaram com o g1, mas preferiram que não fossem publicadas suas fotos para não expor a família e o bebê.
O caso aconteceu após o cartório se recusar a incluir o nome de Pandora Rue Martins Barbosa como mãe na certidão de nascimento da criança. Segundo o cartório, o registro não poderia ser feito dessa forma porque quem deu à luz foi Kyan Eric Torres dos Santos, homem trans e pai do menino.
“Foi um alívio ter a decisão positiva de incluírem o nome da mãe dele no registro e me colocarem como parturiente na documentação. A Justiça viu que nosso pedido era fundado em laços biológicos, afetivos e legais, e que nossa vontade de registrar civilmente nossa família constituída era legítima”, diz Kyan Eric.
Entenda
Pandora Rue é uma mulher trans
Kyan Eric Torres dos Santos é um homem trans
Os dois são casados e retificaram seus registros civis conforme suas identidades de gênero
Kyan gestou o bebê que teve com Pandora
Quando foram registrar a criança, o cartório se recusou a colocar o nome de Pandora como mãe porque foi Kyan quem deu à luz o menino
O casal recorreu à Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF) para que o bebê tivesse o nome de Pandora como mãe e Kyan como pai na certidão
O Núcleo de Assistência Jurídica de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da DPDF mandou um ofício ao cartório solicitando a correção do documento
Como não houve resposta, o núcleo ingressou com uma ação judicial contra a omissão da maternidade
A juíza Luciana Maria Pimentel Garcia, do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT) aceitou o pedido da Defensoria Pública e disse que não havia impedimento legal para que a maternidade de Pandora e a paternidade de Kyan fossem reconhecidas
A criança foi registrada com o nome de Pandora Rue como mãe e Kyan Eric como pai parturiente
O sexo diz respeito às características biológicas e anatômicas […], enquanto o gênero refere-se a construções sociais, culturais e psicológicas. Pode não coincidir com o sexo atribuído no nascimento
Para o defensor público-geral do DF, Celestino Chupel, a decisão representa a efetivação de direitos fundamentais e o respeito à identidade de gênero.
A omissão de uma mulher trans como mãe em um registro civil é uma grave violação de direitos. Garantimos judicialmente a inclusão de Pandora em conformidade com a verdade afetiva, biológica e legal
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