UFC diploma Bergson Gurjão 53 anos após seu assassinato pela ditadura

A Universidade Federal do Ceará (UFC) concedeu, na última sexta-feira (16), o diploma simbólico de graduação ao estudante e militante comunista Bergson Gurjão Farias, assassinado pela ditadura militar em 1972.

A cerimônia, realizada na Reitoria da UFC, contou com a presença de familiares, ex-companheiros de militância, estudantes, professores, lideranças políticas e representantes da comunidade acadêmica.

A solenidade ocorreu na véspera do aniversário de nascimento de Bergson, que completaria 78 anos no sábado (17).

O ato marcou um reconhecimento institucional à sua trajetória como estudante, dirigente estudantil e combatente da Guerrilha do Araguaia. Durante a ditadura, Bergson teve sua matrícula cassada por ser militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

O reitor da UFC, Custódio Almeida, afirmou O Povo que esta foi a primeira colação de grau póstuma realizada pela universidade. “É um gesto para devolver os direitos que lhe foram negados. Uma reparação histórica”, declarou.

Segundo ele, a homenagem faz parte da programação dos 70 anos da instituição e responde a um cenário político em que memórias autoritárias voltaram a ser normalizadas.

“Estamos fazendo isso para conservar e manter viva a memória, para nunca mais deixar acontecer”, disse.

O diploma foi entregue à irmã do militante, Ielnia Farias Johnson, que representou a família. Em sua fala, ela relembrou a escolha de Bergson pela Química ainda no ensino médio, a orientação firme do pai diante das dificuldades escolares e a dedicação do irmão como estudante e militante.

“Bergson teria sido um excelente profissional, assim como foi excelente em tudo aquilo que ele se propôs a fazer durante sua vida tão curta”, disse.

Ielnia também destacou que a cerimônia realizou um antigo desejo do pai: ver os quatro filhos formados pela Universidade Federal do Ceará. Ao final de sua fala, citou versos da música Rita, de Chico Buarque, uma das favoritas de Bergson:

“A Rita levou meu sorriso, arrancou do peito o que me é de direito […] e, além de tudo, me deixou mudo o violão”, recitou.

Da UFC ao Araguaia: uma trajetória interrompida pela ditadura

Vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes e dirigente do Centro Acadêmico dos Institutos de Ciências, Bergson foi uma das lideranças da juventude comunista na década de 1960.

Ingressou na luta armada contra o regime militar e se tornou combatente da Guerrilha do Araguaia, organizada pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Foi assassinado pelas Forças Armadas em maio de 1972, aos 25 anos.

Seus restos mortais foram localizados apenas nos anos 1990 e identificados por meio de exame de DNA. Em 2009, foram transferidos com honras de Estado de Brasília para Fortaleza.

O velório ocorreu na Concha Acústica da UFC, mesmo local onde havia sido realizado o ato fúnebre em 2001, após a devolução do corpo à família. O sepultamento foi feito ao lado do pai, no cemitério Parque da Paz.

Durante a cerimônia, a presidenta da União Estadual dos Estudantes do Ceará (UEE), Suiane Vida, anunciou que a entidade passa a se chamar UEE Livre — Bergson Gurjão. A mudança foi formalizada como forma de manter viva a memória do militante e afirmar o compromisso da juventude com a democracia.

“Este nome não é apenas uma homenagem, é um compromisso permanente com a memória, com a justiça e com o ideal de liberdade pelo qual Bergson viveu — e foi assassinado”, afirmou Suiane.

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