China força recuo dos EUA e expõe fracasso tarifário de Trump

Após dois dias de negociações em Genebra, na Suíça, China e Estados Unidos anunciaram nesta segunda-feira (12) um recuo coordenado nas tarifas que vinham intensificando a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. O acordo reduz drasticamente os encargos impostos desde abril e expõe o esgotamento da estratégia tarifária unilateral adotada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, desde seu retorno à Casa Branca.

O acordo prevê que os EUA reduzam as tarifas sobre produtos chineses de 145% para 30% por um período de 90 dias, enquanto a China diminuirá suas tarifas de 125% para 10% no mesmo período. Além disso, ambos os países se comprometeram a suspender medidas não tarifárias adicionais implementadas desde abril .

A nova trégua ocorre em meio a crescentes sinais de desgaste econômico nos Estados Unidos. A moeda norte-americana desvalorizou mais de 8% desde o início da guerra tarifária promovida por Trump e a economia.

Essa desvalorização do dólar, combinada com a contração de 0,3% do PIB dos EUA no primeiro trimestre de 2025, evidencia os efeitos adversos das políticas tarifárias agressivas. A instabilidade cambial e a desaceleração econômica reforçam a necessidade de soluções mais sustentáveis para as disputas comerciais entre os EUA e seus parceiros.

Em nota oficial, o vice-premiê chinês He Lifeng, que liderou a delegação de Pequim, descreveu o encontro como “profundo, franco e construtivo”, destacando que o resultado “representa um passo importante para resolver as diferenças por meio do diálogo igualitário e da cooperação mútua”.

Ele afirmou ainda que “as relações econômicas e comerciais entre China e EUA não dizem respeito apenas aos dois países, mas têm impacto direto na estabilidade da economia global”.

Bessent lidera guinada pragmática enquanto Trump se recolhe

A reviravolta nas negociações foi conduzida por Scott Bessent, secretário do Tesouro dos Estados Unidos, apontado como o adulto da Casa Branca. Enquanto Trump e o secretário de Comércio, Howard Lutnick, mantiveram silêncio público, coube ao chefe do Tesouro articular a retirada de tarifas, sinalizando uma inflexão na postura da Casa Branca.

Segundo o economista Yao Yang, ex-reitor da Escola Nacional de Desenvolvimento da Universidade de Pequim, em entrevista publicada pelo South China Morning Post, a imagem de um Trump estrategista é ilusória. “Ele não é tão profundo quanto imaginam. Age por impulso — um dia mira na Ucrânia por um Nobel, no outro volta-se ao Irã ou à Coreia do Norte”, ironizou. “As tarifas seriam para reindustrializar os EUA, mas não funcionaram em 2018”.

China usa racionalidade e evita concessões unilaterais

Pequim evitou narrativas de rendição e se apresentou como parte ativa do acordo. Ao contrário de concessões, adotou postura de cálculo e contenção. Além da suspensão tarifária, a China aceitou discutir compras ampliadas de produtos agrícolas, energéticos e aeronaves dos EUA, além de temas como fentanil, acesso a mercados e regulação tecnológica.

Bessent admitiu que o objetivo agora é um “acordo mais completo”, a ser discutido por uma comissão bilateral com reuniões alternadas em ambos os países. Ele também culpou a administração Biden por não implementar o acordo de Trump firmado no primeiro mandato, que agora voltaria a servir de base para as tratativas.

Recuo é visto como derrota estratégica dos EUA

A imprensa chinesa e economistas asiáticos celebraram o resultado como uma vitória de contenção. “A China não cedeu, mas forçou uma redução significativa das tarifas”, avaliou Zhiwei Zhang, do Pinpoint Asset Management, em entrevista ao The New York Times. “É um bom ponto de partida.” A Câmara de Comércio Europeia na China também saudou a medida, embora alertando para o caráter provisório do pacto.

A trégua de 90 dias, porém, deve gerar corrida por embarques comerciais, com pressão sobre a infraestrutura logística global. Mesmo com mercados reagindo positivamente — como a bolsa de Hong Kong, que subiu 3% — analistas alertam que a suspensão é temporária e as tensões estruturais persistem.

Trump busca capital político em meio a pressão eleitoral

Internamente, Trump tenta apresentar a negociação como vitória. Mas a base do novo acordo expõe seu fracasso anterior. Com eleições de meio de mandato no horizonte e pressões fiscais crescentes, a Casa Branca aposta agora em contenção de danos. Yao Yang avalia que a China tem mais margem de manobra neste momento. “Os EUA têm mais problemas internos. A pressão para entregar resultados recai sobre Trump”, disse.

A disputa tarifária havia sido relançada em abril, com Trump impondo tarifas de até 145% sobre produtos chineses. Pequim retaliou com 125%, além de embargos a empresas e exportações estratégicas. Agora, o gesto de trégua representa menos uma resolução definitiva do conflito e mais um recuo tático diante de uma crise sem solução simples.

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