Big techs e o fascismo: como o Brasil pode liderar a resistência

A popularização das IAs trouxe à tona debates urgentes sobre ética, propriedade intelectual e justiça social. Um exemplo emblemático é o uso não autorizado de obras do Studio Ghibli para treinar modelos de IA, como fez o ChatGPT da OpenAI. Artistas e criadores veem anos de trabalho sendo incorporados a sistemas sem consentimento, remuneração ou sequer crédito — uma prática que se repete globalmente, mascarada como “inovação”.

Essa dinâmica beneficia principalmente grandes corporações, que lucram com dados roubados, enquanto artistas enfrentam a desvalorização de suas profissões.

É essencial entender que as IAs não agem sozinhas: elas refletem os interesses de quem as controla. Empresas como Meta (Facebook), Astrolink (Elon Musk/X) e Amazon — que fazem parte do grupo das Big Techs (grandes empresas de tecnologia) — dominam não apenas as redes sociais, mas também o desenvolvimento de IA, manipulando narrativas para sugerir que essas tecnologias são autônomas. Na realidade, elas frequentemente burlam leis, disseminam desinformação, ódio e ataques à democracia.

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Recentemente, acompanhamos a plataforma X (antigo Twitter), de Elon Musk, ser banida temporariamente no Brasil por descumprir ordens judiciais relacionadas à remoção de perfis que espalharam fake news (como investigações sobre ataques ao STF). O X também se recusou a cooperar com leis de transparência, como o Marco Civil da Internet. Já a Meta (de Mark Zuckerberg) anunciou o fim da moderação em plataformas como Facebook e Instagram, alinhando-se a discursos extremistas, como os de Donald Trump, e enfraquecendo mecanismos de combate à desinformação na União Europeia e na América Latina.

Sem falar dos desafios ambientais. Treinar e manter modelos de IA consome quantidades absurdas de energia e água. Por exemplo:

  • Um único treinamento do GPT-3 emite cerca de 550 toneladas de CO₂ (equivalente a 300 voos entre Nova York e Paris).
  • Data centers da Amazon e Google dependem de fontes poluentes, agravando a crise climática.

É crucial enxergar esses pontos para entender que as IAs estão sendo construídas de formas muito diferentes ao redor do mundo — e isso reflete a disputa ideológica por trás delas. Nos EUA, regidos pelo sistema capitalista, empresas como OpenAI e Google desenvolvem IAs que priorizam o lucro, muitas vezes reforçando polarização política e vigilância massiva. Já na China, sob um sistema comunista, projetos como o Ocean DeepSeek (IA para pesquisa marinha) ou o Wuhan AI Center (uso de IA em saúde pública) destacam aplicações voltadas para infraestrutura e bem-estar coletivo, ainda que sob críticas pelo controle estatal.

A disputa entre EUA e China pelo domínio da IA vai além da tecnologia: é uma batalha entre modelos de sociedade. Enquanto a guerra comercial entre os dois países expõe essa rivalidade, iniciativas como a DeepSea (China), que investe em IA para monitorar e preservar oceanos, mostram que a tecnologia pode ser usada para fins sustentáveis quando há vontade política.

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Eis o dilema central: queremos um futuro com inteligências artificiais que preservem o meio ambiente e amplifiquem o potencial humano, ou aceitaremos IAs que aceleram a degradação ecológica e monetizam a exploração das pessoas? Essas perguntas não são apenas teóricas; são bússolas éticas que revelam:

Não se trata de demonizar a tecnologia, mas de questionar quem a controla hoje. Enquanto Meta e Microsoft comercializam algoritmos que alimentam vícios em redes sociais, iniciativas como o ClimateBERT (IA open-source para análise de impactos climáticos) ou o FarmBot(robótica agrícola de código aberto) provam que a autogestão tecnológica é possível.

As alternativas existem, mas faltam escala. No Brasil, a IA Preta desenvolve algoritmos antirracistas para contratações, combatendo vieses corporativos. Na Índia, o projeto KisanGPT (feito por pequenos agricultores) usa IA para prever pragas sem depender de megacorporações de agrotóxicos. Na África do Sul, a plataforma Amathuba (controlada por sindicatos) emprega IA para mapear violações de direitos trabalhistas em minerações.

A verdadeira disputa não é contra máquinas, mas contra a apropriação privada de ferramentas que poderiam democratizar conhecimento e recursos. Enquanto a OpenAI cobra US$ 20/mês pelo GPT-4, projetos como o BloombergGPT (finanças públicas) e o Hugging Face (modelos colaborativos) mostram que outro caminho é viável.

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A questão que fica é:
Como pressionar governos a investirem em IA pública, como fazem Uruguai (com saúde digital) ou Noruega (com fiscalização pesqueira), antes que a tecnologia se torne um monopólio irreversível?

No Brasil, as Big Techs são armas da extrema direita: financiam milícias digitais, espalham fake news e ataca instituições democráticas. Recentemente, eventos como o CPAC Brasil Treinaram ativistas para ataques coordenados nas eleições de 2026, expondo claramente a quem e para que servem essas plataformas. Elas não brincam em serviço quando o assunto é destilar ódio, desinformação e minar a democracia.

Por isso, a luta pela regulamentação das Big Techs é urgente, mesmo com avanços como a Lei Brasileira de Inteligência Artificial (PL 21/20) e as ações do TSE contra desinformação. Precisamos focar em:

  • Tributação justa das plataformas (hoje, sonegam bilhões enquanto lucram com o caos social).
  • Transparência algorítmica (exigir acesso público a critérios de moderação e amplificação de conteúdo).
  • Punição por danos socioambientais (data centers consomem água e energia equivalentes a cidades inteiras — como o da Microsoft em São Paulo, que rivaliza com o consumo de 1,4 milhão de pessoas).

Não se trata de rejeitar a tecnologia, mas de desarmar seu uso predatório.
A tecnologia deveria facilitar a vida humana, mas quem a controla hoje a transformou em arma. A regulamentação é essencial para:

  • Proteger direitos autorais e trabalhistas (acabar com o roubo de dados e a precarização em plataformas como Uber e iFood).
  • Combater desinformação (responsabilizar Meta e Google por financiar canais de ódio via anúncios).
  • Exigir sustentabilidade (limitar emissões e obrigar compensações ambientais, como faz a UE com o Digital Services Act).

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Enquanto as Big Techs sabotam a democracia, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) e instituições públicas avançam em projetos estratégicos:

  • IA Nacional (priorizando ética e soberania, diferente dos modelos colonizados das Big Techs).
  • Plataforma Lattes (maior base open-source de pesquisadores do mundo, sem venda de dados).
  • Programa Amazônia 4.0 (uso de IA para monitorar desmatamento e gerar economia sustentável).
  • SERPRO (desenvolveu algoritmos públicos para combate a fraudes, sem privatizar dados sensíveis).

O caminho é claro:
Pressão popular (como o movimento que derrubou o artigo da LGPD que beneficiava plataformas), alianças globais (como o acordo de IA na ONU assinado pelo Brasil em 2024) e investimento em tecnologia pública para ampliar modelos como o SUS Digital.

A tecnologia pode ser um instrumento de libertação — mas só se a arrancarmos das mãos de quem a usa para oprimir. Enquanto a CPAC treina milícias, precisamos:

  • Fortalecer o debate, envolvendo deputados na luta.
  • Exigir mais orçamento para o MCTI enfrentar o poder privado.
  • Somar-nos a movimentos que denunciam ódio, fake news e desinformação.

É hora de construir uma tecnologia feita pelo e para o povo. Nas mãos de bilionários, ela fortalece o fascismo e a opressão

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