
A Moody’s retirou dos Estados Unidos, nesta sexta-feira (17), a nota máxima de crédito soberano, encerrando um ciclo histórico iniciado em 1919. A decisão, motivada pelo crescimento da dívida pública e pela instabilidade na condução da política econômica, aprofunda a crise de credibilidade do segundo mandato de Donald Trump.
O rebaixamento ocorre em meio a impasses no Congresso, fracasso da agenda fiscal e divisões dentro do próprio Partido Republicano.
Com a medida, os EUA deixam de figurar no topo das classificações das três principais agências globais de risco — Moody’s, Fitch e S&P — pela primeira vez em mais de um século.
O novo rebaixamento, de Aaa para Aa1, foi anunciado após o fechamento dos mercados, mas já provocou alta nos rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano e aumentou a cautela entre investidores.
A Moody’s justificou a decisão com base em uma combinação de fatores: déficits fiscais persistentes, aumento dos juros e ausência de consenso político sobre medidas sustentáveis.
“As forças econômicas e financeiras dos EUA já não compensam plenamente o declínio dos indicadores fiscais”, afirmou a agência em nota oficial.
Governo ataca economista que não participou da decisão
Em reação ao rebaixamento, a Casa Branca tentou transformar a crise em disputa pessoal. O porta-voz de Trump, Steven Cheung, acusou o economista Mark Zandi, da Moody’s Analytics, de ser responsável pela medida e o chamou de “crítico contumaz” da administração.
Zandi, no entanto, não participou do processo, já que a Moody’s Analytics não integra a divisão de ratings da empresa.
O ataque evidencia a estratégia do trumpismo de deslegitimar instituições e buscar alvos externos para evitar qualquer autocrítica.
Em vez de apresentar alternativas ou explicações técnicas, o governo optou por responsabilizar analistas independentes, mesmo sem ligação formal com a decisão da Moody’s Ratings.
Projeto fiscal de Trump fracassa na própria base republicana
O rebaixamento ocorre num momento de fragilidade da agenda fiscal trumpista. Um projeto que pretendia renovar os cortes de impostos aprovados em 2017 — apelidado por Trump de “Big Beautiful Bill” — foi barrado por parlamentares da ala radical republicana na Câmara dos Representantes.
A proposta previa US$ 4 trilhões em cortes de impostos, com compensações tímidas de US$ 1,5 trilhão em despesas.
A derrota no Congresso acentuou o desgaste político do governo, que já enfrenta déficits estimados em US$ 2 trilhões ao ano e pressões crescentes sobre o serviço da dívida. Economistas alertam que os cortes beneficiariam principalmente os mais ricos e agravariam ainda mais a concentração de renda no país.
Rebaixamento expõe fragilidade da hegemonia norte-americana
A decisão da Moody’s foi tomada em um contexto de crescente desconfiança no ambiente político e econômico dos Estados Unidos. A relação tensa entre o governo Trump e o Federal Reserve, a ausência de articulação no Congresso e o acirramento das disputas internas no Partido Republicano têm provocado incertezas entre investidores e analistas.
Especialistas consultados por veículos internacionais observam que a combinação de guerras tarifárias, desregulação sem planejamento e ataques a instituições autônomas compromete a previsibilidade das decisões econômicas e afasta investidores estratégicos.
O pacote tributário mais amplo, que inclui novas reduções de impostos prometidas por Trump, também enfrenta obstáculos legislativos. O bloqueio da proposta por um comitê da Câmara na mesma semana do rebaixamento ilustrou as dificuldades do governo em consolidar sua agenda.
O episódio reacende debates sobre os limites do modelo fiscal norte-americano e sobre o papel do dólar como ativo seguro em um sistema financeiro internacional cada vez mais tensionado por disputas geopolíticas e instabilidade interna nos EUA.
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