“PL da Devastação”: veja como votou cada senador no projeto que desmonta o licenciamento ambiental

Sob pressão de setores ruralistas e com apoio do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), o Senado Federal aprovou, na noite de quarta-feira, 21, por 54 votos favoráveis e 13 contrários, o Projeto de Lei (PL) 2.159/2021. A proposta modifica as regras do licenciamento ambiental no país e é vista por especialistas e ambientalistas como o maior retrocesso na legislação ambiental brasileira desde a promulgação da Constituição de 1988. Veja, a seguir, como votou cada senador.

Fruto de uma relatoria compartilhada entre a senadora Tereza Cristina (PP-MS) e o senador Confúcio Moura (MDB-RO), o texto tramita há 21 anos no Congresso Nacional e agora segue para nova apreciação na Câmara dos Deputados. O PL estabelece dispositivos que, na prática, reduzem a fiscalização e ampliam as hipóteses de dispensa do licenciamento ambiental. Além disso, cria o Licenciamento por Adesão e Compromisso (LAC), modelo autodeclaratório que permite a autorização automática de empreendimentos, sem análise prévia dos órgãos ambientais.

Durante a sessão, que se estendeu por mais de quatro horas, os parlamentares favoráveis ao projeto defenderam a proposta como uma forma de “padronizar” e “desburocratizar” os processos de licenciamento no Brasil.

“Esse projeto é necessário para o Brasil, que tem uma parafernália de normas em várias instâncias. Se uma obra é proposta em Minas Gerais, ela não tem as mesmas normas que no Pará. O objetivo dessa legislação é uma padronização para poder eliminar essa série de normas, muitas delas até divergentes entre os estados, no sentido de pacificação”, declarou Confúcio Moura.

Contudo, a proposta foi criticada por entidades da sociedade civil, especialistas ambientais e organizações de direitos humanos, que classificaram a medida como a “boiada das boiadas”. A principal preocupação está na possibilidade de que atividades econômicas com impactos socioambientais deixem de ser submetidas à avaliação técnica e consulta a populações tradicionais, indígenas e quilombolas.

O texto limita o alcance do licenciamento apenas a territórios com regularização fundiária já concluída, o que, na prática, deixa milhares de comunidades desprotegidas.

Outro ponto do projeto é a atribuição de competência exclusiva aos estados e municípios para definir, sem coordenação nacional, quais atividades devem ser licenciadas e quais podem ser dispensadas. Especialistas alertam que esse tipo de descentralização pode comprometer a uniformidade e o rigor técnico na proteção do meio ambiente, além de abrir brechas para flexibilizações locais motivadas por interesses políticos ou econômicos.

Apesar das críticas e da existência de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que se contrapõem a trechos do projeto, a maioria dos senadores optou por aprovar o texto. A bancada do PT foi a única que orientou voto contrário. Já o PDT, PSB e o próprio governo federal liberaram seus parlamentares para votar como quisessem. Todos os demais partidos se posicionaram favoravelmente à aprovação do PL.

A seguir, confira a tabela completa com a votação dos senadores:

Senador(a) UF Partido Voto
Alan Rick AC UNIÃO SIM
Alessandro Vieira SE MDB Abstenção
Ana Paula Lobato MA PDT NÃO
Angelo Coronel BA PSD SIM
Astronauta Marcos Pontes SP PL SIM
Augusta Brito CE PT NÃO
Beto Faro PA PT NÃO
Carlos Portinho RJ PL SIM
Carlos Viana MG PODEMOS SIM
Chico Rodrigues RR PSB SIM
Cid Gomes CE PSB Abstenção
Ciro Nogueira PI PP SIM
Cleitinho MG REPUBLICANOS SIM
Confúcio Moura RO MDB SIM
Damares Alves DF REPUBLICANOS SIM
Daniella Ribeiro PB PP Abstenção
Davi Alcolumbre AP UNIÃO Presidente
Dr. Hiran RR PP SIM
Dra. Eudócia AL PL SIM
Eduardo Braga AM MDB SIM
Eduardo Girão CE NOVO SIM
Eduardo Gomes TO PL Abstenção
Efraim Filho PB UNIÃO SIM
Eliziane Gama MA PSD NÃO
Esperidião Amin SC PP SIM
Fabiano Contarato ES PT NÃO
Fernando Dueire PE MDB Abstenção
Fernando Farias AL MDB SIM
Flávio Arns PR PSB Abstenção
Flávio Bolsonaro RJ PL SIM
Giordano SP MDB Abstenção
Hamilton Mourão RS REPUBLICANOS SIM
Humberto Costa PE PT NÃO
Irajá TO PSD SIM
Ivete da Silveira SC MDB SIM
Izalci Lucas DF PL SIM
Jader Barbalho PA MDB SIM
Jaime Bagattoli RO PL SIM
Jaques Wagner BA PT NÃO
Jayme Campos MT UNIÃO SIM
Jorge Kajuru GO PSB NÃO
Jorge Seif SC PL SIM
Jussara Lima PI PSD SIM
Laércio Oliveira SE PP SIM
Leila Barros DF PDT NÃO
Lucas Barreto AP PSD SIM
Luis Carlos Heinze RS PP SIM
Magno Malta ES PL SIM
Mara Gabrilli SP PSD NÃO
Marcelo Castro PI MDB SIM
Marcio Bittar AC UNIÃO SIM
Marcos do Val ES PODEMOS SIM
Marcos Rogério RO PL SIM
Margareth Buzetti MT PSD SIM
Mecias de Jesus RR REPUBLICANOS SIM
Nelsinho Trad MS PSD SIM
Omar Aziz AM PSD SIM
Oriovisto Guimarães PR PSDB SIM
Otto Alencar BA PSD Abstenção
Paulo Paim RS PT NÃO
Plínio Valério AM PSDB SIM
Professora Dorinha TO UNIÃO SIM
Randolfe Rodrigues AP PT Abstenção
Renan Calheiros AL MDB SIM
Rodrigo Pacheco MG PSD Abstenção
Rogério Carvalho SE PT NÃO
Rogério Marinho RN PL SIM
Romário RJ PL Abstenção
Sergio Moro PR UNIÃO SIM
Soraya Thronicke MS PODEMOS SIM
Styvenson Valentim RN PSDB SIM
Sérgio Petecão AC PSD SIM
Teresa Leitão PE PT NÃO
Tereza Cristina MS PP SIM
Vanderlan Cardoso GO PSD SIM
Veneziano Vital do Rêgo PB MDB Abstenção
Wellington Fagundes MT PL SIM
Weverton MA PDT SIM
Wilder Morais GO PL SIM
Zenaide Maia RN PSD Abstenção
Zequinha Marinho PA PODEMOS SIM

Com a aprovação, a proposta do projeto deverá retornar à Câmara para nova análise. Enquanto isso, cresce a mobilização de entidades que prometem contestar o texto no Supremo Tribunal Federal, caso ele venha a ser sancionado sem vetos.

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