Por Aldo Paes Barreto
Há vinte anos, dois programas infantis faziam sucesso entre telespectadores de todas as idades. O Sítio do Pica-pau Amarelo, baseado nos contos de Monteiro Lobato, e um chatérrimo desenho animado que tinha o pica pau como personagem. Lembro deles ao ler informações sobre estudos acerca desse pássaro incomum: para sobreviver ele abre buracos nos mais sólidos troncos de árvores de onde retira alimentos e constrói os ninhos.
O que surpreende os neurocientistas é que a intensa atividade física do passarinho, com bicadas precisas e fortes, não afeta o cérebro da ave. O estudo servirá para conhecer melhor o cérebro humano e utilizar esses conhecimentos para tratar traumas, causados por acidentes profissionais ou domésticos, cada vez mais frequentes, sejam por quedas ou a prática de esportes violentos, como o boxe.
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O famoso boxeador norte-americano Casius Clay e o brasileiro Éder Jofre, também campeão mundial, morreram com graves perturbações motoras adquiridas pelos respectivos cérebros danificados. Outro brasileiro, o zagueiro Belini, que levantou a Taça do Mundo de 1958, morreu com Alzheimer, vitimado pelas boladas interceptadas de cabeça.
Atletas, pessoas idosas, motoboys, vítimas do trânsito ou de quedas no ambiente do lar, estão nas primeiras colocações dessa fila trágica que cresce espantosamente, provocando sequelas que vão desde mudança de comportamento às limitações físicas, atingindo do mais simples motoqueiro ao mais alto executivo do país. Os dois últimos presidentes da República – Bolsonaro e Lula -, sofreram quedas desastrosas no banheiro da residência presidencial. Ambos precisaram de atendimento médico de urgência e tiveram perdas temporárias da memória, segundo eles próprios.
Lula e Bolsonaro também tiveram experiências anteriores. Lula perdeu o dedo mindinho ao manejar equipamento da fábrica onde trabalhava. Aposentou-se jovem e não teve maiores sequelas. Apenas ficou com a mão mais leve.
Já com o ex-presidente Bolsonaro o acidente foi bem mais grave. No início dos anos 1980, ainda na ativa, caiu durante treinamento de paraquedas, na Avenida das Américas, no Rio de Janeiro, bateu contra a parede de um prédio e despencou oito metros. O impacto quebrou os dois braços e os tornozelos do futuro presidente. Mesmo caindo em pé, a queda atinge o cérebro que é sacudido contra a caixa craniana.
Logo depois desse acidente, Bolsonaro, atleta nos tempos de cadete, vencedor de variadas competições e, por isso, chamado de “Cavalão”, mudou de tática e de comportamento. Em 1986, escreveu um artigo para a revista “Veja” criticando as baixas remunerações pagas pelo Exército.
Eleito nos anos seguintes deputado federal, fazendo campanha por melhoria salarial, recebeu votos dos familiares dos antigos colegas. Eleito, Bolsonaro passou a ter comportamento agressivo, aético, destrambelhado. Preconceituoso, misógino e defensor de tortura. Embora tenha sido julgado e absolvido pela Justiça Militar sobre suposto plano, revelado também pela revista, para explodir bombas em quartéis e sistema de abastecimento de água em protesto por melhores salários, saiu ileso.
O Superior Tribunal Militar, no primeiro julgamento, considerou sua conduta “irregular e (de ter) praticado atos que afetam a honra pessoal, o pundonor militar e o decoro da classe.”. Depois, foi absolvido. Mas, nada constou sobre possíveis danos neuro cerebrais adquiridos no treinamento. Tanto faz. O que preocupa mesmo é que quem perdeu o juízo foi o eleitorado. E poucos receberam pancadas na cabeça.
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