O eleitorado do PT é mais lulista do que petista e assim partido fica sem projeto político

O Partido dos Trabalhadores cresceu no Brasil na esteira da vocação eleitoral e conseguiu se institucionalizar. Após o primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o partido se profissionaliza e começa a deixar de lado a conexão com o seu eleitorado. Pela quinta vez no comando do Palácio do Planalto o partido patina cada vez mais em lidar melhor com as novas tecnologias, principalmente nas redes sociais, e é muito letárgico ao gerenciar crises geradas pela extrema direita como a do PIX e agora do INSS.

Lula chega neste terceiro governo com bases muito frágeis e o que acontece ao longo desses anos, principalmente depois do Lula ganhar as eleições de 2002, o PT para de trabalhar as militâncias. Ele substitui paulatinamente o militante pelo eleitor. O cientista político, André Singer, fala que existe uma divisão entre petismo e lulismo que aconteceu por volta de 2006.

Antes de chegar ao poder, o PT era muito associado aos grandes centros urbanos do Sul e do Sudeste e a defesa dos trabalhadores dessas regiões, hoje o PT é muito associado ao Norte e ao Nordeste, isso por conta das políticas assistenciais. Porém justamente isso, políticas que ampliaram o acesso ao crédito, valorização do salário mínimo, transposição do Rio São Francisco, Bolsa Família. Isso tudo fidelizou o eleitorado na figura do Lula, mas é o eleitorado que não tem ou não conhece a ideologia de esquerda.

Isso é notável nas pesquisas eleitorais na véspera da prisão do presidente Lula, em 2018. Os eleitores que diziam votar em Lula quando questionados pela primeira vez em uma segunda questão, colocando que o então ex-presidente não fosse candidato por estar preso, transferiam o seu voto para Jair Bolsonaro. Ou seja, esse eleitor não tem ideologia de esquerda, mas sim uma fidelidade às políticas do Lula. Isso, Singer chamou de lulismo.

O PT, agora, coloca um projeto de poder à frente do projeto político que foi o que estruturou suas bases. A ânsia por se manter no poder o partido acaba fazendo o papel de fogo amigo e as metas fiscais são o grande ponto de discordância dentro da legenda.

Nas bases regionais o PT perdeu mais. Os grandes centros, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul, as bases da esquerda encolheram e o eleitorado acabou consolidado em um perfil de centro e direita, espaço perfeito que a extrema direita achou para fortalecer o seu discurso, muitas vezes um discurso de ódio e raso de argumentos.

Em Goiás, por exemplo, o grupo já era frágil desde a reeleição do prefeito Paulo Garcia, que conseguiu permanecer no Paço Municipal na esteira do capital político do ex-prefeito Iris Rezende, após deixar a Prefeitura para tentar disputar o governo de Goiás em 2010. Garcia fez uma administração muito caótica com uma relação turbulenta com a Câmara Municipal. Com uma articulação política incapaz de abrir um caminho para negociar soluções com o legislativo municipal, ele também enfrentou um problema sério na coleta de lixo, que foi quando Goiânia enfrentou a pior crise do lixo da história.

Depois disso o PT enfrentou sua pior crise e permaneceram no cenário político, ou seja, com mandato, apenas aqueles que tinham o seu nome e trabalho à frente do partido. Em Goiás os nomes que tinham mais destaque à época eram do ex-prefeito de Anápolis, Antônio Gomide; do deputado federal Rubens Otoni e da deputada federal, Adriana Accorsi.

O PT em Goiás nunca teve muito sucesso a não ser pelas vezes que governou Goiânia com Darci Accorsi, Pedro Wilson e com Paulo Garcia, mas a nível estadual nunca conseguiu estruturar um projeto político a longo prazo. As divisões internas sempre deixaram o partido à margem de um projeto consistente e é por isso que em Goiás não se vê a esquerda ou os sociais liberais do PT estruturando e bancando um projeto político.

Outro exemplo dessa pouca vontade foi a eleição de 2024. A campanha foi desastrosa para quem acompanhou de perto, porque entre todos os sete candidatos, nenhum tinha uma proposta ou uma análise profunda sobre a cidade, sobre o que ela precisava. Todas as propostas foram muito genéricas, ou seja, poucos dados e muitos discursos cheios de rodeios e poucos levantamentos técnicos sobre a cidade, que colocassem as propostas em um campo compreensível e palpável. Durante a campanha não se ouvia dados sobre déficit de vagas na rede municipal de educação, fila de consultas e capacidade de atendimento da estrutura de saúde da capital, por exemplo. No meio disso tudo ficou claro que a candidata do PT, Adriana Accorsi não queria ser candidata muito menos prefeita, por mais que ela tenha sido a primeira a colocar seu nome na disputa. A questão é mais sobre sobrevivência.

A esquerda tem um eleitorado consolidado em Goiás. Nas eleições de 2022 os candidatos da esquerda ao governo de Goiás obtiveram, somados, 275.531 votos. A candidata do PCdoB para o Senado, Denise Carvalho, conseguiu dividir ainda mais os votos com uma pulverização de candidatos da base do governador Ronaldo Caiado. Ela teve 299.013 votos. Ou seja, os votos do partido têm condições de mudar o jogo de uma eleição em um segundo turno. Foi o que aconteceu nas eleições de 2024. O prefeito Sandro Mabel, que terminou o primeiro turno em segundo lugar, conseguiu virar o jogo com os votos de Adriana Accorsi, que recebeu 168.145 votos.

Ronaldo Caiado construiu um governo forte. Com muita autoridade política ele estruturou uma base ampla que vai desde a grande maioria dos prefeitos do estado e também na Assembleia Legislativa. Toda essa estrutura acaba diminuindo a voz da oposição, porque, vencida pelo cansaço, nenhuma obstrução funciona no legislativo.

Desde o início do segundo mandato o que se vê é uma oposição mais quieta sem falar muito contra o governo. A opção pela negociação tem sido uma saída adotada sem virulência e desmoralização, mas democracia forte precisa de uma oposição contundente, pois é ele que acaba pautando as ações do governo, e acima de tudo construir um projeto a longo prazo para contribuir de verdade com a população de Goiás e do Brasil.

Leia também:

O Lula de ontem sob a rédea curta de hoje

O post O eleitorado do PT é mais lulista do que petista e assim partido fica sem projeto político apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.