Com apoio dos EUA, Noboa inicia novo mandato no Equador

Quito assistiu neste sábado (18) à posse de Daniel Noboa, 37 anos, para seu primeiro mandato completo como presidente do Equador, em meio a críticas contundentes da oposição, denúncias de fraude eleitoral, militarização da política e alinhamento explícito aos interesses dos Estados Unidos. Herdeiro de um dos maiores impérios bananeiros do país e representante da oligarquia tradicional, Noboa assume sob o discurso da “segurança total” e da guerra contra o narcotráfico — e com apoio de figuras controversas da geopolítica internacional.

A cerimônia, realizada na Assembleia Nacional e conduzida por Niels Olsen Peet, presidente do Legislativo, foi marcada por um gesto simbólico de unidade entre os dois — destoando da realidade política do país, profundamente polarizada.

Posse sob estado de exceção e presença militar nas ruas

A nova posse acontece apenas duas semanas após uma eleição altamente questionada por setores da oposição, especialmente pela Revolução Cidadã, legenda da candidata derrotada Luisa Gonzalez. A vitória de Noboa foi precedida por medidas consideradas autoritárias, como a declaração de estado de exceção em sete províncias e na capital Quito— um dia antes da votação — e a manutenção ilegal do presidente no cargo durante o processo eleitoral, em violação à Constituição equatoriana.

Mesmo com protestos e alertas de organizações civis e internacionais, o governo brasileiro foi uma das nações que saudaram oficialmente a “reeleição” de Noboa.

Militares, presídios e Blackwater: o modelo El Salvador como inspiração

Em discurso durante a posse, Noboa prometeu que a redução dos homicídios será “uma meta não negociável” e anunciou o aprofundamento da militarização das políticas de segurança:

“Vamos manter nossa luta contra o tráfico de drogas, apreender armas ilegais, munições e explosivos e exercer maior controle nos portos do país.”

Inspirado nas políticas do presidente de El Salvador, Nayib Bukele — criticadas internacionalmente por violações de direitos humanos — Noboa firmou acordos com os Estados Unidos, Israel e com Erik Prince, fundador da Blackwater, empresa privada de mercenários conhecida por seus crimes durante a ocupação norte-americana no Iraque.

Além disso, uma das principais promessas de campanha do presidente foi a construção de novos presídios — estratégia também herdada do modelo salvadorenho.

Galápagos cedida para base militar dos EUA

A aproximação com Washington ganhou contornos mais graves no início de abril, quando, em visita à Flórida, Daniel Noboa anunciou a cessão da Ilha de Galápagos, patrimônio mundial da Unesco, para a instalação de uma base militar dos Estados Unidos. O acordo, considerado inconstitucional, viola diretamente o artigo da Carta Magna equatoriana que proíbe a presença de forças estrangeiras em território nacional.

O movimento escancarou o papel de Noboa como peça-chave da estratégia norte-americana de retomar o controle sobre a América Latina e o Caribe, conforme declarado explicitamente pelo secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth.

Donald Trump, ex-presidente dos EUA, não perdeu tempo em parabenizar seu aliado equatoriano pela “reeleição”, selando o alinhamento ideológico entre os dois.

Números contraditórios e manipulação midiática

Enquanto o governo celebra uma suposta queda de 15% nos homicídios em 2024, os dados mais recentes do próprio Ministério do Interior do Equador indicam que os assassinatos aumentaram 58% nos primeiros quatro meses de 2025, com mais de 3 mil mortes violentas registradas — evidenciando a ineficácia e contradição do discurso oficial.

Ao mesmo tempo, cresce a repressão sobre manifestações sociais e críticas ao governo, com prisões arbitrárias sendo registradas nas áreas sob estado de exceção.

Silêncio internacional e indignação progressista

normalização da posse de Noboa por parte de governos democráticos da região, como o do Chile, liderado por Gabriel Boric, gerou indignação entre setores progressistas. Boric, que já havia questionado a legitimidade da eleição de Nicolás Maduro na Venezuela, foi rápido em reconhecer a vitória de um candidato eleito sob acusações consistentes de fraude e abuso de poder.

Mesmo com todos os indícios, as instituições equatorianas — dominadas pela direita — não moveram um único processo contra Noboa, seja por sua permanência indevida no cargo, seja pela entrega de soberania nacional.

O Equador como laboratório e alerta ao Brasil

Com a consolidação de Noboa no poder, o Equador pode estar se tornando um laboratório das novas formas de autoritarismo neoliberal, com forte respaldo externo, controle institucional e repressão disfarçada de “ordem”.

A luta contra o avanço autoritário e a militarização da política na América Latina, agora com um novo e preocupante capítulo no Equador, tende a marcar o embate regional nos próximos anos. A disputa entre soberania popular e entreguismo corporativo está oficialmente declarada.

Revolução Cidadã anunciou que não aceitará passivamente o resultado e articula ações judiciais e mobilizações populares. Mas, diante do estado de exceção, o enfrentamento promete ser difícil e marcado por forte repressão.

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