Por José Nivaldo Junior*
Na vida, construímos pontes, castelos, fortalezas. Fortunas e fama, às vezes. Mas nada se compara à amizade verdadeira. Claro que, na dinâmica da vida, nem sempre os verdadeiros amigos compartilham frequentemente o pão e o vinho. Porém, em nenhum dia, deixam de compartilhar a comunhão dos espíritos e das boas lembranças.
Tenho a fortuna de ter vários amigos assim. Não vou citar para não cometer omissões. Hoje, quero homenagear um dos mais longevos e queridos. Um cara que não é perfeito, como todos os humanos, mas é querido, por uma legião de admiradores. como só os anjos alcançam ser.
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Daqui a pouco, pretendo levar meu abraço pela chegada dos primeiros 75 de Zé Neves. Conheci a figura no primeiro dia de aula da Faculdade de Direito, em 1979. Com quase todo mundo já sentado no anfiteatro, porém antes ainda do início da aula, chega Zé. Aquela pessoa alta, agitada, girando a cabeça como um periscópio, procurando duas bancas vazias juntas. É que arrastava pela mão a doce Terezinha, a companheira de sempre, a perfeita tampa para tão complexa panela.
Nem lembro como, tão diferentes, ficamos amigos. Zé, sem nenhum traço de esquerdista, cultivava a democracia. Fez parte do time que escrevia no legendário Jornal Reflexo, que desafiava a censura dos militares assumindo o nome de cada responsável ou articulista. E não foi por coincidência que Dionary Sarmento, Leonardo Cavalcanti e eu, os responsáveis pela publicação, fomos bater no terrível Doi/Código, das inevitáveis torturas e muitos assassinatos. Registro isso para ressaltar a coragem cívica de Zé. Os perigos eram reais e imediatos.
Pulando no tempo, em 1985 o Santa Cruz estava completamente arrasado. Fundo do poço financeiro. No meio da crise, Zé topou assumir a presidência. Tínhamos um grupo articulado. Fechamos com ele. Nos matamos de trabalhar, mas sob sua liderança ousada, superamos tudo, por cima de muitos paus e milhares de pedras. Fomos campeões em 1886, Silvio Belém à frente do futebol. Foi nesse ano que Zé fincou a bandeira tricolor em plena ilha. Fato simbólico, inédito e irrepetível. Caprichos do destino. Fomos bi, com Gildo Vilaça e eu formando a dupla de dirigentes de futebol. A minha vida esportiva podia parar por aí. Era a consagração.
Muitos episódios aconteceram. Há muito o que contar. Por hoje, paro na frase ‘Presidente Campeão Arretado’, que os amigos encomendaram para um outdoor, registrando o feito de 1987. Viva Zé. Campeão arretado. No futebol e na vida.
*Publicitário e escritor
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