Porto endurece oposição a Raquel e diz que Estado voltou a ser campeão em violência

O presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Álvaro Porto (PSDB), fez um dos discursos mais duros contra o governo Raquel Lyra (PSDB) desde o início da atual legislatura. Da tribuna da Alepe, nesta terça-feira (14), o parlamentar acusou o Executivo estadual de manipular estatísticas de segurança pública, desconsiderar o agravamento da violência e negligenciar tanto o planejamento quanto os profissionais da área. Ele citou dados sobre feminicídios, assassinatos de adolescentes e precariedade nas polícias e em unidades de saúde voltadas para os agentes de segurança, afirmando que o Estado está entre os mais violentos do Brasil. Confira o discurso na íntegra:

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Boa tarde, senhoras e senhores deputados; ocupantes das galerias, servidores da Casa e profissionais de imprensa.

Subimos hoje a esta tribuna para dar voz aos pernambucanos e pernambucanas que vivem hoje uma realidade fictícia construída a partir do controle das estatísticas da violência em Pernambuco pelo governo do estado.

A fantasia serve para gerar manchetes, produzir comparativos e incrementar propaganda de TV e Internet. Porém, na vida real, no cotidiano das pessoas, o quadro é bem outro.

O slogan da atual gestão de que o estado iria “avançar sem deixar ninguém pra trás” é apenas slogan. Só um slogan. Nada mais.

A verdade é que as famílias pernambucanas estão sendo obrigadas a viver sob um clima de terror e enfrentar o luto pelos seus mortos.

No último fim de semana, por exemplo, a imprensa registrou 26 assassinatos. Hoje, a Rádio Jornal informou, entre tantos outros, o caso de uma mãe assaltada com dois filhos pequenos em Jaboatão.

Desesperada com a situação, uma criança saiu do carro levando o irmão, um bebê, no colo. Ou seja, pernambucanos e pernambucanas de todas as idades estão enfrentando riscos e traumas que a insegurança instalou no estado.

Há medo nas áreas rurais, nos bairros, nas casas, no Grande Recife e no interior. Há prejuízo entre empresários e pequenos comerciantes que sofrem com assaltos constantes.

Há comunidades reféns de traficantes no Litoral, no Agreste e no Sertão. Há gente com o direito de ir e vir comprometido. E há, acima de tudo, um alto número de crimes e assassinatos que revela a inoperância do poder público no setor.

Entre janeiro e abril deste ano, 35 mulheres foram assassinadas em virtude do gênero em Pernambuco. O total que é mais do que o dobro verificado no mesmo período, no ano passado.

Esta realidade, bem distante do discurso oficial, foi evidenciada na semana passada, aqui na Alepe, durante audiência pública conjunta entre as Comissões dos Direitos da Mulher e de Cidadania.

Na ocasião, um diagnóstico apresentado por entidades de combate à violência contra a mulher apontou que em Pernambuco existem apenas 30 centros de referência de atendimento e 15 delegacias de mulheres.

E mais: dessas delegacias, apenas cinco funcionam 24 horas, o que é um número irrisório para um estado que soma 185 municípios.

Ou seja, o estado é o promotor deste contexto desesperador que está matando as mulheres.

No primeiro fim de semana deste mês de maio, mais especificamente num intervalo de 48 horas, entre os dias de 2 e 4, quatro adolescentes foram baleados só no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife. Só naquele município, 12 adolescentes foram vítimas de tiros em 2025. Os dados são do Instituto Fogo Cruzado, que acompanha casos de violência envolvendo armas de fogo.

Ainda segundo o mesmo instituto, a Região Metropolitana acumula, neste ano, 52 vítimas com idades entre quatro e 17 anos, uma média de 2,9 por semana.

Em outras palavras, jovens do Cabo, Paulista, Itapissuma, Olinda, São Lourenço e Recife, entre outras cidades, estão sendo atacados e perdendo a vida nessa guerra em que o estado opta pela ficção em vez de construir políticas efetivas de segurança.

As famílias dos adolescentes estão sentindo na pele e na alma o que é ser deixado de lado.

Ainda no Cabo, os altos índices de violência e a crescente onda de criminalidade levaram, inclusive, o prefeito do Cabo de Santo Agostinho, Lula Cabral, a anunciar no último dia 07, que irá formalizar um pedido à governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, para que convoque a Força Nacional de Segurança Pública de modo a conter a barbaridade no município.

De acordo com o prefeito, a medida se faz necessária diante da ausência de ações efetivas do Governo do Estado no enfrentamento aos homicídios, ao tráfico de drogas e demais crimes que têm impactado diretamente a vida da população.

Segundo Lula Cabral, apesar dos investimentos realizados pela gestão municipal em programas de segurança cidadã, ampliação e modernização da Guarda Municipal, a responsabilidade primária pelo policiamento ostensivo e pela repressão qualificada é do Estado.

Instalado naquele município, o 18º Batalhão da Polícia Militar conta hoje com apenas 320 policiais para atender o Cabo e Ipojuca, o que representa uma média de um policial para cada mil habitantes. Trata-se de um quadro preocupante que atesta a negligência do estado e pode explicar o contexto violento do Grande Recife.

Assim como no Cabo, a falta de pessoal e de estrutura são queixas constantes de vereadores e prefeitos, principalmente do interior, e das próprias polícias civil e militar.

E, como sabemos, os policiais que tanto se empenham para combater a criminalidade e garantir a segurança pública, não podem fazer milagres.

As precárias condições de trabalho, inclusive falta de higiene e outras situações indignas, implicam diretamente nos resultados.

Sem este respaldo, os policiais ficam impedidos de exercerem o seu papel adequadamente, sem falar na excessiva carga de trabalho decorrente da falta de efetivo.

Precariedade também vem sendo verificada no Hospital da PM, unidade que atende aos integrantes da polícia e do Corpo de Bombeiros Militar, além de seus familiares.

O deputado Joel da Harpa, é importante relembrar, chegou a divulgar, em março, determinações do TCE que apontavam para a urgente recuperação daquela instituição.

Segundo o tribunal, o hospital apresenta graves problemas estruturais, incluindo mofo e desabamentos no teto, estando, portanto, a segurança e a salubridade das instalações comprometidas.

Senhoras e senhores, esta realidade de descaso e desvalorização dos profissionais acaba por gerar desgaste físico e psíquico e o consequente adoecimento mental de quem trabalha com segurança pública.

É exatamente isso que revela uma pesquisa, divulgada há dois meses, pela Associação dos Delegados e Delegadas de Pernambuco (Adeppe).

Realizada com profissionais do estado, o levantamento constatou que 41% deles afirmaram estar esgotados emocionalmente por conta da sobrecarga de trabalho e do forte estresse inerente à profissão. Já 79% disseram estar com dificuldades de concentração.

Os dados, é relevante salientar, apontam para uma realidade que é óbvia: a sobrecarga emocional impacta diretamente a segurança pública e exigem medidas concretas de proteção à saúde mental de quem trabalha na área.

Mas a pesquisa foi além da necessidade dos cuidados psíquicos. Na verdade, é preciso que o estado resolva o déficit de mais de 220 vagas para delegados em Pernambuco. Afinal, é exatamente o acúmulo de municípios e de atribuições a razão do excesso de trabalho dos delegados.

Mais uma vez, vemos que nem todos estão sendo considerados na tal onda de avanço proposta pelo estado. Policiais e delegados, como é possível constatar, estão sendo desprestigiados e pagando um preço alto pela má gestão.

Do mesmo modo, moradores de São Lourenço estão sendo desrespeitados pelo projeto do governo do estado de fechar o 20° Batalhão de Polícia daquele município e transferi-lo para Camaragibe.

Numa ação carregada de características eleitoreiras, uma vez que o prefeito de São Lourenço é de um partido de oposição, o plano governamental agora foi acrescido de um projeto que prevê a criação de uma academia de Defesa Social.

Como sempre faz, o governo se movimentou sem consultar ou mesmo informar o prefeito do que pretende para o município. Isso significa dizer que moradores e gestor foram, como tantos outros, desprezados sem cerimônia alguma.

Para encerrar, é importante destacar que a opção do governo em ocupar manchetes com dados que são apresentados como positivos é exemplo infeliz de que muitos pernambucanos assassinados estão sendo tratados como mera estatística.

No mês de abril, segundo a própria Secretaria de Defesa Social, foram registrados 251 homicídios no estado, um número que não carrega positividade alguma, não orgulha ninguém e que jamais deveria ser apresentado como algo vantajoso.

Por sua vez, o Atlas da Violência, publicado ontem pelo Ipea e Fórum Brasileiro de Segurança, com dados de 2023, primeiro ano da atual gestão, mostrou que Pernambuco foi na contramão do que se viu no país.

Enquanto a taxa nacional de homicídios para cada 100 mil habitantes caiu 2,3%, nosso estado registrou um aumento de 8%, figurando entre os três mais violentos do Brasil. Ficou atrás apenas do Amapá (41,7%) e do Rio de Janeiro (13,6%).

Diante desta realidade, é importante reforçar, antes de tudo, que segurança não se faz com narrativas e números maquiados. A premissa básica para se construir uma segurança efetiva passa por planejamento, policiamento, inteligência e, principalmente, estrutura de trabalho e valorização dos policiais que estão no batente tentando fazer o seu trabalho.

Hoje a realidade das ruas e os registros da imprensa contradizem diariamente o cenário elaborado pelo governo a partir de um marketing fantasioso.

O que se tem concreto mesmo nesta área é um governo que segue sem cumprir o que prometeu, desvalorizando o luto e a dor dos familiares dos mortos.

O fato é que, ao não conseguir adotar uma política clara e eficiente de segurança pública, o estado se atropela e deixa pra trás promessas, Pernambuco e seu povo.

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