Sabe qual é uma das melhores notícias literárias de 2025? A Editora Bazar do Tempo vai publicar, neste maio menos calorento, o romance “A Insubmissa” (208 páginas, tradução e posfácio de Anita Rivera Guerra), da escritora uruguaia Cristina Peri Rossi, de 83 anos, radicada em Barcelona, desde 1972. Escapou de seu país para não ser presa pela cruenta ditadura.
O boom da literatura latino-americana parece unicamente masculino. Mas não é bem assim. Cristina Peri Rossi estava na Espanha, de onde o boom se espalhou pela Europa, graças, em grande parte, à agente literária Carmen Barcells, a gigante que patrocinou, entre outros, Gabriel García Márquez. Seus escritos fazem sucesso na Europa, menos, por enquanto, no Brasil.
Um de seus livros mais notáveis, “La Nave de los Locos”, ganhou o elogio de, entre outros, Julio Cortázar. De quem, por sinal, a autora uruguaia era excelente intérprete, além de amiga. O escritor argentino era, por assim dizer, “meio” apaixonado por Cristina Peri Rossi, que teve de avisá-lo de que preferia mulheres.
Cristina Peri Rossi é poeta, prosadora e crítica literária. Na Espanha, operou, às vezes sem conseguir, para publicar a obra de escritoras latino-americanas, como Clarice Lispector e Alejandra Pizarnik.
Leia release divulgado pela Bazar do Tempo
“‘A Insubmissa é o romance de formação autobiográfico de Cristina Peri Rossi, premiada autora uruguaia e uma das mais proeminentes escritoras de língua espanhola. Nele, acompanhamos sua infância e juventude, contadas a partir da estranheza e da perplexidade diante de um mundo sempre em conflito com os seus desejos: usar calças, não comer animais, ter uma biblioteca, escrever, amar outras meninas.
“Através de experiências familiares, fabulações e do tempo de um dolorido amadurecimento, se desenha uma personalidade contestadora e determinada a viver os seus desejos mais profundos a despeito das interdições impostas ao comportamento e ao corpo de uma mulher.
“Em meio a uma rica produção de ficção, poesia e ensaios, A insubmissa é a obra mais recente e reveladora da escritora, vencedora do prêmio Miguel de Cervantes e reconhecida como a única mulher do chamado boom da literatura latino-americana.”
Trecho de escrito de Cristina Peri Rossi
Mas um dia, farto dessa invasão permanente da sua biblioteca, meu tio me deteve, quando eu fugia do seu quarto com um livro embaixo do braço, e me perguntou:
― O que você quer ser quando crescer?
― Escritora ― respondi sem hesitação.
Ele fez uma pausa e depois continuou:
― Quantos livros escritos por mulheres tem nessa biblioteca?
― Três ― eu disse. ― ‘Um Quarto Só Seu’, de Virginia Woolf, uma antologia de poemas de Alfonsina Storni e outro de poemas de Safo.
― Você leu a biografia delas? ― perguntou.
― Sim ― respondi.
― Você leu como elas morreram?
― Se suicidaram ― eu disse.
― Pois aprenda a lição ― me disse ― : as mulheres não escrevem, e quando escrevem, se suicidam.
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