Experiências e desafios da primeira maternidade

Em 1908, Anna Jarvis, uma mulher dos Estados Unidos, resolveu homenagear a memória de sua mãe, Ann Jarvis, dedicando-lhe uma data especial.Em 1914, a data em comemoração às mães se tornou oficial nos Estados Unidos. A celebração se espalhou pelo mundo e chegou ao Brasil em 1932, por decreto do então presidente Getúlio Vargas.Desde então, todo segundo domingo de maio o dia é mais doce, dedicado a quem tem o “poder” de ganhar os sorrisos mais sinceros, receber e dar o amor mais puro: as mamães. Para homenageá-las, a reportagem entrevistou mulheres que compartilharam as emoções e desafios de serem mães pela primeira vez.

Isabela Spinassé Grazziotti abriu mão do emprego fora de casa para se dedicar a João

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Kadidja Fernandes/ A Tribuna

Há seis meses, Isabela Spinassé Grazziotti, 30 anos, mãe do João Felipe Grazziotti De Angeli, tem vivido essa experiência. Ela conta que nunca se imaginou como mãe, mas depois de ter João Felipe sua vida mudou, literalmente!Isabela abriu mão do emprego fora de casa para cuidar exclusivamente do pequeno. “Hoje, faço serviço administrativo para a empresa do meu marido e tenho uma loja on-line no Instagram. Pela saúde dele e também pelo valor, decidi não colocá-lo em creche”.Logo após o nascimento de João, a empreendedora teve de vencer os desafios da amamentação. “Tive de contratar um consultora, fazer laser no seio, amamentar João por translactação (técnica em que o leite é transportado pela sonda, de um recipiente, até a boca do bebê), até meu peito melhorar”.Não ser mais “dona do tempo” é outro desafio que Isabela está aprendendo a lidar, como mãe de primeira viagem. “Tem dias que não consigo fazer nada, somente dar colo e peito”.E apesar de toda mudança física que a gestação causa na mulher, para Isabela as principais transformações foram no sentimento. “Além disso, também estou atenta a tudo. A gente se preocupa mais”.Agora, Isabela está em uma nova fase com o filho. “Estamos no início da introdução alimentar. Está sendo um desafio, mas a parte mais desafiadora é deixar de trabalhar fora e se dedicar somente em casa”, destaca.“Minha alegria é que João é um bebê muito tranquilo, que já acorda sorrindo e de bem com tudo. É uma felicidade todos os dias ter esse sorrisinho”, derrete-se a mãe.“A vida não é a mesma, é melhor!”

Cíntia Raquel Timm, publicitária, mãe de Lívia, de 11 meses

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Jeane Baiense/ Divulgação

Seis anos depois de casada, aos 29 anos, a publicitária Cíntia Raquel Timm começou a tentar engravidar. Só que aos 30 anos ela sofreu um aborto. Aos 31, passou por uma cirurgia de emergência devido a um abscesso no ovário.“Ali, já não conseguiam assegurar como estava a minha fertilidade. Descobri em seguida a endometriose, com obstrução das duas trompas e outros comprometimentos. A alternativa era coletar óvulos e, em seguida, passar por uma cirurgia. Aos 32 anos, coletei óvulos e fertilizamos, fiz a cirurgia de endometriose e 4 meses depois, implantamos dois embriões”, lembra Cíntia, que hoje tem 34 anos.No entanto, dos dois, apenas um se desenvolveu: Lívia, que hoje tem 11 meses. “Todo o processo da descoberta da endometriose até o nascimento da Lívia demandou muitas medicações e cuidados, mas estávamos muito felizes com essa realização e soubemos aproveitar cada etapa”.Pós-parto, os primeiros 15 dias dos pais de primeira viagem, a nova vida a três, a primeira febre da bebê e o retorno ao trabalho foram alguns dos desafios que Cíntia teve de aprender exercendo sua nova função. “Mas acredito que o aleitamento foi a questão mais difícil. Foram meses até ajustar tudo e entender que vontades e necessidades são coisas diferentes”.“A vida não é a mesma depois que nasce uma mãe, é melhor! Vê-la se alimentando e se desenvolvendo bem; sorrindo ao me ver chegar, é uma satisfação imensurável”, afirma.“Prioridades mudaram, mas não deixei de ser eu mesma. Encontrar a mãe, esposa e profissional pode ser um desafio no começo, mas tudo se ajeita. Aprendi a valorizar cada momento com ela”.Comerciante engravida após sofrer 4 abortosA comerciante Mayara Nascimento Agnez Garcia, de 38 anos, sempre sonhou em ser mãe. Em 2019, ela e seu marido começaram a tentar engravidar e logo veio o sonhado positivo. Após algumas semanas, ela teve o primeiro aborto.Em 2020, engravidaram novamente, mas ao fazer o primeira ultrassom, o que nenhuma mãe espera aconteceu: não era possível ouvir o coração do embrião bater.

Mayara Garcia, comerciante, mãe de Guilherme, de 1 ano e 5 meses

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Acervo pessoal

“Para piorar a situação, além do embrião estar sem batimentos, eu tinha desenvolvido uma espécie de tumor placentário, a tal mola gestacional, que se não fizesse logo um procedimento, poderia até evoluir para um câncer”.Após um ano de tratamento, em 2021 Mayara engravidou novamente, mas perdeu. Ela engravidou mais uma vez, mas a gestação não foi à frente.Mas, em 2023, Mayara e o marido conseguiram engravidar e, orientada por uma especialista em reprodução assistida, ela passou a fazer uso de injeções para “segurar” a gestação.“No dia 15 de novembro de 2023, Guilherme nasceu, lindo, saudável, perfeito, enchendo o meu coração de amor, de um tanto que não dá para explicar”.Mesmo com todo amor, Mayara lembra que não foi fácil passar pela fase de privação de sono logo que o filho nasceu. Hoje, que Guilherme tem 1 ano e 5 meses, os desafios são outros. “Meu principal desafio na maternidade é ser multitarefa. A gente quer dar conta de tudo e essa conta não fecha. Sigo tentando equilibrar os pratos. Mas minha prioridade é ele”, avisa.“A maternidade ensina a olhar para o próximo com mais amor. Aquela pessoa ali, é o filho amado e desejado de alguém, sabe? E você passa a tratar o outro com mais gentileza, na esperança de tratarem o seu filho da mesma forma”.“Minha filha me ensinou que a vida pode ser linda”Para a arquiteta Mariana Brilhante, de 29 anos, o sonho da maternidade veio acompanhado de muitos desafios e aprendizados. Maria, sua filha de dois anos, nasceu prematura extrema, com apenas 27 semanas e 675 gramas.Mariana conta que a família viveu meses intensos na UTI, acompanhados de medo, incerteza, mas também de muita fé e amor.“Aprendi com ela, desde os primeiros instantes, o que é coragem. A nossa jornada começou com muitos obstáculos, mas também com muita força e esperança. Ela é meu maior milagre”, orgulha-se.“Maria me ensinou que a vida pode ser linda, mesmo com cicatrizes, e que toda vida merece ser vivida com dignidade, respeito e carinho”, afirma a mãe.

Mariana Brilhante e Maria, de dois anos, que nasceu com apenas 27 semanas e 675 gramas: família viveu momentos de medo, mas também de muita fé e amor

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Kadidja Fernandes/ A Tribuna

Para a arquiteta, entre os diversos desafios que a maternidade tem, a parte mais difícil foi aprender a viver com o medo constante. “Medo de perder, de não dar conta, de não saber o que fazer. A maternidade atípica é intensa, delicada e cheia de incertezas”.Algo tão simples para um bebê é uma das dores mais profundas de Mariana: nunca ter ouvido o choro da Maria.“A gente ainda guarda como sonho. Mas aprendi que o silêncio também pode ser cheio de amor e que há muitas formas de sentir e de comunicar. Ver a Maria lutar para respirar, se alimentar, se desenvolver, coisas que muitos veem naturalmente, exige uma força que a gente só descobre vivendo”.A prematuridade extrema trouxe várias consequências para a Maria, principalmente nos pulmões. Ela passou por internações, ficou entubada por um longo período e, por isso, hoje utiliza traqueostomia.“Também precisou fazer várias cirurgias: no coração, nos olhos, contra o refluxo, reconstrução da traqueia e atualmente se alimenta por uma gastrostomia, sonda colocada diretamente na barriguinha”.A cada dia, Mariana conta que aprende algo novo com a filha. “Ela me ensina todos os dias a ter fé, a valorizar o agora, e a encontrar felicidade mesmo em meio às batalhas. Nada é mais bonito do que vê-la feliz, mesmo com as limitações”.“A Maria me transformou por inteiro. Antes dela, eu não imaginava do que era realmente capaz. Hoje, sou mais forte, mais sensível e muito mais consciente do que realmente importa na vida”.Apoio deixa função mais leveEquilibrar o papel de mãe, mulher, esposa, dona de casa e ainda profissional requer muito preparo mental. Por isso, uma rede de apoio pode ajudar a aliviar essa função, afirmam especialistas.“O que torna a maternidade mais leve é o apoio. Não apenas no cuidado com o bebê, mas no cuidado com a mãe. É preciso um ajuste familiar e coletivo para que ela não seja sobrecarregada por múltiplos papéis, sem rede de apoio”, destaca Caroline Ramalho, psicóloga perinatal.Segundo a especialista, é preciso que a mãe reconheça suas necessidades individuais e redistribua tarefas. “Isso é essencial para que ela viva esse momento com mais equilíbrio e menos culpa”.A psicóloga perinatal e parental Nayara Teixeira analisa que a maternidade é uma experiência que traz uma série de mudanças físicas, psicológicas e sociais para a mulher.“Neste processo, há ganhos e perdas, dores e alegrias, desafios e aprendizados. É comum imaginar que tornar-se mãe tem a ver apenas com sentimentos agradáveis, como amor e felicidade. Porém, como em qualquer experiência humana, na maternidade também pode haver raiva, medo e tristeza”, explica Nayara.“Uma visão romantizada acerca da maternidade muitas vezes impede que a mulher assuma para si e para os outros toda essa gama de sentimentos, inclusive dificultando que ela busque apoio quando está em sofrimento”.O assunto é tão importante que este mês é dedicado à saúde mental das mães, o Maio Furta-Cor. “No maternar, haverá momentos bons e ruins, sentimentos agradáveis e desagradáveis na interação mãe-filho. É preciso cuidar de quem cuida!”, alerta Nayara.A psiquiatra Francislainy Dal’Col chama atenção ainda para o fato de que no pós-parto é muito comum a mulher não se sentir boa o suficiente para cuidar do bebê. “Esse período mais intenso de emoções é chamado de baby blues. Isso é normal”.

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