
Morreu nesta sexta-feira (23), um dos maiores fotógrafos do mundo: o mineiro Sebastião Salgado. Reconhecido internacionalmente pela força de suas imagens — que denunciavam a exploração do trabalhador, os conflitos e desigualdades sociais, mas também a beleza da natureza e da diversidade cultural dos povos — Salgado faleceu aos 81 anos, em Paris, onde vivia.
A causa da morte ainda não foi confirmada, mas ele sofria de problemas crônicos de saúde devido à malária que o acometeu nos anos 1990.
Em nota, o Instituto Terra confirmou a notícia: “Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora”.
O Instituto foi criado após Salgado e sua companheira decidirem restaurar um pedaço de floresta que existia na antiga fazenda da família, em Minas Gerais. A iniciativa acabou gerando a recuperação de uma importante área de Mata Atlântica que havia sido devastada anos antes.
Vida e obra

Salgado nasceu em Aimorés (MG) em 8 de fevereiro de 1944, formou-se em economia e chegou a cursar doutorado na área na Universidade de Paris, em 1971. Mas, a paixão pela fotografia falou mais alto e ele seguiu seu curso, o que o levou a grandes agências internacionais, como a Sygma, a Gamma e a Magnum, criada por Henri Cartier-Bresson, Robert Capa, George Rodger e Chim (David Seymour).
Em pouco tempo, seu talento — explicitado em imagens expressivas feitas em preto e branco — o alçou à posição de um dos maiores da fotografia mundial, recebendo alguns dos principais prêmios da área.
“Suas fotografias transmitem a dignidade e a integridade de seus retratados sem forçar seu heroísmo ou implicitamente suscitar piedade”, diz o International Center of Photography. A fotografia de Salgado, prossegue, “comunica uma compreensão sutil de situações sociais e econômicas raramente encontrada em representações de temas semelhantes feitas por outros fotógrafos”.
Entre as mais famosas fotos estão a que retratou trabalhadores da Serra Pelada e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) — dentre as quais as mais emblemáticas são as que denunciaram o massacre de Eldorado do Carajás (PA) em abril de 1996, quando 19 sem-terras foram assassinados —, além das que levaram ao mundo o horror do genocídio em Ruanda nos anos 1990.
Figuram entre suas principais obras Trabalhadores (1996), Serra Pelada (1999), Exodus (2000), Gênesis (2013) e Amazônia (2021). O documentário “O Sal da Terra” (2014), assinado por Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, filho do fotógrafo, relatou ricamente sua vida e visão de mundo.
Certa vez, declarou, sobre sua obra: “as pessoas me dizem que sou um artista e eu digo que não, sou um fotógrafo e é um grande privilégio ser um fotógrafo. Tenho sido um emissário da sociedade da qual faço parte”.
No ano passado, o fotógrafo anunciou sua aposentadoria. Ao The Guardian, disse que o corpo estava sentindo “os impactos de anos de trabalho em ambientes hostis e desafiadores”.
Em uma de suas últimas entrevistas, publicadas pela Forbes nesta semana, Salgado disse que “o planeta tem uma sabedoria colossal. Não sou religioso, mas acredito na evolução. É uma pena vivermos apenas 80 ou 90 anos no máximo. Se pudéssemos viver mil anos, seríamos capazes de entender nosso planeta mil vezes melhor, e viver de outra forma”.
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