A pesquisa Quaest divulgada na passada provocou debates de variadas naturezas. Os levantamentos são sérios e relevantes. Mas não houve um “cristão” que dissesse o óbvio: o apurado não diz respeito tanto a 2026, o ano da eleição, que acontecerá daqui a um ano e quatro meses.
O quadro de hoje pode ter muito a ver mas também pode não ter nada a ver com 2026, refletindo tão-somente a circunstância de 2025.
Se é assim, a pesquisa não tem importância? Na verdade, tem e muita. Sobretudo porque é parte de uma sequência, ou seja, de um monitoramento dos humores dos eleitores.
O que não se deve é extrair conclusões peremptórias a respeito do quadro nada definido.
Se a economia melhorar, por exemplo, como estará o presidente Lula da Silva (PT) em 2026? Se o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) for preso, portanto se tornando incomunicável para o processo eleitoral, como será que os eleitores vão avaliar seu possível candidato — Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, Michelle Bolsonaro (PL), ex-primeira-dama, Flávio Bolsonaro (PL), senador, ou Eduardo Bolsonaro (PL), deputado federal licenciado?

Como o bolsonarismo e os eleitores do espectro da direita vão reagir com Bolsonaro “retirado” do processo político-eleitoral?
Há algum dos bolsonaristas que se sairá bem sem o apadrinhamento direto e presente de Jair Bolsonaro? Talvez não.
Se o afilhado de Jair Bolsonaro não deslanchar, dada a ausência do “mestre”, o que acontecerá? Lula da Silva ficará mais forte, aumentando a possibilidade de ser reeleito?
No caso de a direita definir, o mais rápido possível, seu candidato, unindo os demais pré-candidatos numa única chapa, ele poderá superar Lula da Silva com larga frente?
Uma pesquisa, é claro, não tem como responder tais indagações. Porque não se está tratando de “fatos”, e sim de “possibilidades”.
Centrão vai ficar mesmo com o bolsonarismo?
Feitas as perguntas, vale, a partir da pesquisa da Quaest, especular em algumas direções. Alertando o eleitor, desde já, que se trata de especulações.

Sugerir que Lula da Silva não está morto, apesar do desgaste ampliado, não é especulação. É fato.
Porque, com todo o desgaste de governo, que está colando no presidente, Lula da Silva ainda enfrenta fortemente tanto Jair Bolsonaro — ambos empatam — e seus epígonos, como Michelle Bolsonaro e Tarcísio de Freitas.
Com Jair Bolsonaro preso, como se comportará o Centrão e setores da direita: ficarão com o candidato bolsonarista ou poderão bandear-se para o lado de Lula da Silva? Ou para um terceiro candidato, como Ronaldo Caiado (União Brasil)?
Se o postulante bolsonarista aparecer bem, com chance de derrotar Lula da Silva, é certo que o Centrão e a direita independente — não bolsonarista — poderão seguir com ele.
Mas, como não há amor em política — Nelson Rodrigues talvez tenha acertado ao dizer que “dinheiro compra até amor verdadeiro” —, só interesses, ninguém deve ficar surpreso se, de uma hora para outra, o senador Ciro Nogueira, do pP, aparecer dizendo: “Sabe, vamos ficar com Lula; afinal, nem é de esquerda”.
No momento, Ciro Nogueira está alinhado com o bolsonarismo e opera para ser vice de Tarcísio de Freitas, de Michelle Bolsonaro ou de qualquer outro bolsonarista que for candidato a presidente. Isto, insista-se, hoje. Porque direitas e centro avaliam, pelas pesquisas, que Lula da Silva chegará “sangrando” na disputa de 2026.

Caiado e bolsonarismo: afinidade ideológica
Vale arriscar uma hipótese, ou seja, uma especulação. Com Jair Bolsonaro afastado do jogo político e das ruas — isolado num presídio ou numa cela da Polícia Federal —, se um bolsonarista, como Tarcísio de Freitas ou Michelle Bolsonaro, não deslanchar, um político da direita, próximo mas não bolsonarista, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, tem chance de confrontar Lula da Silva?
Se o bolsonarismo, sem Jair Bolsonaro no proscênio, quedar-se enfraquecido, há a possibilidade de um candidato da direita independente, como Ronaldo Caiado, ocupar o espaço de polarização com Lula da Silva.
A disputa de 2026 será entre direita e esquerda, com o centro fazendo papel de coadjuvante. Mas não se pode cravar como certo que será entre Lula da Silva e um bolsonarista, tipo Tarcísio de Freitas ou Michelle Bolsonaro. Poderá ser entre Ronaldo Caiado (ou Romeu Zema, governador de Minas Gerais) e o petista-chefe.
Veja-se o caso de Tarcísio de Freitas. Com Jair Bolsonaro preso, o governador de São Paulo provavelmente trocará a disputa presidencial pela reeleição, muito mais garantida. Michelle Bolsonaro irá para o sacrifício? Talvez não. Porque tem uma eleição praticamente assegurada para senadora no Distrito Federal.

Então, se a prisão de Jair Bolsonaro enfraquecer o bolsonarismo, talvez este tenha de recorrer a uma figura da direita independente e claramente ideológica, como Ronaldo Caiado.
Do ponto de vista estritamente ideológico, Ronaldo Caiado tem muito mais a ver com o bolsonarismo do que, por exemplo, Ratinho Júnior (PSD), governador do Paraná, e Romeu Zema (Novo). Os dois estão mais próximos do centro, são pragmáticos, mas, ideologicamente, são pouco afeitos às ideias seminais da direita.
Tarcísio é o Segundo Comando da Capital
Os jornais de São Paulo mostram que o crime tomou conta da capital e das grandes cidades que a cercam. O Primeiro Comando da Capital transformou o governo de Tarcísio de Freitas em Segundo Comando do Estado. O governante bolsonarista vai bem na infraestrutura, mas vai muito mal na segurança. Perdeu o controle.
Em São Paulo, como mostrou o assassinato de um advogado no Aeroporto de Guarulhos, parte da Polícia Militar e da Polícia Civil está a serviço — inclusive em termos de pistolagem — do PCC. Por mais que se esforce e seja bem-intencionado, Tarcísio de Freitas não parece ser o comandante-chefe de suas polícias, altamente contaminadas pelo crime organizado.
As elites de São Paulo estão assustadas com assassinatos no Itaim Bibi e Jardins. Os criminosos estão dizendo, com seus atos violentos, que não há lugares protegidos na capital do Estado mais rico do país. Tarcísio de Freitas está perdendo a guerra contra o crime organizado.

Se candidato a presidente, o que terá Tarcísio de Freitas a dizer aos brasileiros dos demais Estados a respeito de seu projeto para segurança? Por que não o aplicou em São Paulo? Quem acreditará nas suas palavras?
Inexperientes em termos administrativos, Michelle Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Flávio Bolsonaro teriam autoridade suficiente para combater os cada vezes maiores tentáculos do crime organizado? Talvez não.
A pesquisa Quaest mostra que a violência está no topo das preocupações dos brasileiros. O índice de eleitores preocupados com a violência — 30% — é muito elevado e está crescendo de levantamento para levantamento. A preocupação com questões sociais (22%), economia (19%), corrupção (13%), saúde (10%) e educação (6%) ficam bem atrás.
O dado indica, claramente, que, se a preocupação dos eleitores com a violência está crescendo, há sinais de que o governo de Lula da Silva não está dando uma resposta adequada e suficiente ao problema. Há um plano sobre segurança, depois de dois anos e cinco meses de governo, e talvez não haja tempo de colocá-lo em prática totalmente.
Na verdade, mesmo sem plano, o governo de Lula da Silva já tinha — tem — estrutura policial adequada para combater o crime organizado. Mas não o faz. Talvez porque ainda pense na criminalidade como derivada de problemas sociais — o que consiste em um preconceito contra os pobres. O crime mais temido, decorrente do tráfico de drogas, é operado por máfias — PCC e, entre outras, Comando Vermelho (CV) — altamente organizadas, movimentando milhões (quiçá bilhões) de reais por ano, no Brasil e, até, no exterior (o PCC vinculou-se à máfia da Calábria).
O crime organizado se fortalece dia a dia porque o Estado, em nível federal, é ineficiente. A força do PCC e do CV decorre da fragilidade crescente do Estado.
O crime organizado atua em todos os Estados — sem exceção. Mas em Goiás não é onipresente porque é combatido, de maneira tenaz, tanto pela Polícia Militar quanto pela Polícia Civil. O governador Ronaldo Caiado é avaliado positivamente por 86% dos goianos sobretudo porque sua política de segurança é eficiente. “Caiado é duro”, “Caiado é firme” — é o que mais se ouve nas ruas do Estado. Com o Estado forte, o crime organizado é mais fraco.
Então, há a possibilidade — de volta ao terreno da especulação — de um candidato com o diferencial de ser firme no combate ao crime organizado e outros crimes, como o roubo de celulares e automóveis, ganhar de Lula da Silva.
Ah, dirão: Ronaldo Caiado, mesmo avançando, não aparece tão bem nas pesquisas quanto outros candidatos da direita, como Tarcísio de Freitas e Michelle Bolsonaro. Mas, com uma campanha firme, centrada nos temas segurança e economia, o político de Goiás poderá crescer e ser eleito presidente? É uma possibilidade.
Com Jair Bolsonaro fora das quatro linhas, vendo o sol nascer quadrado, a disputa de 2026 poderá ser entre Lula da Silva, um bolsonarista e Ronaldo Caiado? Talvez. E, quem sabe, o político do Cerrado pode acabar sendo o candidato do bolsonarismo, com o qual tem afinidade.
Acrescente-se o detalhe de que, entre os produtores rurais, o gestor de Goiás é considerado o mais firme e presente. Há, por fim, o desgaste tanto do bolsonarismo quanto do lulopetismo.
O post Segurança poderá retirar Presidência de Lula para entregá-la ao bolsonarismo ou a Ronaldo Caiado apareceu primeiro em Jornal Opção.