O segredo andino de Copacabana

Copacabana! O nome já traz à mente a batucada, o sol forte, o mar convidativo e, claro, o samba. Mas a verdade é que existe um mistério guardado, um segredo que o tempo teima em esconder. 

Curiosamente, a origem desse famoso pedaço do Rio não está nas areias finas ou nas ondas do Atlântico. As raízes dessa história estão bem longe daqui: lá no alto do altiplano boliviano, na beira do lago Titicaca, o lago navegável mais alto do mundo.

É de lá que vem Copacabana, o nome de uma pequena cidade que é hoje a capital da província de Manco Cápac, na Bolívia. Pense num porto importante às margens do lendário Titicaca, pertinho da imponente Cordilheira Real. 

Diz a lenda que foi nesse lugar sagrado que Nossa Senhora se mostrou como a Virgem de Copacabana, a santa que é padroeira da Bolívia e um símbolo de fé para muitos.

Analisando a palavra, “Copacabana” vem de um termo indígena, provavelmente das línguas aimará ou quéchua. A união de “copa” e “caguana” forma um nome que pode significar algo como “lugar luminoso” ou “resplandecente”. 

Mais que um som agradável, essa palavra carrega uma espiritualidade e um brilho que vêm de muito tempo atrás.

A fama dos milagres da Virgem de Copacabana se espalhou por toda a América. Foi assim que, lá pelo século XVII, alguns comerciantes andinos, vindos da Bolívia e do Peru, trouxeram uma imagem da santa para o Rio de Janeiro. 

A ideia era construir um altar para a santa que eles tanto admiravam. E assim fizeram: ergueram uma capela sobre a pedra que separa Copacabana de Ipanema. A capela até durou um tempo, mas acabou caindo. A imagem sumiu. A santa, quase esquecida. Mas o nome… ah, esse ficou! E que nome!

Copacabana resistiu ao tempo, ao concreto, à especulação imobiliária, à violência. Virou cartão postal, um símbolo do Brasil e, por que não?, uma personagem. 

Copacabana tem sua própria personalidade. Muda de humor, tem seus momentos bons e ruins, mas continua ali, olhando para o mar com aquele jeito sedutor de quem diz: “vem cá, tenho mais histórias para te contar”.

Ícone entre os ícones, o Copacabana Palace se mantém imponente desde 1923, com sua elegância clássica. Apesar das diárias poderem passar dos R$ 30 mil, ele continua ali, discreto, firme, cercado por uma vizinhança bem variada: prédios mais altos, construções antigas, algumas até de gosto questionável. 

E um pouco mais adiante, o Hilton, uma caixa de vidro moderna que parece ter pousado ali como uma nave espacial no meio da paisagem de Burle Marx. Um contraste grande. Mas Copacabana sempre soube lidar com essas diferenças.

E o calçadão? Ah, o calçadão de Copacabana! As ondas que vemos ali não vêm do mar, mas nascem da terra, nas pedras portuguesas que formam um desenho em preto e branco. Cada pedra foi colocada com cuidado, uma a uma, como se a cidade sussurrasse poesia com os pés. 

Essas pedras chegaram com os portugueses, atravessaram o Atlântico como tantas outras coisas da nossa cultura. E hoje formam um caminho ondulado por onde passam moradores, turistas, vendedores, cachorros, ciclistas e sonhos. É arte de rua, é um chão que tem história, é memória viva sob o sol.

Copacabana é mais que um bairro. É uma alma. É um espelho do Brasil, com suas belezas, seus problemas e um certo ar de decadência que teima em ser charmoso. Teimosa, resistente, Copacabana permanece. E se hoje encanta pela energia, pelo movimento, pela vida que pulsa ali, ainda guarda no nome um brilho que vem de muito longe.

Porque a palavra Copacabana tem ritmo. Tem promessas. E esconde em seu som tropical um segredo que vem das alturas, uma herança boliviana, uma santa que viajou muito. Veio dos Andes e encontrou no Brasil um novo lar: a areia quente da Zona Sul.

Viva Copacabana! Andina, brasileira, eterna. 

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