Considerada a capital da louça de barro, São José preserva a tradição açoriana por meio do trabalho de memória realizado na Escola de Oleiros Joaquim Antônio de Medeiros, referência nacional na arte da cerâmica e reconhecida como a primeira escola municipal de olaria da América Latina.
Nesta semana a Escola ampliou ainda mais sua atuação. Professores e alunos participam do Simpósio de Cerâmica: O uso das tecnologias e da cultura tradicional na arte contemporânea, onde compartilham experiências com artistas e estudiosos do Brasil e do exterior. Um dos destaques é a presença da artista e investigadora portuguesa Virgínia Fróis, que visitou a escola, dialogou com alunos da UDESC e apresentou sua pesquisa sobre argilas e olaria tradicional da Ilha de Santa Maria, nos Açores. Essa visita fortalece os laços entre as culturas que compartilham a cerâmica como herança. Fiquei encantada com a vitalidade da Escola de Oleiros. Aqui se respira tradição, mas também inovação, com uma comunidade viva e ativa em torno da arte do barro, destacou Virgínia Fróis, que atualmente desenvolve o programa Residências de Investigadores (Ciência e Arte) com início em 2024.
A atividade foi acompanhada por estudantes da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), que também participaram de uma palestra com o Professor Ivo, mais conhecido como Ivo Olaria, mestre com mais de 30 anos de experiência na formação de oleiros em São José. A tradição da olaria é uma escola de paciência, de humildade e de respeito à natureza. O barro nos ensina o tempo, e isso é essencial em tempos tão acelerados, disse o professor.
A coordenadora da Escola de Oleiros, Maria Terezinha Bez Vitório, neta do mestre Joaquim Antônio de Medeiros, reforça a importância da conexão entre gerações e culturas. Temos alunos de 9 a 80 anos. Aqui, cada peça moldada traz história e identidade. A troca com instituições como a UDESC e artistas internacionais como a Virgínia é um presente para a nossa comunidade e um estímulo para seguirmos resistindo e inovando, afirmou.
Com cursos gratuitos em modalidades como torno tradicional, modelagem figurativa e modelagem diversa, a Escola atende cerca de 200 alunos, promovendo o ensino da técnica e também o resgate da memória da cidade.Manter viva essa herança é manter viva a alma de São José. A Escola de Oleiros é um dos maiores símbolos da nossa identidade cultural, destaca o secretário de Cultura e Turismo, Antonio Carlos da Silveira Junior. É por isso que a valorização do ofício e a integração com outras culturas e saberes fazem parte da nossa missão. São José tem orgulho dos seus mestres do barro.
A tradição viva na Escola de Oleiros
Localizada na Rua Frederico Afonso, 5545, na Ponta de Baixo, a Escola foi fundada em 1992, na antiga fábrica do mestre Joaquim Antônio de Medeiros, e recentemente foi revitalizada e tombada como Patrimônio Cultural de São José.
A estrutura da casa, com arquitetura luso-brasileira colonial, abriga não só as aulas práticas, mas também uma exposição permanente de peças históricas, acessível a moradores e turistas.
As aulas ocorrem duas vezes por semana, em diferentes turnos, e as inscrições podem ser feitas pelo Instagram da Escola, por telefone (48) 3343-3487 ou presencialmente.
Em um tempo de globalização e transformações rápidas, a Escola de Oleiros continua sendo um ponto de encontro entre passado, presente e futuro — moldando com as mãos aquilo que o tempo não apaga.