O ex-diretor de inteligência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Adiel Pereira Alcântara, revelou que superiores pediram monitoramento de ônibus com origem em Goiás e outros três estados com destino a nordeste durante o segundo turno das eleições presidenciais de 2022. A informação é do jornal Folha de S.Paulo.
“O diretor pediu um apoio ao diretor de inteligência sobre ônibus e vans com origem nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro com destino ao Nordeste. […] Eu perguntei do porquê apenas aqueles estados e aquele destino. Eu não me convenci e demonstrei que achei estranha a ordem”, disse Adiel em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da suposta trama golpista.
Adiel afirmou que a demanda fugia da normalidade. “A insatisfação era de grande parte do efetivo, que não via com bons olhos a vinculação à imagem do ex-presidente. Ele [Vasques] participava de motociatas com a motocicleta da PRF, tinha uma vinculação muito forte. A gente não via bem porque estava criando uma polícia de governo, e não de Estado.”
O ex-analista de inteligência do Ministério da Justiça, Clebson Ferreira de Paula Vieira disse que suspeitou de ordens do alto escalão da equipe do ex-ministro Anderson Torres para mapear os municípios em que Lula e Jair Bolsonaro tinham recebido mais de 70% dos votos no primeiro turno das eleições de 2022.
Clebson afirmou que guardou toda a documentação relacionada aos pedidos da ex-diretora de Inteligência Marília Ferreira para apresentá-la à investigação. Segundo ele, a equipe do então ministro da Justiça havia demandado a ele duas análises após o primeiro turno do pleito. A primeira demanda era identificar as cidades em que os candidatos tiveram mais de 70% dos votos, e a segunda tratava sobre a distribuição do efetivo da PRF.
Questionado sobre estranhamento sobre as ordens, Vieira afirmou: “Imediatamente. Era uma época complicada. Eu diria que havia um viés cognitivo político […] Tudo foi somando para um raciocínio que o que aconteceu no dia do segundo turno, eu já sabia que ia acontecer”.
A PRF montou blitze no segundo turno das eleições para dificultar a ida de eleitores de Lula aos locais de votação. O ex-analista disse ter convicção de que os dados levantados haviam sido utilizados de forma ilegal quando viu a movimentação da PRF no dia da eleição.
Depoimentos
Nesta segunda-feira, 19, o ministro Alexandre de Moraes iniciou a fase de depoimento das testemunhas contra o núcleo central da trama golpista de 2022. Os réus no grupo são: o ex-presidente Jair Bolsonaro, Alexandre Ramagem (deputado federal e ex-chefe da Abin), Almir Garnier (ex-comandante da Marinha), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro), Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil e da Defesa).
Os réus são acusados de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio público e deterioração do patrimônio tombado. As penas podem ultrapassar 40 anos.
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