
Os ataques aéreos e terrestres conduzidos por Israel em diferentes regiões da Faixa de Gaza deixaram ao menos 91 mortos nesta segunda-feira (19), segundo a Defesa Civil operada pelo Hamas. Entre os alvos, estavam uma escola que abrigava famílias palestinas em Nuseirat, no centro de Gaza, e uma casa em Deir al-Balah, ao sul do enclave.
O exército israelense afirmou ter atingido centenas de alvos, entre os quais estruturas subterrâneas e pontos usados para armazenamento de armamentos. As informações não puderam ser verificadas de forma independente.
Durante os combates no norte de Gaza, também foi confirmada a morte do sargento Yosef Yehuda Chirak, integrante do Batalhão de Engenharia de Combate 601 das Forças de Defesa de Israel (IDF).
A nova fase do massacre em Gaza foi oficialmente batizada pelo governo israelense como Operação Carruagens de Gideão (Operation Gideon’s Chariots), e foi aprovada pelo gabinete de segurança de Netanyahu no dia 5 de maio.
Lançada no último domingo (18), ela combina incursões terrestres no norte e sul de Gaza com uma nova onda de ataques aéreos e bombardeios intensificados.
Segundo as IDF, a operação busca “expandir o controle operacional sobre o território”, destruir infraestrutura do Hamas e garantir a permanência de tropas israelenses em pontos estratégicos.
Desde que foi iniciada, ao menos 160 pessoas foram mortas, inclusive em acampamentos de deslocados e áreas densamente povoadas.
A ofensiva ocorre em paralelo às negociações indiretas entre Israel e Hamas em Doha, que seguem sem avanços concretos. O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que os relatos sobre o plano de Israel para ampliar as operações terrestres são “alarmantes” e descreveu a situação humanitária em Gaza como “indescritível, atroz e desumana”.
Mesmo dentro de Israel, a ofensiva tem gerado forte dissenso. Familiares de reféns acusam Netanyahu de colocar a continuidade da guerra à frente da negociação pela vida dos cativos. Para a ONU, o que ocorre em Gaza é “além de inumano”.
Países aliados ameaçam impor sanções a Israel
Em resposta à nova ofensiva israelense em Gaza, Reino Unido, França e Canadá divulgaram nesta segunda-feira (19) uma declaração conjunta advertindo que a continuidade da operação militar e o bloqueio à ajuda humanitária podem representar uma violação grave do Direito Internacional Humanitário.
“A recusa do governo israelense em permitir assistência essencial à população civil é inaceitável e pode violar o Direito Humanitário Internacional”, diz o documento, divulgado pelo governo britânico.
Os três países prometeram adotar “ações concretas”, incluindo sanções direcionadas, caso Israel não recue.
A declaração soma-se à pressão internacional crescente, visível também em posicionamentos de 22 países doadores — entre eles Alemanha, Japão, Portugal e Austrália — que exigiram a retomada plena da entrada de ajuda humanitária em Gaza.
As declarações ocorrem em um momento em que imagens da destruição, do colapso hospitalar e da fome em Gaza circulam amplamente nas redes e veículos internacionais, aprofundando o isolamento político de Netanyahu.
O ministro canadense das Relações Exteriores, por exemplo, afirmou que “não se pode assistir passivamente ao que se tornou uma violação sistemática das obrigações humanitárias por parte de Israel”.
O Hamas saudou a posição das potências ocidentais e disse que os ataques contra civis deslocados representam “um crime brutal” com cobertura política dos Estados Unidos.
Em nota, o grupo afirmou que “ao conceder ao governo da ocupação cobertura militar e política, os EUA compartilham diretamente a responsabilidade por esta escalada insana contra civis em Gaza, incluindo crianças, mulheres e idosos”.
Netanyahu promete controle total de Gaza e endurece discurso
A ameaça de sanções por parte de Reino Unido, França e Canadá veio poucas horas após a publicação de um vídeo em que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirma que Israel pretende assumir o controle total da Faixa de Gaza.
A declaração, feita em tom de desafio, foi interpretada por analistas como uma resposta à pressão internacional e um aceno à extrema direita israelense.
No vídeo divulgado na segunda-feira (19), Netanyahu afirmou que a “vitória completa” de Israel exige tanto a libertação dos reféns quanto a destruição do Hamas e o domínio militar contínuo sobre Gaza.
Segundo ele, “temos um problema – precisamos de Estados que recebam essas pessoas”, em referência à proposta de reassentamento de palestinos fora do enclave.
A fala provocou reações imediatas. “Os amigos mais próximos de Israel estão começando a questionar nossas ações”, teria alertado o próprio Netanyahu em conversas com parlamentares norte-americanos, conforme relatos reproduzidos por veículos locais.
O premiê admitiu que a pressão de aliados históricos motivou a decisão de liberar entrada limitada de alimentos em Gaza.
Netanyahu rebateu também a declaração conjunta de Londres, Paris e Ottawa, acusando os três países de estarem “recompensando o terror de 7 de outubro”. A retórica coincide com o fortalecimento de setores ultranacionalistas em seu governo, que se opõem frontalmente a qualquer cessar-fogo ou concessão humanitária ao povo palestino.
Ajuda entra em Gaza sob pressão internacional e com Netanyahu isolado
Após três meses de bloqueio total, Israel autorizou a entrada de nove caminhões com alimentos por meio do ponto de passagem de Kerem Shalom, na tríplice fronteira entre Israel, Egito e o território palestino.
A ONU classificou a medida como “um desenvolvimento positivo”, mas alertou que representa apenas “uma gota no oceano” diante da dimensão da crise humanitária.
Segundo a imprensa israelense, a liberação ocorreu após recomendação militar e pressão de governos aliados. Em pronunciamento, Netanyahu reconheceu que parlamentares norte-americanos considerados históricos aliados de Israel o alertaram que as imagens de fome estão erodindo o apoio político ao país.
Donald Trump não incluiu Israel em sua recente visita ao Oriente Médio, gesto interpretado por analistas como sinal de distanciamento. O enviado especial de Trump para questões de reféns, Adam Boehler, declarou que os EUA poderiam voltar a negociar com o Hamas, caso o grupo apresente uma proposta concreta de libertação.
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