
Em sua primeira coletiva de imprensa em cinco meses, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta quarta-feira (21) que o fim da ofensiva contra a Faixa de Gaza dependerá da execução de uma política de remoção forçada da população palestina, promovida por Donald Trump.
Foi a primeira vez que o governo israelense assumiu publicamente a expulsão dos palestinos como condição para interromper os bombardeios.
A medida, que Netanyahu classificou como “brilhante” e “revolucionária”, prevê o esvaziamento total de Gaza e o reassentamento de seus habitantes em países árabes, num processo de deslocamento transfronteiriço forçado.
Trata-se da adesão explícita a uma estratégia de limpeza étnica denunciada por agências da ONU, juristas internacionais e organizações de direitos humanos.
“Gaza deve ser totalmente desmilitarizada, e devemos implementar o plano de Trump”, disse o premiê, ao lado de oficiais militares. Segundo ele, qualquer cessar-fogo que não inclua o desmantelamento do Hamas e a saída definitiva da população palestina seria inaceitável para Israel.
Trump já havia defendido publicamente o esvaziamento de Gaza em janeiro, ao afirmar que era preciso “limpar a coisa toda”. Em visita recente ao Catar, chegou a declarar que os EUA poderiam transformar Gaza numa “zona de liberdade” porque, segundo ele, “não há mais nada a ser salvo” ali. Agora, sob respaldo do governo israelense, essa política passa a ser diretriz oficial da guerra.
Isolamento de Israel se agrava com avanço da política de expulsão
A declaração de Netanyahu provocou nova onda de repúdio internacional. Representantes das Nações Unidas, da Human Rights Watch e da Anistia Internacional alertaram que o plano fere os princípios fundamentais do direito internacional e configura crime de guerra com elementos de limpeza étnica, ao condicionar o fim da violência à remoção da população civil de um território ocupado.
A política de expulsão aprofundou o isolamento diplomático de Israel. Países como Reino Unido, França, Alemanha, Espanha, Irlanda e Canadá intensificaram as críticas públicas ao governo israelense e passaram a pressionar por sanções.
Na terça-feira (20), o Reino Unido suspendeu as negociações de livre comércio com Israel e anunciou medidas contra colonos envolvidos em ataques a comunidades palestinas na Cisjordânia.
Em comunicado conjunto, os primeiros-ministros britânico e canadense e o presidente francês alertaram que adotarão “ações concretas” se Israel mantiver a ofensiva e impedir a entrada de ajuda humanitária. A União Europeia também anunciou a revisão de seu acordo de cooperação com Tel Aviv, citando a “situação catastrófica” vivida pelos civis em Gaza.
Mesmo os Estados Unidos, sob a liderança de Trump, sinalizam incômodo com a escalada da guerra. Embora o ex-presidente tenha reafirmado seu “compromisso absoluto” com Netanyahu, o secretário de Estado Marco Rubio indicou que há esforços para uma negociação de cessar-fogo e declarou ter “um certo otimismo” quanto à retomada de conversas diplomáticas.
Fontes ligadas à Casa Branca revelaram que Trump estaria pressionando nos bastidores para um encerramento rápido da guerra, com base na execução da política de reassentamento.
Netanyahu distorce fatos e nega massacre em kibutz atacado
Na mesma coletiva, Netanyahu também tentou desviar críticas sobre as falhas de segurança do 7 de outubro e reduzir a dimensão da ofensiva coordenada pelo Hamas.
Alegou que os militantes estavam “de chinelos, com fuzis AK-47 e caminhonetes baratas”, e negou que os túneis financiados pelo Catar tenham penetrado o território israelense — versão que contraria os próprios relatórios da IDF.
“O Hamas não tinha F-35 nem tanques”, afirmou, numa tentativa de desqualificar as denúncias de que seu governo teria permitido o fortalecimento do grupo ao longo dos anos.
Netanyahu também negou que o kibutz Ein HaShlosha tenha sido invadido em 7 de outubro, o que provocou reação imediata da comunidade. Moradores emitiram nota denunciando a declaração como “ultrajante” e “ofensiva à memória dos assassinados”.
Quatro pessoas foram mortas naquele dia, em confronto direto com os invasores. O gabinete de Netanyahu tentou contornar a repercussão afirmando que a fala teria sido “mal interpretada”, sem retratação formal.
O premiê também voltou a condicionar qualquer cessar-fogo à aceitação de uma lista de exigências, entre elas a rendição completa do Hamas, o exílio de sua liderança e a remoção da população de Gaza. Na prática, trata-se de uma negação total do direito de permanência do povo palestino em seu território, sob ameaça de morte e destruição contínua.
Oposição interna denuncia estratégia como “sem retorno” e “criminosa”
As declarações de Netanyahu aprofundaram o racha interno em Israel. Para o partido Democratas, liderado pelo ex-vice-chefe do Estado-Maior Yair Golan, o governo “age de forma descontrolada, mentirosa e sem qualquer responsabilidade histórica”.
Golan prometeu processar Netanyahu por difamação e declarou que o primeiro-ministro “será derrotado nas urnas e jogado para as páginas da história”.
O líder da oposição, Yair Lapid, alertou que a ocupação prolongada de Gaza transformará Israel em um Estado permanentemente em guerra, drenando recursos e mantendo soldados sob risco por tempo indefinido. Segundo ele, Netanyahu mente ao afirmar que há coordenação com Washington. “Ele perdeu o apoio e a atenção de Trump”, disse Lapid.
Pesquisas recentes mostram que a maioria da população israelense deseja um cessar-fogo imediato que assegure o retorno dos reféns. Mas os setores mais extremistas do gabinete, liderados por Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir, defendem o avanço total da guerra e a expulsão definitiva dos palestinos, agora com aval formal do chefe do governo.
O post Netanyahu impõe plano de Trump como condição para fim do genocídio em Gaza apareceu primeiro em Vermelho.