Compete a um governo, qualquer governo, de qualquer país, primordialmente, assegurar à sociedade: educação, saúde, segurança, justiça e infraestrutura.
Apenas cumpridas essas obrigações — e bem cumpridas — pode um governo se aventurar em outros campos, como o lazer ou o fomento industrial e comercial.
Até porque onde existem aquelas cinco atividades bem preenchidas, o governo torna-se supérfluo no desenvolvimento de atividades secundárias.0
Não é segredo para ninguém minimamente informado que no Brasil pecamos — e muito — naqueles cinco itens fundamentais do atendimento social.
E quem duvidar vai se convencer, se tiver disposição para consultar as abundantes estatísticas internacionais que a internet coloca à disposição, ou resolver indagar de seus amigos mais viajantes pelo mundo afora.
É constrangedora, e mais que constrangedora, angustiante, nossa posição perante o mundo, quando se trata daqueles cinco itens básicos para uma sociedade.
A angústia só cresce diante de nossas potencialidades e das consequências advindas dessas falhas fundamentais.
Vivemos num círculo maléfico, no qual as elites do triângulo dos poderes Executivo-Legislativo-Judiciário não conseguem proporcionar aquelas condições à população porque não estão à altura das posições que ocupam, uma vez que lhes falta preparo. E lhes falta preparo porque além de terem educação deficiente, foram mal escolhidas, o que também decorre do despreparo educacional dos que escolhem.
Quando nos conscientizamos de que vivemos esse círculo vicioso, também nos convencemos de que a educação é primordial para sair dele e para uma vida em sociedade com um mínimo de dignidade.
Inúmeros exemplos existem de países que deram um salto no seu bem-estar social desde que investiram pesada e primordialmente em educação. Tivéssemos um verdadeiro estadista — um que fosse — nas altas esferas de poder e ele se preocuparia em primeiríssimo lugar com a nossa educação.
É a educação que faz os pais mais cuidadosos na orientação dos filhos desde a primeira infância, época mais importante na formação da consciência e do caráter.
É a educação que faz os pais conscientes de que nada os substitui nessa fase da existência, muito menos o Estado, como querem alguns, ignorantes dos males advindos das inúmeras experiências nesse sentido.
Pais educados são importantes na formação escolar e no caminhar para a vida em sociedade.
É a falta de educação que produz os pais e as mães sem preparo, os pais ausentes, as mães jovens e solteiras, os pais usuários de drogas que dão o mau exemplo aos filhos, quando não os abandonam ao deus-dará, não proporcionando a eles os mínimos cuidados básicos, quer materiais, quer espirituais, inclusive o mais importante, que é a educação.
É a educação de qualidade que faz os jovens preparados para a vida em sociedade, capazes de entender a existência, de interpretar o que estão lendo, de aplicar ao longo da vida a experiência alargada pela leitura e pela observação.
É a educação que faz fugir do analfabetismo literal e funcional, absorver os ensinamentos da História, seus bons e maus exemplos e saber aplicá-los; é ela quem faz os jovens capazes de usar no dia a dia a matemática que dirige o equilíbrio entre o que se tem e o que se deseja, a matemática que traduz o tempo, as distâncias, os orçamentos e tanta coisa mais.
A educação nos faz capazes de entender a natureza e suas implicações, em nossa saúde inclusive.
A educação é quem orienta a conquistar uma profissão e exercê-la com eficiência, e nos torna capazes de viver com atenção e respeito aos próximos, seja qual for o ambiente onde nos encontremos.
É a educação que faz os jovens esclarecidos para não se encantarem com os vícios, inclusive e principalmente com os piores deles, que andam juntos, o crime e a droga.
A educação mostra a superioridade e a necessidade da moral, dos bons costumes, do respeito ao próximo e à nacionalidade.
A educação mostra a dignidade do trabalho e a vergonha da vadiagem e do aproveitamento, e faz entender o preceito bíblico (Genesis 3:19): “Com o suor do teu rosto comerás o teu pão”, que não é apenas um dito religioso, mas uma incontornável lei da natureza. Até o menor dos pássaros a segue, quando procura, o dia todo, sua ração de sementes e insetos.
Será a educação quem mostrará um dia a verdade de programas sociais que, longe de atenderem os mais necessitados e prepará-los para uma vida produtiva e digna, buscam torná-los dependentes eleitorais eternos, enquanto trabalhadores já esmagados pelos tributos trabalham em dobro para sustentá-los. Pois governo nada produz, mas, ao contrário, toma de cada trabalhador e distribui a seu prazer.
Será a educação quem vai proporcionar um dia conhecimento suficiente ao cidadão para distinguir a verdade da desinformação, da meia verdade, da notícia distorcida e entender o jogo da imprensa comprada.
A educação fará com que cada cidadão entenda se seu dinheiro, que foi tirado de seu salário e entregue em impostos, está sendo bem ou mal aplicado pelo governo que o maneja.
E que o cidadão julgue cada político que recebeu seu voto como merecedor ou não da confiança nele depositada.
A educação fará com que cada um entenda se a máquina pública está ou não grande demais para o serviço que presta, e se os que dela vivem ganham, comparativamente, mais e melhor do que aqueles que labutam, com atribuições equivalentes, na iniciativa privada.
A educação fará com que o funcionário público não se aproveite de sua posição para vantagens indevidas, pois terá adquirido consciência de que não só seu salário como também os recursos que administra são advindos dos impostos que as gentes, desde a mais humilde delas, recolhem com sacrifício.
Será a educação, enfim, que fará com que cada um, conscientemente, escolha seus representantes nas esferas de poder, não se deixando enganar por incapazes, aproveitadores, egoístas, políticos profissionais cuja educação deficiente faz com que só pensem na reeleição e no bolso.
A educação fará que bem votemos, escolhendo quem seja capaz de contribuir de verdade com a sociedade, quem se preocupe com educação de qualidade, boa saúde pública, segurança que não transija com a marginalidade, justiça equilibrada e infraestrutura adequada.
Assim, o círculo vicioso será quebrado. Só então o Brasil aproveitará seu potencial e viveremos em uma sociedade sadia e progressista, não no sentido ideológico, mas no sentido amplo, verdadeiro, da palavra.
O post Uma educação de alta qualidade pode criar um país grande e livre da manipulação política apareceu primeiro em Jornal Opção.