JBS transfere sede para a Holanda, aposta em listagem em bolsa dos EUA e amplia poder da família Batista

A JBS anunciou uma reestruturação internacional que inclui a transferência da sede para a Holanda e a implementação de uma dupla listagem de ações na Bolsa de Nova York (NYSE) e na B3, por meio de BDRs.

A medida, liderada pela família Batista, visa destravar valor para os acionistas, mas levanta debates entre investidores, especialmente sobre a concentração de poder nas mãos dos controladores. Nesta sexta-feira, 23, os acionistas minoritários votam a proposta, que já enfrenta resistência.

Documentos divulgados pela JBS mostram que 52% dos votos computados até agora são contrários à mudança. O plano prevê a criação de três novas empresas: a JBS NV, na Holanda, que será a nova holding listada; a LuxCo, em Luxemburgo; e a Brazil HoldCo, que manterá subsidiárias no Brasil.

Especialistas elogiaram o modelo como eficiente em termos de planejamento societário e tributário, aproveitando tratados internacionais e legislações flexíveis, sem risco de bitributação. Com a reestruturação, a JBS NV emitirá duas classes de ações:

  • Classe A, com 1 voto por ação e negociada publicamente na NYSE e via BDRs na B3;
  • Classe B, com 10 votos por ação, não negociável, concentrada nos controladores.

A nova estrutura aumenta o poder de voto da família Batista de 50% para cerca de 83% a 85%, mesmo sem alterar significativamente sua participação econômica. As ações atuais da JBS S.A. deixarão de ser listadas, tornando-se subsidiária integral da Brazil HoldCo.

Minoritários poderão converter seus papéis em ações Classe B até o fim de 2026, mas como elas não serão negociadas, o mercado espera que optem pelas Classe A, mais líquidas.

Consultorias de governança criticam proposta da JBS

A reestruturação foi criticada por consultorias de governança corporativa, como ISS e Glass Lewis, que recomendaram voto contrário à proposta. Segundo elas, a criação de ações com supervoto reduz os direitos dos minoritários e perpetua o controle da família Batista, mesmo com eventual redução de sua participação econômica.

Em resposta, o fundo Capital Management, minoritário na JBS, enviou carta à SEC defendendo a operação e acusando as consultorias de viés ideológico. Afirmou que a supervisão dos EUA garante proteção adequada aos investidores e destacou os ganhos bilionários potenciais com a listagem nos EUA.

A operação também enfrenta resistência de organizações ambientais e parlamentares norte-americanos, que citam o histórico da JBS em escândalos de corrupção e o envolvimento da subsidiária Pilgrim’s Pride como uma das maiores doadoras da campanha de Donald Trump.

A Transparência Internacional afirmou que permitir a listagem da JBS na NYSE envia “mensagem errada” ao mercado internacional. A empresa rebateu, destacando que já cumpre exigências regulatórias da SEC.

Mercado brasileiro vê operação como positiva

No mercado financeiro nacional, analistas enxergam valor na proposta. Segundo Igor Guedes, da Genial Investimentos à Folha de S. Paulo, a concentração de poder é um dado técnico que precisa ser entendido pelos minoritários, mas os ganhos financeiros justificam a aprovação.

Já Guilherme Palhares, do Banco Santander, avalia que a estrutura assegura controle à família Batista, ao mesmo tempo que amplia o acesso a capital, reforçando a estratégia de crescimento via fusões e aquisições.

Desde que o BNDES sinalizou apoio à dupla listagem, em março, as ações da JBS já valorizaram 28,5%, gerando ganho de R$ 2,7 bilhões ao banco apenas no primeiro dia após o anúncio. O diretor jurídico do banco, Walter Baère, explicou que a atual proposta é mais madura e transparente que a anterior, barrada em 2016.

Com operações em mais de 180 países e 280 mil colaboradores, a JBS intensifica sua internacionalização, mirando os maiores mercados de capitais do mundo. A dupla listagem na NYSE e a estrutura societária na Holanda e Luxemburgo colocam a empresa em linha com práticas adotadas por gigantes da tecnologia e do agronegócio.

Leia também:

  • Setor imobiliário será profundamente afetado pela reforma tributária, alerta consultor jurídico
  • TCM alerta: 16 cidades goianas ainda não enviaram dados para Índice de Efetividade da Gestão Municipal

O post JBS transfere sede para a Holanda, aposta em listagem em bolsa dos EUA e amplia poder da família Batista apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.