Parque Lagoa Vargem Bonita clama pela volta de Wanderson, seu sábio protetor

A vida ensina que há os dizem que vão fazer e os que fazem. Wanderson do Parque fica entre os segundos.

Wanderson é dono de um mercado, nas proximidades do Campus Samambaia da Universidade Federal de Goiás (UFG). Um comerciante atento e arrojado. Há pouco tempo, diversificando os negócios, abriu um café-lanchonete de qualidade. Trata-se de um empreendedor criativo, desses que independem dos governos para vencer como pequeno empresário, lutando de sol a sol para não sucumbir.

Todos os dias, desde cedo, Wanderson está em sua empresa vitoriosa. Sempre bem-humorado e atento ao nome das pessoas.

Quando sobra um tempo, e sempre faz questão de arranjar um tempinho, Wanderson passa pelo Parque Lagoa Vargem Bonita, nas proximidades de sua chácara e do Campus da UFG.

Parque Lagoa Vargem Bonita: uma área preservada perto do Campus II da UFG | Foto: Euler de França Belém/Jornal Opção

Lá, além de se divertir, com sua bicicleta — há uma boa pista para os aventureiros das bikes e para caminhantes —, Wanderson examina tudo com olhos que são, na verdade, lupas.

Se há algum problema, pequeno que seja — como lixo não recolhido —, Wanderson às vezes avisa no Grupo de Amigos do Parque. Noutras vezes, pega ele mesmo o lixo. Reúne os amigos e compra rastel para a limpeza. Opera na organização da entrada do parque, para torná-la mais segura. Preocupa-se com a fauna e a flora.

Quando dois homens colocaram fogo no parque, de maneira inadvertida, Wanderson foi um dos primeiros, senão o primeiro, a gritar por socorro ao Corpo de Bombeiros. Avisou os amigos do parque.

Em parte, graças a Wanderson — homem magro com a força de um tigre e a coragem de um elefante —, o parque não se incendiou todo. Felizmente, aos poucos, como a desafiar a falta de cuidado dos seres humanos, o parque está se recuperando.

Quando o matagal ameaça tomar conta do parque, travando as caminhadas e os passeios de bicicleta, Wanderson aciona a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), o Rauler (da Amma, outro protetor do parque, sempre atento e eficiente) e até políticos. Sua missão é esta: cuidar do parque. Para que continue prazeroso para os visitantes e vivo para os animais e árvores.

Lá, quase sempre, os visitantes podem ver aves e pássaros: garça, tuiuiú (não tem só no Pantanal Mato-grossense), bem-te-vi, joão-de-barro, anum, patos, cabeça seca, socó, pica-pau do cerrado, saracura, gavião carcará e tantos outros.

Há poucos dias, eu e Candice paramos para acompanhar o “passeio” de uma bela cobrinha vermelha. Tranquila, despreocupada. Apareceu e desapareceu. Não nos incomodou e não a incomodamos. Com sorte, o visitante poderá ver um tamanduá bandeira ou um quati. Há peixes na lagoa principal e no laguinho formado perto da casinha do parque.

Wanderson cuida de tudo, com seu olhar perspicaz para os detalhes. Aos que não respeitam as regras da natureza — da preservação —, longe de se mostrar irritado, ele, com calma e sabedoria, aconselha sobre o que fazer e o que não fazer. Dada sua tolerância, poucos ficam com raiva. Pelo contrário, saem agradecidos.

Queimada no Parque Lagoa Vargem Bonita (em Goiânia), ocorrida em agosto de 2024 | Foto: Euler de França Belém/Jornal Opção

Espécie de Henry Thoreau do Parque Lagoa Vargem Bonita — com seus belos jatobás, sucupiras, jacas, coités, angicos, aroeiras, jenipapos —, Wanderson é um protetor da natureza. Ele ama o parque e convida as pessoas a amá-lo.

Acidente de moto e cirurgia no fêmur

Recentemente, um motociclista atingiu Wanderson, que estava em sua moto. Os dois se machucaram. Anderson foi internado no Hugo, o Hospital de Urgências de Goiânia, e depois transferido para outro hospital. Ficou na UTI vários dias.

Dada sua força, que é tanto física quanto psíquica, Wanderson está bem melhor. É um resistente, às vezes resiliente, às vezes ligeiramente nervoso (porque é uma pessoa extremamente ativa). Os médicos operaram o fêmur de uma perna. Com sucesso.

Contam que, mesmo nos momentos mais difíceis, na UTI, Wanderson pensava no parque, que é seu e de todos os goianienses e goianos. É provável que, ao ganhar alta, antes de voltar para sua casa, peça para passar primeiro no parque. Nem que seja para vê-lo de longe e sentir a sua “paz” e “energia positiva”.

Pássaros (canários) que circulam pelo Parque Lagoa Vargem Bonita | Foto: Euler de França Belém

Quem esteve no parque recentemente disse mais ou menos ou seguinte: está quase tudo em ordem, até porque o Rauler está de olho. Mas, num vídeo, uma pessoa contou que descobriram redes de pesca nas proximidades da lagoa.

O poeta, cronista e jornalista Sinésio Dioliveira conta que sonhou que estava conversando com o Parque Lagoa Vargem Bonita. O Parque teria perguntado: “Sinésio, cadê o Wanderson? Estamos com saudade dele”. O bardo respondeu: “Calma. O Wanderson, nosso Thoreau do Parque, em breve irá visitá-lo”. O Parque teria acrescentado: “Estamos precisando das mãos e do olhar do nosso hermano Wanderson”.

Ao acordar, Sinésio enviou uma mensagem para mim e disse: “Precisamos visitar o parque e o Wanderson”. Porque, talvez seja possível sugerir, o parque e Wanderson são, hoje, uma coisa só. O Parque é uma espécie de filho mais velho. O terceiro filho.

De fato, o Parque Lagoa Vargem Bonita clama pela volta do Wanderson. Nós, os amigos do parque — eu, Sinésio, Rauler, Jaqueline, Anderson e Augusto, para citar alguns —, torcemos para que Wanderson se recupere o mais rápido possível. Queremos vê-lo andando pelo parque e flanando com sua inseparável bicicleta e seu olhar atento. Assim como a natureza do parque, pós-incêndio, Wanderson renasceu.

Wanderson estar no mundo para, com sua simplicidade, fazer a diferença. Ele faz a diferença. Por isso, a natureza e seus admiradores, como eu, agradecem. Penhoradamente.

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