Aumento do IOF, seguido de recuo parcial, expõe racha no governo Lula

Em mais um episódio de desgaste político e ruído de comunicação dentro do governo federal, o anúncio — e o recuo parcial — da elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) expôs, nesta semana, a frágil articulação entre os núcleos econômico e comunicacional do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A medida, anunciada inicialmente pelo Ministério da Fazenda, gerou forte reação negativa entre agentes econômicos e nas redes sociais, forçando o recuo parcial do governo menos de 24 horas depois.

A crise gerou embates internos entre o ministro Fernando Haddad e o chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, além de reacender críticas da oposição e reforçar a narrativa de que a gestão petista recorre à alta de impostos para fechar as contas públicas.

A proposta inicial previa mudanças no IOF, como a aplicação da alíquota de 3,5% sobre operações de câmbio envolvendo investimentos no exterior. A medida, no entanto, foi recebida com resistência imediata pelo mercado, por economistas e até por parte da base governista. Diante da repercussão negativa, a Fazenda recuou e manteve a alíquota em zero para aplicações internacionais feitas por fundos nacionais. A redução da proposta diminui em cerca de R$ 2 bilhões a estimativa de arrecadação para 2025 e em R$ 4 bilhões para 2026.

Segundo fontes do Palácio do Planalto, o principal erro da Fazenda foi ter anunciado o aumento de alíquotas no mesmo momento em que divulgava o bloqueio de R$ 31 bilhões no Orçamento — uma tentativa de mostrar compromisso com o equilíbrio fiscal. Para aliados do presidente, a estratégia acabou sabotando os efeitos positivos do contingenciamento ao concentrar as atenções na nova carga tributária. Haddad, por sua vez, argumenta que os dois anúncios precisavam ser simultâneos para fechar a conta da meta fiscal, evitando cortes mais profundos.

O desgaste público gerado pelo episódio é semelhante ao da “taxa das blusinhas”, quando a taxação de produtos importados de até US$ 50 provocou confusão e memes nas redes sociais. Assim como naquela ocasião, o governo demonstrou falta de sintonia entre os ministérios e a Secom, levando Sidônio Palmeira a reclamar da ausência de estratégia de comunicação prévia.

De acordo com reportagem do colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, Sidônio teria afirmado a interlocutores que Lula já havia determinado que qualquer medida de impacto só deve ser anunciada com o aval da comunicação. A ausência dessa coordenação, segundo ele, o transforma em “apagador de incêndios”.

Haddad, por outro lado, sustenta que cumpriu sua parte ao informar previamente o presidente e que cabia à Secom atuar com a estratégia que julgasse mais adequada. No entanto, a falta de alinhamento ficou evidente, sobretudo porque a reação popular ao aumento do IOF foi majoritariamente negativa.

De acordo com levantamento da consultoria Bites, 72,6% das 144 mil menções feitas nas redes sociais entre quinta e sexta-feira, 22 e 23, foram críticas à medida. O meme “Taxad”, apelido de Haddad desde a taxação de importados, voltou com força, impulsionado por parlamentares da oposição e influenciadores de direita.

Entre os parlamentares, apenas o deputado Bohn Gass (PT) saiu publicamente em defesa do governo. Outros 15 congressistas, incluindo o senador Sergio Moro (União-PR) e o ex-presidente Jair Bolsonaro, criticaram abertamente a tentativa de aumentar tributos. 

“Infelizmente, o atual governo, em sua ânsia por elevar a arrecadação, reverteu essa política e anunciou um aumento generalizado nas alíquotas do IOF câmbio”, disse Bolsonaro em suas redes sociais, relembrando decreto de sua gestão que zerava a alíquota até 2028. Já Moro ironizou: “Estamos na República do improviso e parece que não tem ninguém responsável no governo Lula”.

As mudanças no IOF incluíam ainda outras frentes sensíveis, como a tributação de aportes mensais superiores a R$ 50 mil em seguros de vida com cobertura por sobrevivência, a equiparação de cooperativas de crédito com empresas comuns em operações acima de R$ 100 milhões por ano, e a definição de alíquotas ajustadas para empréstimos tomados por empresas, inclusive as do Simples Nacional.

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