Por Bernardo Mello Franco
Do Jornal O Globo
Seis dias depois de implodir as regras de licenciamento ambiental, o Senado armou nesta terça uma arapuca para desgastar a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Convidada a falar na Comissão de Infraestrutura, ela foi submetida a uma série de provocações e hostilidades até perder a paciência e se retirar da sessão.
O cerco foi incentivado pelo presidente do colegiado, senador Marcos Rogério (PL-RO). Em diversos momentos, ele silenciou o microfone da ministra, impedindo-a de se defender.
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Marina foi chamada a falar sobre unidades de conservação marinha na Margem Equatorial, região que engloba a chamada Foz do Amazonas.
A maioria dos senadores preferiu ignorar o tema para atacar a ministra e fazer lobby pela autorização de obras como o asfaltamento da BR-319, sob análise no Ibama.
“A senhora atrapalha o desenvolvimento do país”, disparou o senador Omar Aziz (PSD-AM), que integra a bancada governista.
Antes, de dedo em riste, ele disse que os amazonenses querem “passear” na BR-319. “E não é a senhora que não vai permitir”, desafiou.
Marcos Rogério ironizou as queixas de Marina, que cobrava tempo para responder às provocações. Os dois bateram boca, e o senador mandou a ministra “se pôr em seu lugar”.
“Essa é a educação da ministra Marina Silva, ela aponta o dedo….”, provocou Rogério. “Você gostaria que eu fosse uma mulher submissa, e eu não sou”, respondeu Marina.
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) protestou contra o tom usado pelo presidente da comissão, que disse que Marina teria ido ao Senado “para tumultuar”.
O líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), passou pela comissão, mas não saiu em defesa da ministra. Só o líder do PT, Rogério Carvalho (SE), rebateu as hostilidades contra a aliada.
O caldo entornou de vez quando chegou a vez de Plínio Valério (PSDB-AM) falar. O senador, que já havia manifestado a vontade de “enforcar” Marina, começou com um ataque:
“A mulher merece respeito. A ministra, não”.
Irritada, Marina respondeu que só permaneceria na sessão se houvesse um pedido de desculpas. Como o tucano se recusou a recuar, a ministra se levantou e foi embora.
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