Centro-direita vence eleições em Portugal com discurso anti-imigração

A coalizão de centro-direita Aliança Democrática (AD), liderada pelo atual primeiro-ministro Luís Montenegro, venceu as eleições legislativas de Portugal neste domingo (18), mas sem conquistar maioria parlamentar.

Com 32,7% dos votos, a AD obteve 89 cadeiras, número insuficiente para formar governo sozinho no Parlamento, que conta com 230 assentos. O Partido Socialista obteve 23,4% dos votos, o pior desempenho da legenda em 38 anos.

O resultado confirmou o avanço da extrema direita e provocou um terremoto no sistema partidário português. O Chega, liderado por André Ventura, alcançou 22,6% dos votos e empatou em número de cadeiras com o PS, cada um com 58 deputados.

Enquanto Ventura celebrou o desempenho histórico de seu partido, o líder socialista Pedro Nuno Santos anunciou a renúncia à direção do PS.

A eleição teve taxa de participação de 64,3%, quatro pontos acima do pleito legislativo anterior, realizado em março de 2024. O país foi às urnas pela terceira vez em três anos, num clima de desgaste político e ceticismo institucional.

Ainda restam ser contabilizados os votos dos portugueses no exterior, responsáveis por eleger quatro deputados — dois pela Europa e dois pelo restante do mundo — com divulgação prevista para 28 de maio.

A nova composição parlamentar consolida a fragmentação do sistema político português e abre um período de indefinição sobre a formação do próximo governo.

Montenegro já declarou que não negociará com o Chega, mas também não conta com aliados suficientes para garantir estabilidade legislativa. O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, iniciará consultas com os partidos ainda nesta semana.

PS sofre queda histórica e Chega consolida extrema direita como força nacional

Os socialistas foram os maiores derrotados na eleição deste domingo, ao ver sua bancada parlamentar encolher de 78 para 58 cadeiras, com apenas 23,4% dos votos.

A legenda perdeu mais de 400 mil votos em relação ao pleito de 2024 e sofreu duras derrotas em regiões tradicionalmente favoráveis, como o sul do país. Diante do resultado, o secretário-geral Pedro Nuno Santos anunciou sua saída da liderança do partido.

Durante a apuração, o Chega chegou a aparecer numericamente à frente do PS e terminou a eleição com empate em cadeiras, consolidando-se como a terceira força.

Ventura celebrou o que chamou de “ajuste de contas com a história” e afirmou que “nada seguirá igual em Portugal”.

O partido de extrema direita venceu em distritos como Algarve, Beja, Setúbal e Portalegre, todos tradicionalmente dominados pelos socialistas. O avanço da extrema direita nessas regiões evidencia o deslocamento de uma parcela do eleitorado de esquerda para o discurso xenófobo e nacionalista de Ventura.

O partido, fundado em 2019, tem capitalizado o descontentamento social e a desconfiança nas instituições, usando como bandeiras o combate à imigração, propostas de endurecimento penal e ataques sistemáticos à esquerda.

Além de reivindicar a liderança da oposição, o Chega tem rejeitado qualquer papel secundário em futuras composições de governo. Diferente do pleito anterior, Ventura não acenou para alianças com a AD. Seu discurso agora mira a substituição do próprio primeiro-ministro. Com 1,34 milhão de votos, o Chega consolidou-se como protagonista do novo ciclo político português.

Vitória da AD revalida governo, mas não encerra crise de instabilidade

Apesar da vitória, a AD seguirá sem maioria parlamentar e terá de negociar acordos com outras forças para viabilizar o governo. Montenegro afirmou que o resultado representa um “voto de confiança” e exigiu estabilidade para governar pelos próximos quatro anos.

No entanto, ele não conta com margem suficiente nem para repetir os acordos anteriores com a Iniciativa Liberal (IL), que obteve apenas nove cadeiras.

A eleição foi convocada após a queda do governo de Montenegro, que perdeu uma moção de confiança em março. Mesmo com a crise e os ataques do PS, o primeiro-ministro conseguiu ampliar sua bancada e apresentar-se como o nome preferido do eleitorado conservador.

Montenegro reiterou que não fará pactos com o Chega, apesar da pressão crescente da base conservadora. Sem essa aliança, a governabilidade dependerá de entendimentos com setores do centro e de uma oposição disposta a negociar pontualmente projetos de interesse comum — um cenário incerto diante da atual correlação de forças.

Nos últimos meses, o governo já havia sido obrigado a aprovar medidas impostas pela oposição, como a eliminação de pedágios em autoestradas, com as quais discordava. A repetição desse modelo de minoria legislativa tende a reproduzir bloqueios e instabilidade, caso Montenegro não articule uma nova base ampliada.

Livre cresce e ultrapassa partidos históricos da esquerda

A única legenda do campo progressista que cresceu foi o Livre, fundado por Rui Tavares. O partido alcançou 4,2% dos votos, passando de quatro para seis deputados, e tornou-se a quinta maior força da Assembleia da República.

Superou tanto o Partido Comunista Português (PCP), que manteve três cadeiras, quanto o Bloco de Esquerda (BE), que ficou com apenas um deputado — a coordenadora Mariana Mortágua.

Tavares celebrou o crescimento, mas reconheceu que o cenário é adverso. Ele reafirmou que o Livre permanecerá na oposição e buscará ser uma alternativa progressista diante da ascensão conservadora.

O partido tem se destacado por sua plataforma ecossocialista e pela defesa de direitos humanos, mesmo sendo criticado por setores da esquerda por posições ambíguas em política externa.

Além do Livre, o Pessoas-Animais-Natureza (PAN) manteve uma cadeira. A surpresa veio da região autônoma da Madeira: o Juntos Pelo Povo (JPP), legenda local que já havia se destacado nas eleições regionais, elegeu pela primeira vez um deputado para o Parlamento nacional.

No conjunto, a esquerda portuguesa atingiu seu pior desempenho desde a redemocratização. A soma de votos do PS, BE, PCP, Livre e PAN não alcança sequer um terço do eleitorado.

A hegemonia histórica construída após a Revolução dos Cravos encontra-se fragmentada, sem alternativa clara frente à direita em ascensão.

O post Centro-direita vence eleições em Portugal com discurso anti-imigração apareceu primeiro em Vermelho.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.